Maristela Costa Martiniano[1]
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No dia 1º de julho de 1980, Belo Horizonte foi agraciada com uma vista muito especial. O pontífice São João Paulo II teve uma passagem calorosa pela cidade, cheia de significação e fé. Karol Wojtyla, como foi batizado, em sua juventude dedicou-se aos estudos literários e ao teatro. Contrariando as adversidades da guerra, que tendem a tornar os homens mais frios perante suas atrocidades, Karol Wojtyla voltou-se para o chamado de Deus. Foi ordenado padre aos 26 anos, posteriormente estudou em Roma a fim de aperfeiçoar os estudos em Teologia. Foi bispo auxiliar e depois arcebispo na Cracóvia. Foi feito cardeal por Paulo VI em 1967, e no dia 16 de outubro de 1978 foi eleito Papa.
As ruas da capital mineira encheram-se de pessoas esperançosa de ver, mesmo que de longe o Papa carinhosamente chamado de João de Deus, fruto de seu carisma e caridade. As solenidades de recepção iniciaram no Aeroporto da Pampulha e o cortejo seguiu pela Avenida Santa Rosa, Viaduto São Francisco, Conjunto IAPI, Praça Rio Branco, Praça Sete, Praça Tiradentes, Praça do ABC, Praça Milton Campos Praça, Praça da Bandeira chegando a Praça Israel Pinheiro. O automóvel conhecido como Papamóvel seguiu a Avenida Afonso Pena até o bairro Mangabeiras, na Praça João Pinheiro, que após a visita de São João Paulo II foi rebatizada simbolicamente como Praça do Papa.
A vinda do Papa ao Brasil contou com a colaboração de várias entidades e setores oficiais dos três níveis do governo. E contou com a união de vários setores oficiais dentro dos três poderes. A Arquidiocese de Belo Horizonte em consonância com as diretivas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) organizou uma grande campanha para recepção do pontífice nas paróquias e comunidades do episcopado. A campanha “Ele Chega Até Você – Papa João Paulo II Belo Horizonte, dia 1 de julho de 1980” foi pensada e difundida nos principais meios de comunicação, com publicação distribuída entre os fiéis com o roteiro de deslocamento da comitiva e instruções de como proceder quanto à escolha do local para avistar Sua Santidade, enfatizando o cuidado com os idosos, enfermos e crianças que por ventura estivessem no cortejo.
A campanha visava atenuar os ânimos, primando pela organização e alertando a comunidade católica que foi desenvolvido um esquema de segurança que contemplava o pontífice, sua equipe de apoio e todos os fiéis presentes. Induzindo a calma, pautada na fé cristã e ressaltando o caráter humano que São João Paulo II, sempre teve consigo. Com essa publicidade a Arquidiocese e todos os envolvidos tiveram êxito na recepção histórica.
Aos pés da Serra do Curral, a homilia proferida pelo Papa foi voltada principalmente aos jovens, que na década de 80 eram grande parte da população brasileira. No sermão lembrou de sua própria juventude, dos ideais e princípios que levou consigo até o fim da vida. Falou sobre a justiça social baseada nos direitos dos indivíduos e que cada uma dessas pessoas é responsável pela sua comunhão com Deus. Falou sobre a alegria de estar entre o povo brasileiro.
“…meu desejo seria o de apertar as mãos de cada um de vocês e falar com cada um. Em todo caso é a cada um que sigo dizendo a todos: jovens de Belo Horizonte e de todo Brasil, o Papa quer muito bem a vocês! O Papa não os esquecerá nunca mais! O Papa leva daqui uma grande saudade de vocês.
Recebam, queridos amigos a Benção Apostólica que vou dar ao final desta Missa, como sinal da minha amizade e confiança em vocês e em todos os jovens deste país.
Antes de passar à Liturgia Eucarística, propriamente, só mais uma palavra: só o amor constrói, só o amor aproxima, só o amor fez a união dos homens na sua diversidade.” [2]
Durante a Missa houve a Procissão dos Participantes, uma forma simbólica de representação dos vários setores em que acontece a vida e se trabalha a evangelização. E contou com a presença das seguintes pessoas: artesã de Itaguara, artesão de Araçuaí, presidiário, tecelão de Juiz de Fora, Irmã Matilda (polonesa e voluntária na Santa Casa), estudantes e funcionários da Universidade Católica de MG, operário de montagem do altar, mineiro da Mina Morro Velho, criança do hospital da Baleia, lavrador e pecuarista do Triângulo Mineiro, garimpeiro de Diamantina, operário de plantação de café, operário em mineração, hansenianos, casal de idosos e moça cega do Instituto São Rafael. Cada um entregou nas mãos do Santo Padre presentes simbólicos. Ao final, Monsenhor Juvenal Honório dos Santos leu um trecho sobre a entrega ao serviço cristão dos irmãos na igreja.
Findas as solenidades o Papa se retirou da praça e se dirigiu ao Palácio Cristo Rei. Almoçou, recebeu autoridades eclesiásticas do Estado. Na tarde do mesmo dia, deixou Belo Horizonte rumo ao Rio de Janeiro e ainda passaria por mais 11 cidades no Brasil levando a Palavra de fé.
Foram 12 dias de viagens pelo Brasil e ao retornar à Roma o embaixador do Brasil no Vaticano, Espedito Rezende, relatou a conversa que teve com o Papa sobre as cidades visitadas. Na ocasião, o Papa teria destacado a Missa em Belo Horizonte pela grande concentração humana, pelo entusiasmo e também pelo fervor religioso, sentiu que o povo acompanhou a Missa e seguiu as orações.
O Papa São João Paulo II faleceu em 5 de abril de 2005 e em 2014 foi canonizado. Deixou-nos seu legado pautado em direitos humanos e fé cristã. Belo Horizonte, mesmo 40 anos após da vinda do pontífice, se sente honrada por tê-lo recebido em solo mineiro.
Referência:
Documentos primários (textual, iconografia) referentes à visita do Papa João Paulo II 1980 – Arquivo Arquidiocesano de Belo Horizonte – AABH.
[1] Graduada em Arquivologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2014). Integra o corpo técnico de colaboradores do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte/Arquivo Arquidiocesano de Belo Horizonte.
[2] Extraído de: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/homilies/1980/documents/hf_jp-ii_hom_19800701_youth-brazil.html acesso em outubro/2021.