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Sobre os rolezinhos

 

Os denominados “rolezinhos” estão ocupando grande espaço na mídia brasileira no início de ano. Até a presidente Dilma já se manifestou preocupada com o tema. As entidades representativas de shopping centers é que estão provocando boa parte da polêmica, sugerindo que os “rolezinhos” representam ameaça a integridade dos consumidores. Querem, , que o fenômeno seja tratado como “problema de polícia”.

 

A questão que se coloca é por que a aglomeração de jovens oriundos de classes sociais de menor poder aquisitivo com o propósito de simples sociabilidade – paqueras, novas amizades, diversão- tem assustado tanto os lojistas dos templos do consumo? Os “rolezinhos” não são eventos de baderna e vandalismo. Em algumas ocasiões verificou-se correrias desvairadas dos jovens participantes me função  da atuação desastrada de seguranças particulares. Lojas foram fechadas às presas devido ao medo que se instalou. Mas isso não define o significado social dos “rolezinhos”.
 

Os  “rolezinhos” são possíveis porque ampliou-se  a inclusão digital na sociedade brasileira. Estamos diante de um fenômeno que revela aspectos positivos dos avanços sociais alcançados pelo Brasil

Aspecto muito interessante é como os jovens desses movimentos estão vestidos, com roupas de marcas famosas, tênis e sapatos os mais caros. Estão absolutamente sintonizados com o ambiente que escolheram para se encontrar. Não são, portanto, contestadores do “capitalismo consumista” e muito menos dos shoppings centers. Eles se identificam com esse espaço social. Querem  ser reconhecidos   e respeitados como segmentos de classe média, não mais como jovens da periferia urbana e social segregados a territórios marginais da cidade.

E o acesso à internet tem viabilizado esses encontros, dado que são programados geralmente por jovens com perfis de muitos seguidores no Facebook. Esse é outro aspecto também a ser destacado. Os  “rolezinhos” são possíveis porque ampliou-se consideravelmente a inclusão digital na sociedade brasileira. Em outros termos, estamos diante de um fenômeno que revela aspectos positivos dos avanços sociais alcançados pelo Brasil na última década.

Não se justifica o temos pelos “rolezinhos”. Não constituem problema de polícia. É provável, inclusive, que não perdurem muito ao longo do tempo, limitando-se a um mero modismo.

 

Luiz Flávio Sapori
Sociólogo
Coordenador do Centro de Pesquisa em Segurança Pública da PUC Minas
Publicado no Jornal Hoje em Dia



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