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Violência: falta-nos um representante de Pai

 

Não há como não se indignar ou pelo menos como não se preocupar diante de tanta impunidade relativa à violência nos dias atuais. Eu creio que essa aparente passividade do cidadão frente às agressões sofridas na sociedade e na família gera nele respostas também agressivas e violentas de maneira voluntária, involuntária ou apenas irresponsável.

Sabemos que todo ser humano possui dentro de si um potencial agressivo, que pode ser responsável por pulsões produtivas e criativas. Considerando que tal potencial é natural, “herdado” de ancestrais, e que é do bem, ele estaria sempre a serviço da pessoa para aliviar os conflitos, vencer os medos, fazer progredir e crescer.

Fica então a pergunta: por que essa pulsão tão positiva é aumentada e desviada para o mal? A resposta não é tão simples, mas é possível uma reflexão. Historicamente, poderíamos pensar na necessidade de o homem se relacionar com um representante de pai forte, protetor e detentor do poder da lei.
 

É profundamente preocupante pensar que a pulsão agressiva (do bem) só se transforma no mal quando a pessoa se percebe sem leis, limites e desamparada na maioria dos casos

Os personagens bíblicos Adão e Eva, no momento em que conheceram o bem e o mal, já não pertenciam mais ao Paraíso, e sim estavam à mercê das agruras da vida: sofrimentos físicos, angústias, medos e ansiedades. Começava aí a necessidade de outra lei para suportar viver as novas ordens não paradisíacas. O desamparo naquele momento é simbolizado pela vergonha e pelo arrependimento. Desobedeceram a uma grande lei e foram punidos por isso.

Quão pedagógico é pensar: infringir uma lei e ser sancionado por isso. É prazeroso e acolhedor pensar num pai forte, poderoso e que sabe colocar a lei e os limites e cobrar carinhosamente por isso. Um pai organizador.

Desde sempre o homem precisou desse pai forte, representante da lei e do amparo. Paradoxalmente, a cultura tem convivido com representantes paternos fracos, com leis ambíguas e tendências corporativas.

Entre as várias causas subjetivas, principalmente as patológicas, que não menciono nesse texto, o atual caos da violência, no meu entendimento, é gerado pela falta de leis, limites, proteção e principalmente exemplos de um representante forte. Passa pelo cultural, social e familiar. É profundamente preocupante pensar que a pulsão agressiva (do bem) só se transforma no mal quando a pessoa se percebe sem leis, limites e desamparada na maioria dos casos.

A família, como principal centro de orientação e educação dos cidadãos, também necessita dessa lei maior e, neste momento, encontra-se às escuras e desamparada, sem referências. A cultura pede socorro, principalmente aos governantes, por mais respeito e maior responsabilidade social. 

 

Sônia Eustáquia da Fonseca
Psicóloga Clínica

 



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