Durante o primeiro dia de reunião do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), nesta quarta-feira, dia 22 de junho, os bispos refletiram e deliberaram sobre importantes questões da vida brasileira. No final da tarde, o Conselho Permanente enviou a mensagem “Um clamor pela Paz” ao povo brasileiro.
Proteção da Criança e do Adolescente
O bispo de Joinville (SC), presidente do regional Sul 4 da CNBB e da Comissão Especial para a Proteção da Criança e do Adolescente, dom Francisco Carlos Bach, apresentou questões relativas ao trabalho da Comissão Especial para a Proteção da Criança e do Adolescente da CNBB. Dom Francisco informou que há ainda cerca de 100 dioceses brasileiras que não enviaram à Santa Sé as suas diretrizes para o enfrentamento a casos de violência em seu território. O presidente da Comissão informou também que foi publicada no Diário Oficial da União, a Lei nº 14344/2022, que criminaliza quem souber de alguma violência e não a levar ao conhecimento imediato dos órgãos responsáveis.
Novo Missal
O bispo de Paranaguá (PR) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia, dom Edmar Peron, falou sobre o trabalho da Comissão para a Tradução dos Textos Litúrgicos (Cetel) que oferecerá à Igreja no Brasil a versão em Português da última edição do Missal e outros assuntos relacionados à liturgia. Sobre a consulta do Novo Missal, dom Edmar informou que 177 bispos responderam e que 98% dos que responderam deram o seu “sim” em aprovação à tradução.
Homologação de Estatutos e nova diretoria da Repam
O segundo vice-presidente da CNBB e arcebispo de Cuiabá (MT), dom Mário Antônio da Silva, apresentou as propostas de atualização do novo Estatuto e os nomes da nova presidência da Repam-Brasil.
Os nomes foram aprovados por unanimidade pelo Conselho Permanente.
70 anos da CNBB e 15 anos de Aparecida
O subsecretário adjunto geral da CNBB, padre Patriky Samuel Batista, partilhou informações sobre a preparação das comemorações dos 70 anos da CNBB, que será vivida durante a 59ª Assembleia Geral da Conferência Episcopal, em Aparecida(SP). Será um momento cultural, dia 2 de setembro, às 20h, com apoio da TV Aparecida.
Análise de conjuntura social
Na parte da manhã, o Conselho Permanente refletiu sobre a análise de conjuntura social do Brasil. A análise tratou do tema da economia a partir do seguinte questionamento: “Por que a economia brasileira está estagnada, apesar de nossas imensas potencialidades?”.
O problema, de acordo com a análise, está na distribuição dos recursos. Com a contribuição de economistas das Pontifícias Universidades Católicas do Brasil, o Grupo de Análise de Conjuntura Padre Thierry Linard apontou para compreensão do cenário os eixos que sustentam o modelo econômico brasileiro: modelo tributário regressivo, no qual os pobres pagam proporcionalmente mais tributos; o sistema da dívida, que transfere recursos públicos para bancos e aplicadores do mercado financeiro em detrimento dos investimentos importantes para a sociedade; a política monetária, com juros altos e mecanismos nocivos; e a exploração de recursos naturais voltada para a exportação de commodities, com lucros extraordinários para as grandes corporações transnacionais.
A atuação articulada desses quatro eixos estruturantes provoca o seguinte resultado: PIB fica estagnado; dívida pública explode; direitos sociais são suprimidos; pobreza e desigualdade social aumentam; danos ambientais se agravam.
Pentecostalismo e evangelização
A análise de conjuntura eclesial, conduzida pelo Instituto Nacional de Pastoral Padre Alberto Antoniazzi (INAPAZ), tratou sobre Pentecostalismo e Evangelização. Padre Geraldo De Mori, da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), expôs aos bispos a classificação, as manifestações históricas e o status quo do diálogo ecumênico com as igrejas e expressões pentecostais.
