É impossível de atingir. Utopia. Ou simples sonhos. Isto todo mundo sabe. Mas mesmo que condenado a vagar em direção a objetivos inalcançáveis, faz bem para uma sociedade procura-los. Fornecem símbolos. Dão significado as ações cotidianas. Se não consegue perfeição, pelo menos ganha melhorias sucessivas. E, no tempo, um lugar melhor.
Existem certamente muitas maneiras de olhar os acontecimentos recentes. E haja fatos. E haja tempo. E tome analise. Não deixa de ser verdade que o lodo exposto pode resultar em melhorias institucionais. Pode. Mas certamente é coisa para o longo prazo.
Mas gente normal vive no hoje, imagina o amanha, e sonha com o depois de amanha. E ai a coisa complica. De verdade. A gente vive a era da desilusão. Onde os símbolos, ídolos e ideias caem como castelo de cartas. E as aparências não enganam não.
Não resta duvida que punir poderosos é importante. É demonstração de que todos podem ser iguais diante da lei. Reforça o estado de direito. Renova a fé na justiça. E, com um pouquinho de otimismo e muita boa vontade, melhorara as instituições. Talvez.
Mas existe muita tristeza na realização de que a nação é nada mais do que corpo apodrecido. A quantidade e qualidade dos desvios não podem ser mais atribuídas a condutas individuais. É coletiva, sistêmica, cultural. E restam duvidas se temos energia, disposição ou mesmo interesse me mudar o sistema.
Talvez uma das heranças mais tristes desta época de desilusões seja a queda sucessiva de cidadãos bem sucedidos que até bem pouco tempo eram considerados exemplos de sucesso. Gente que, dizia-se, haveria vencido pelo talento nos negócios. Pela meritocracia, enfim.
Uma a um, setor por setor, empresa por empresa, vai-se descobrindo o que já se desconfiava desde que Cabral chegou. Na terra de palmeiras onde cantam sabias, mérito tinha pouco a ver com sucesso.
O sucesso, na verdade, tem a ver, quase exclusivamente com a proximidade com o rei de plantão. E isto causa ferida moral séria. Elimina o compromisso com a ética do trabalho. Desestimula gerações futuras a produzir e competir honestamente. É ruim para todo mundo.
Em uma época em que continuar punindo os poderosos é escolha correta e saudável, preocupa a falta de bons exemplos. A crise vai ser longa, difícil, pesada. Custará caro. Sofrimento somente fale a pena quando vem gravido de esperanças.
Esperança precisa da inspiração dos bons exemplos. E bons exemplos estão em falta. E fazendo falta. Falta que não vai evitar a saída da crise. Ela um dia passa. Mas sem bons exemplos, acabam os símbolos. E a gente passa a perseguir o nada. E talvez a gente saia da crise para mergulhar na mediocridade. Permanentemente.
Tomara que não.
Elton Simões
Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV);
MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria)