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Sínodo para a Amazônia: permaneçamos unidos, Jesus nos une

“No centro está Jesus Cristo. Jesus nos une.” As palavras pronunciadas por um representante indígena durante a coletiva sobre o Sínodo na Sala de Imprensa da Santa Sé, esta quinta-feira (24/10), têm a força de um premente apelo e a intensidade de uma súplica. Tratou-se de Delio Siticonatzi Camaiteri, membro do povo Ashaninca, um grupo étnico amazônico do Peru.

Respondendo à pergunta de um jornalista sobre a proposta, lançada durante os trabalhos sinodais, de um rito amazônico específico, disse o representante indígena:

“Vejo vocês de certo modo inquietos como se não fossem capazes de entender aquilo de que a Amazônia precisa. Temos a nossa visão do cosmo, nosso modo de ver o mundo. A natureza nos aproxima mais de Deus, aproxima-nos olhar o rosto de Deus em nossa cultura, em nosso viver. Nós como indígenas vivemos a harmonia com todos os seres vivos. Vejo que a ideia que vocês têm de nós indígenas não é clara. Vejo vocês preocupados, com dúvidas diante dessa realidade que nós buscamos como indígenas. Não endureçam seus corações, vocês devem abrandar seus corações. Esse é o convite de Jesus. Convida-nos a viver unidos. Cremos num só Deus. Devemos permanecer unidos. Isso é o que desejamos como indígenas. Temos nossos ritos, porém, esse rito deve basear-se no centro que é Jesus Cristo. Não há nada mais a ser discutido sobre esse tema. O centro que nos une neste Sínodo é Jesus Cristo.”

O Sínodo é uma esperança para os povos indígenas

Delio explicou também que o Sínodo é uma esperança para os indígenas. A Amazônia é uma realidade imensa “que sofre e grita porque não soubemos valorizá-la”, disse ele. Colocamos nossas esperanças no Sínodo porque até agora não fomos ouvidos”, acrescentou.

“Matam-nos porque pensam que não temos direitos”, disse ainda. Esse Sínodo dispõe a abertura de um espaço de diálogo e de encontro para defender a Amazônia. Um espaço não somente para a Amazônia, mas para o mundo inteiro.

Um caminho na esteira do discernimento

Respondendo a uma pergunta sobre as expectativas relacionadas ao Sínodo, o arcebispo de Belém do Pará, dom Alberto Taveira Corrêa, disse: “Não estamos aqui como se houvesse uma lista de desejos, ou de decisões que devem ser tomadas na direção que eu ou outras pessoas possam almejar”. “Estamos aqui para fazer um caminho juntos e buscamos colocá-lo nas mãos do Santo Padre. Estou muito confiante, tenho grandes esperanças”.

O celibato é um dom

“O celibato é a grande beleza da vida de um sacerdote, que porém deve ser cultivado porque é um tesouro que cultivamos em vasos de barro.” O prefeito da Congregação para o Clero, cardeal Beniamino Stella, usou essas palavras para descrever aos jornalistas o dom do celibato. É um “dom de Deus, que deve ser acolhido”.

“A Igreja continua sendo a única instituição que prega um compromisso para sempre: para os sacerdotes, para a vida consagrada e para o matrimônio.” “O dom do celibato representa hoje para os jovens, e também para os sacerdotes, um grande desafio pessoal”, ressaltou o purpurado.

A vocação precisa de equilíbrio

“Oração, disciplina e compromisso pessoal” são os três requisitos para viver o celibato, disse ainda o cardeal Stella. “Devemos falar aos jovens e apresentar-lhes as exigências do sacerdócio latino como grande compromisso e grande beleza”, afirmou.

A vocação, para ser acolhida, “precisa do equilíbrio de uma mente sadia e de uma afetividade transparente. Aquilo que o Sínodo poderá dizer sobre novos caminhos de ministerialidade o deixamos ao discernimento dos padres sinodais e ao discernimento final do Santo Padre”, concluiu.

Rito amazônico

O prefeito da Congregação para o Clero também respondeu a uma pergunta ligada à proposta de um rito amazônico: “É natural que se tenha essa iniciativa oriunda do Sínodo. Os povos amazônicos sentem a necessidade de poder comunicar com a sua língua, seus símbolos e seus rituais locais. A Amazônia é uma realidade multiétnica, multilinguística, composta por centenas de etnias e centenas de línguas. Há uma expectativa nessa matéria e também uma necessidade concreta: veremos o que o Sínodo irá dizer”, disse.

Fé e inculturação

“Queremos poder expressar a nossa fé na nossa cultura e em nossa língua”, explicou o sacerdote indígena católico pertencente ao povo zapoteca (México), Pe. Eleazar López Hernández, especialista em teologia indígena. “A Igreja precisa gerar rostos específicos nos quais chegue uma proposta cristã”, afirmou.

O tema da espiritualidade indígena esteve, por fim, no centro da fala da religiosa pertencente à etnia Barassana (Brasil), Irmã Mariluce dos Santos Mesquita, das Filhas de Maria Auxiliadora: “O Papa Francisco está ouvindo e propondo reconhecer, aprofundar mais a espiritualidade indígena interagindo com a Palavra de Deus, que nós já pregamos”.



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