Confira a mensagem do Conselho Permanente a todo o povo brasileiro na íntegra:
UM CLAMOR PELA PAZ
Eu ouvi os clamores do meu povo. (Ex 3,7)
A paz de Jesus Cristo, que proporciona vida em abundância e alegria plena, é um dom precioso de Deus e desejo de todo o ser humano de boa vontade. Contudo, infelizmente, nosso mundo escuta hoje os estrondos da guerra, os gemidos da fome, o ensurdecedor barulho dos tiros que ceifam vidas e ecoam no choro das vítimas e de seus familiares. Soma-se a isso a indiferença, que fecha olhos e corações, as desculpas para nada fazer e as fake-news em seu esforço por tudo encobrir em cortinas de fumaça.
As guerras vão-se multiplicando cruelmente em diversas regiões do mundo, somando-se às abomináveis e impactantes cenas que nos chegam da Ucrânia através da mídia. São invisíveis os conflitos como em Moçambique, Iêmen, Etiópia, Haiti, Mianmar, entre tantos outros, que assumem hoje os contornos de uma “terceira guerra mundial por pedaços” (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 25).
Nestes tempos, faz-se urgente escutar as vozes de tantos que, vitimados por variadas formas de violência, clamam por justiça e paz. Esta realidade não pode ser naturalizada. É impossível aceitar o extermínio de irmãos e irmãs. Seus corpos sem vida clamam por justiça e responsabilização. Suas memórias e seus sonhos de paz devem permanecer vivos entre nós.
A desigualdade social, gerada pela concentração de renda, os conflitos religiosos, o ataque sistemático aos territórios dos povos tradicionais, o desprezo e o rechaço aos migrantes e o flagelo da fome são algumas das formas da violência estrutural visibilizada nos tempos de hoje.
Urge não fechar os olhos diante da loucura da corrida armamentista no Brasil. O número de caçadores, atiradores e colecionadores de armas de fogo (CACs), aumentou 325% de 2018 a 2021. “O gasto com armas é um escândalo, suja o coração, suja a humanidade” (Papa Francisco, 21 de março de 2022), particularmente quando alimentado por discursos fundamentalistas, inclusive religiosos, que transformam adversários em inimigos e comprometem a fraternidade.
A violência precisa ser estancada. Diante de tantas situações que nos envergonham, nós, bispos do Conselho Permanente da CNBB, voltamos a erguer nossa voz para denunciar a violência e solidariamente clamar por paz. Unimo-nos a todas as pessoas e entidades que, de coração sincero, se empenham nessa direção. Enxergamos nesse esforço o Espírito do Deus da Vida que não nos permite desanimar, nem nos deixa enredar pelas artimanhas do mal, por mais astuciosas e aparentemente convincentes que possam ser.
A vida é o maior dom! Cuidar responsavelmente da vida implica trabalhar
artesanalmente pela paz (Papa Francisco, Fratelli Tutti, 225), a justiça social e o bem comum, sempre no respeito pelas diferenças, valorizando a liberdade religiosa e a verdade, dialogando até a exaustão, pois tudo isso é condição para a verdadeira paz.
Por isso, na responsabilidade de nossa missão de pastores, queremos expressar nossa palavra de esperança: aos sofredores, que não desistam, aos que têm poder de cuidar, defender e promover o bem comum, que não se omitam e aos que diretamente ferem e destroem a paz, que se convertam!
Unamo-nos em favor da verdadeira paz! Não nos deixemos abater! Não nos deixemos frustrar! O Bom Deus escuta os clamores de seu povo! Que a Bem-aventurada Virgem Maria, Rainha da Paz, interceda sempre pelo Brasil e pelo mundo.
Brasília, 22 de junho de 2022.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBB
Dom Jaime Spengler. OFM
Arcebispo de Porto Alegre – RS
Primeiro Vice-Presidente da CNBB
Dom Mário Antônio da Silva
Arcebispo de Cuiabá – MT
Segundo Vice-Presidente da CNBB
Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da Arquidiocese de São
Sebastião do Rio de Janeiro – RJ
Secretário Geral da CNBB