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Sobre Ritos e Preces: As Equipes de Liturgia ainda têm algum sentido e espaço nas comunidades?

         No Brasil, a recepção da reforma litúrgica conforme as diretivas do Concílio Vaticano II renderam-nos um “personagem” muito significativo para animar (= dar alma) à vida litúrgica nas Paróquias (cf. SC 42): a Equipe de Liturgia. As introduções dos livros litúrgicos não falam dela diretamente. O Missal, no entanto, nos dá indicativos indiscutíveis e até certos parâmetros sobre sua função.

Primeiramente, devemos ter claro que “Liturgia não se improvisa”. Sendo um momento da manifestação da Tradição viva da Igreja, nós a herdamos e não a inventamos. Os ritos e as preces com os quais fazemos memória do Mistério de Cristo e suplicamos sua presença no meio de nós, mesmo que tenham sua raiz primeira em Jesus ou na comunidade apostólica, são fruto da criatividade eclesial que atravessa séculos e está sempre em andamento. Os livros litúrgicos são testemunhas e guardiões deste tesouro.

Mas não encontramos tudo ali. A Liturgia é uma realidade viva, afirma o Papa Francisco, por isso não pode ser confundida com a letra morta de nenhuma literatura ritual. Isso se aplica de modo muito particular aos livros litúrgicos do Concílio Vaticano II. Eles exigem bons interlocutores, isto é, pessoas capazes de tomá-los nas mãos, lê-los e interpretá-los munindo-se da inteligência da própria Liturgia, como nos ensina Sacrosanctum Concilium 48. Seguindo a experiência do Brasil, esse grupo de pessoas, nas paróquias e comunidades, é certamente a Equipe de Liturgia.

A Instrução Geral ao Missal Romano (IGRM) no capítulo VII trata da “escolha da missa e de suas partes” que se abre com o número 352, onde encontramos uma motivação muito genuína para se organizar uma Equipe de Liturgia. Ali se lê: “Lembre-se ainda de que a escolha das diversas partes deve ser feita em comum acordo com os que exercem alguma função especial na celebração, sem excluir absolutamente os fiéis naquilo que se refere a eles de modo mais direto”. O Missal nos apresenta uma “quase-exigência” de um grupo de pessoas que, antes da celebração, sejam responsáveis por providenciar junto aos ministros e aos demais fiéis a harmonia necessária que gere a participação no Mistério mediante a celebração.

Por último, é bom salientar que a Equipe de Liturgia pode ser numa comunidade ou Paróquia um excelente antídoto contra o veneno do clericalismo. Isso porque aquilo que a IGMR 352 objetiva é uma concordis ratio, literalmente, pensar unidos no mesmo coração (cf. Atos 4,32), todos e todas – ministros ordenados e fiéis não ordenados – empenhados no bem da assembleia celebrante.

Pe. Márcio Pimentel
é presbítero, teólogo liturgista,
membro do Secretariado Arquidiocesano de Liturgia
e da Celebra – Rede de Animação Litúrgica.



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