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[Artigo] Testemunho de vida: identidade da comunidade cristã-Neuza Silveira, Secretariado Arquidiocesano Bíblico-Catequético de BH

Diante dos grandes conflitos vivenciados na atualidade,  nesse período de Coronavírus, e particularmente no contexto pascal, somos duplamente convocados a observar quais critérios adotar na superação das crises oriundas da vida inserida numa sociedade capitalista e consumista. Não há duvidas de que nem o poder, nem a riqueza, nem a força devem ser privilegiados, em prejuízo da necessidade de cada ser humano.

Fazemos a experiência do mistério pascal vivenciado com intensa interioridade, diante do silêncio contemplativo que o mundo experimenta nesse tempo de distanciamento social, ao ficar em casa e celebrar a vida, fortalecendo nossa Igreja doméstica. Assim também, vamos nós catequistas possibilitar que a Palavra de Deus tenha o seu alcance até os confins da terra, como afirma o Apóstolo Paulo.

Tenhamos como fundamento as experiências dos Apóstolos

Depois da morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos que creram, saíram e foram anunciar Jesus Cristo ressuscitado. Ele está no meio de nós. Foram anunciar porque se constituíram testemunhas oculares da ressurreição (At 2,36) quando fizeram a experiência de estarem com ele no Cenáculo. Uma fé em Jesus Cristo, proclamada pelos discípulos após a ressurreição.

No livro de At 3,1 pode-se constatar o primeiro sinal: Pedro cura um aleijado no templo. Jesus continua salvando por intermédio de seus discípulos e comunidade cristã. A cura daquele aleijado sentado à porta de entrada formosa como nos diz o texto significa a inclusão do mesmo no meio da comunidade, uma ação necessária para viver bem a vida com Cristo, uma vida de amor, de acolhida e de atenção aos mais necessitados.

Os relatos das aparições do Cristo Ressuscitado são um gênero literário utilizado para afirmar a realidade da ressurreição e combater a espiritualidade da pessoa de Jesus. O crucificado está vivo em corpo e espírito. Não se trata de um espírito desencarnado (Lc 24,37-39) e o ressuscitado é o crucificado (Jo 20,24-29). Façamos também a experiencia de tornar viva essa Palavra de Deus referente aos relatos das aparições. Eles visam mostrar o caminho para se chegar à fé em Jesus Cristo morto e ressuscitado (Lc 24, 13-35): os discípulos de Emaús chegam à fé pela leitura e compreensão da Palavra de Deus nas Escrituras e pela participação na Eucaristia.

Vivendo a Ressurreição hoje

Nós podemos viver a ressurreição de Cristo, trazendo para nossa vida dois sentidos que ela nos apresenta. Um sentido histórico. Quando podemos pensar assim? Ela é um fato histórico quando percebemos as mudanças ocorridas na vida dos apóstolos. Eles não contavam com as aparições e essas experiências mudaram radicalmente a vida deles. Podemos lembrar de Paulo, um autêntico perseguidor dos cristãos, e que depois da visão do ressuscitado, se tornou apóstolo. Olhando pelo lado contrário: a Ressurreição não é um fato histórico. Ela é uma realidade que vai para além do espaço e tempo. É uma realidade escatológica.  É o Espírito Santo que nos conduz a Jesus Cristo e ao Pai, através do Filho. Não é possível provar que houve, mas também que não houve a ressurreição. Só podemos falar da ressurreição a partir dos relatos bíblicos que nos chegaram através das testemunhas às quais Deus quis manifestar o Ressuscitado. Ao falar de uma realidade escatológica, fala-se de uma realidade dos fins dos tempos. A escatologia é um estudo do fim ou das últimas coisas, ou ainda dos últimos dias.

Nesse sentido, a ressurreição é a esperança da nossa caminhada. Percorrer esse caminho no amor e solidariedade é tarefa dos cristãos. Anunciar a Palavra é um projeto que vem de Deus. E os apóstolos perceberam que além de se dedicarem ao anúncio da Palavra e escolherem as pessoas para cuidar da “mesa”, era necessário o serviço da caridade, que possibilita a cada pessoa ter o necessário para viver com dignidade. Assim também, hoje se torna urgente acolher  as pessoas  para os diversos ministérios que, suscitados pelo Espírito, atendam às necessidades das pessoas e comunidades.

A catequese tem muito a oferecer. Cada uma das catequistas, em seu cantinho caseiro, tendo nas mãos um celular, pode manter acesa a chama e o ardor da Palavra na vida dos nossos catequizandos.

Devemos anunciar Jesus Cristo na vida terrena, com suas atitudes de serviços. Quantos ensinamentos Ele nos deixou. Mas é fundamental anunciar Jesus Cristo glorificado, o que alimenta nossa esperança diante dos desafios atuais.

Vamos buscar em nossos baús aquelas propostas da catequese que foram pensadas para um mundo em mudança. Uma delas é a da ligação da fé com a vida. E o que é a avida? É saúde, alimentação, moradia, trabalho… E a cultura de cada um, ou seja, seu jeito de viver, sua linguagem, seus costumes… Como a catequese pode ajudar a vivenciar a fé descobrir novas formas, musicas, símbolos, novas linguagens, novos meios de comunicação, tudo isso para anunciar Jesus Cristo. Ser testemunha de fé.

Vamos lembrar também que é a comunidade é catequizadora, a família é catequizadora. Assim, os fatos da vida de cada um, da comunidade e da família fazem parte da catequese. A realidade em que vivemos é importante conteúdo da catequese. A cultura urbana é conteúdo da catequese. A catequese faz crescer a fé durante toda a vida da comunidade.

Fiquemos atentos: Jesus é o modelo, é exemplo de vida misturada na cultura do povo. Ele foi o grande catequista, viveu uma espiritualidade intensa, anunciou e denunciou como os grandes profetas da Bíblia e viveu uma grande intimidade com Deus. “Quem me vê, vê o Pai”. “Eu e Ele somos um”.

 

Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano
Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.

 

 

 



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