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Vetocracia

Nunca foi tão fácil apoiar uma boa causa. Ou melhor, nunca foi tão fácil apoiar qualquer causa. Basta participar das redes sociais e aproveitar o cardápio enorme de opções de causas a serem apoiadas. Escolhida a causa, basta um clique e lá vai a curtida eletrônica.

Entretanto, o grau de facilidade no apoio talvez seja diretamente relacionado ao grau de compromisso deste mesmo apoio. Quanto mais fácil, mais simples, menos custoso o apoio, menor o grau de compromisso ou a quantidade de energia que os apoiadores colocam à disposição destas causas.

Possivelmente a força de uma ideia ou movimento não possa ser necessariamente medida pela quantidade de curtidas, ou assinaturas virtuais. Modificar, reformar, melhorar, ou corrigir exige mais que boa vontade digital.

Não é novidade que educação é prioridade. Que saneamento básico é necessidade. Ou que crescimento e distribuição de renda são vitais. Apesar disso, entra ano, sai ano, vem eleição, vai eleição, e os progressos são modestos, insatisfatórios. De modo geral, existe consenso quanto ao diagnostico daquilo que deve ser feito ou atacado.

Dá sempre para generalizar ou individualizar a culpa, dependendo do gosto e da cara do freguês. Mas permanece o mistério. Se existe consenso sobre a necessidade, urgência e importância de um mesmo punhado de temas nacionais, faltam explicações para a inação.

 

Dado que satisfazer todos, todo o tempo,
em relação a todos os assuntos é impossível,
o imobilismo é o único resultado possível Transforma cada individuo em vitima
de vetos decisórios

Um dos fatores, embora certamente não o único, parece ser a extrema fragmentação e complexidade do processo decisório de toda politica publica. Por motivos bons ou ruins, tudo parece estar condenado à discussão superficial, estéril, e eterna.

Parece não existir força com poderes suficientes para implantar soluções, mas, por outro lado, sobram forças capazes de impedir a adoção de qualquer ação. É a manifestação clara de extrema fragmentação de poder que confere a cada segmento ou interesse, nenhum poder de aprovar, mas toda a capacidade de negar.

Fica estabelecido um paradoxo onde todos reconhecem a urgência, necessidade e o interesse coletivo em reformas e mudanças, mas ninguém consegue conduzir ou tomar decisões importantes sem que sejam feitas concessões que, de tão numerosas e diversas, derrotam, desvirtuam e destroem o conteúdo das mesmas reformas e mudanças que pretendiam viabilizar.

Dado que satisfazer todos, todo o tempo, em relação a todos os assuntos é impossível, o imobilismo é o único resultado possível. Transforma cada individuo em vitima de vetos decisórios, de origem duvidosa ou não. Instaura uma vetocracia.

 

Elton Simões mora no Canadá
 Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV);
MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria



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