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Viver em atitude de compaixão

O leproso suplicou a Jesus: “Se queres, tens o poder de purificar-me. Movido de compaixão, Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: Eu quero, sê purificado” (Mc 1,40-44).

Quase sempre, os que se dirigiram a Jesus foram pessoas necessitadas de cura material, física, afetiva, espiritual. Nele viam alguém que jamais excluía. Era aquele que sempre fazia o bem, o grande consolador movido pela compaixão, tão necessária na Galiléia, terra de alguns ricos e de muitos pobres, cuja miséria se revela em tantos cegos, surdos, paralíticos, doidos, famintos de pão e de atenção. Nunca Jesus os decepcionava, e deixou claro tanto que sua missão era junto deles e dos pecadores quanto que essa missão lhe fora confiada pelo Pai. Veio para que todos descobrissem como e quem era seu Pai e, desse modo, pudessem viver a felicidade de filhos.

Eram muitos os leprosos na Galileia e na Samaria, e a doença se propagava mais entre os desnutridos e famintos e seu sofrimento se acentuava por viverem abandonados, isolados da comunidade para não contaminarem ninguém. Espantavam as pessoas por seu aspecto mutilado, pelo mau cheiro que exalavam suas feridas.

Naquele dia Jesus tinha diante de si um leproso. Sua atitude rompeu com a antiga Lei, que mandava excluí-lo da comunidade e proibia que fosse tocado, a fim de se evitar a contaminação. O pobre leproso se dirigiu a Jesus, contrariando a lei da separação, porque confiava e tinha certeza que ele era o único que não o rejeitaria. Foi acolhido por Jesus que, antes de curá-lo da lepra, estendeu-lhe a mão, tocou-o carinhosamente, como que assumindo para si a impureza da lepra. Jesus agiu movido pela compaixão. Se o leproso já sofria, por que acrescentar-lhe ainda a dor do desprezo, o sentimento de nojo? E ele ficou curado.

 

Preocupados em nos mantermos limpos, passamos ao largo dessa procissão de sofredores, julgando que nada temos a ver com eles

Em nosso tempo, graças a Deus e à ciência, a lepra deixou de ser uma ameaça, mas temos outros tipos de leprosos, diante dos quais assumimos atitudes talvez mais cruéis que as da antiga Lei. Procuramos nos refugiar em nossa segurança, em nossa pureza, evitando a contaminação com essa gente impura. São os pobres, os alcoólatras, os drogados, as prostitutas, os meninos de rua, os travestis, os assassinos e estupradores, os idosos abandonados, os portadores de deficiências físicas ou mentais e tantos outros leprosos criados pela nossa sociedade.

Preocupados em nos mantermos limpos, passamos ao largo dessa procissão de sofredores, julgando que nada temos a ver com eles ou que eles estão pagando pelo que aprontara. Perdemos o “dom das lágrimas”, a capacidade de ter compaixão, chorar pelas vítimas de todas as violências e que vão sendo escondidos na frieza dos dados estatísticos.

Os leprosos das violências de hoje têm duas atitudes: se percebem que somos capazes de compaixão, aproximam-se de nós; e, se não se aproximam, é porque sabem que em nós encontrarão a distância, o medo, o desprezo. Com perfeição, o sofredor capta a alma dos misericordiosos. Se contempla em nós a face compassiva de Jesus, busca acolhida, perdão, palavra de consolo, esmola, ajuda para superar a situação. Normalmente, quem já passou pelo sofrimento purificador assume a atitude de acolhida, de misericórdia. E quem experimentou a misericórdia de Jesus sabe ser misericordioso.

Muitas vezes, nós somos os leprosos. O egoísmo, a impureza, a violência, o rancor vão-nos enchendo de chagas, de feridas, de tumores dos erros passados. Os outros não nos reconhecem mais. Nem nós nos reconhecemos! Passamos a agir friamente, vingamo-nos com facilidade, não sabemos mais chorar diante do sofrimento alheio, queremos tudo para nós, ficamos insensíveis à realidade. Uma verdadeira lepra espiritual e afetiva nos deixa incapazes da fraternidade, do amor.

Se quisermos, basta pedirmos a Jesus: Senhor, eu quero ser limpo. E ele sempre responderá: Eu também quero. Sê limpo! Renasceremos. Nossa face se renovará. Conseguiremos ver o mundo e as pessoas com olhos de criança admirada. Vale a pena acreditar que podemos ser diferentes. E Jesus quer que o sejamos.

E quanta felicidade germina em nós se sentimos que os outros também nos dizem: Eu quero que você seja limpo! Recuperamos a coragem de viver.

Não há gratidão maior do que olhar compassivamente os sofredores espalhados pela estrada de nossa vida. E, sempre, ter a alegria de neles ver os preferidos do Pai de Jesus.

Pe. José Artulino Besen



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