Sábado (26/10), a votação do documento final do Sínodo para a Amazônia, em sua última semana de trabalhos. O prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, falou sobre o andamento da Assembleia sinodal na coletiva desta quarta-feira (23/10) na Sala de Imprensa da Santa Sé.
Na segunda e terça-feira, os círculos menores elaboraram as propostas; o relator geral e os secretários especiais as inseriram com a ajuda dos especialistas. A Comissão de redação revê o texto que, depois, será apresentado na Sala do Sínodo para as votações.
Trata-se de um texto que será depois confiado ao último discernimento do Papa, explicou o secretário da Comissão para a Informação, Pe. Giacomo Costa. Ruffini evidenciou também o chamado à sinodalidade e à ação do Espírito Santo evocados pelo Papa na manhã desta quarta-feira na audiência geral.
Entre os relatores, quem primeiro tomou a palavra durante a coletiva de imprensa foi uma mulher, Irmã Roselei Bertoldo, da Congregação das Irmãs do Coração Imaculado de Maria e da Rede “Um grito pela Vida”. Uma vida, a sua vida, dedicada a erradicar o tráfico de pessoas, especialmente de mulheres e crianças, no Brasil.
Um dos maiores problemas é o da “servidão doméstica”, quando as meninas são levadas embora da comunidade indígena para estudar fora e acabam, ao invés, sendo exploradas sexualmente e levadas a trabalhar em situação “de escravidão”.
Com paixão e amor, Irmã Roselei denunciou que o corpo destas mulheres e meninas se torna uma mercadoria e ressaltou que é difícil denunciar. Por isso, a Rede na qual ela trabalha faz, em primeiro lugar, uma campanha para ajudar a reconhecer uma situação de abuso, para depois formar as pessoas colocando-as em condições de denunciar.
O Sínodo para a Amazônia chama a atenção também sobre esse drama e, ressaltou a religiosa, o compromisso com a evangelização parte também da tutela da vida. Respondendo a uma pergunta, ressaltou ainda a importância da participação das mulheres inclusive a nível de decisões.
“A presença das mulheres na Igreja é maioria, mas nos âmbitos de decisão é minoria, quase invisível”. O bispo de Potosí e presidente da Conferência Episcopal da Bolívia, dom Ricardo Ernesto Centellas Guzmán, em sua fala exortou a um maior envolvimento das mulheres nos processos de decisão na Igreja, partindo das paróquias.
Em particular, contou a experiência de uma agente pastoral em sua diocese, que como mulher tem uma abordagem diferente em relação ao homem: pede sugestões, permitindo a participação. Uma Igreja sinodal significa não somente “caminhar juntos”, mas também “decidir juntos”.
Se a autoridade de governo, na Igreja, é masculina, a atividade pastoral é preponderantemente feminina, ressaltou em seguida o reitor do Seminário São José de Manaus e vice-presidente da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil, padre Zenildo Lima da Silva.
O foco de sua intervenção foi a formação dos presbíteros e a sua exortação foi a repensar o processo partindo da sinodalidade. É preciso formar sacerdotes capazes de trabalhar na realidade da Amazônia e de dialogar com essas culturas. Evidenciou, também no que concerne à comunicação, a importância de colocar-se num processo de escuta e diálogo.
O mundo andino, o Chade, a floresta do Peru. Vários lugares visitados pelo vigário apostólico de Jaén no Peru o San Francisco Javier, dom Gilberto Alfredo Vizcarra Mori, jesuíta. De suas palavras, o desejo de aproximar-se de outras culturas, e a experiência da qual falou foi de enriquecimento.
Preparou-se para este Sínodo indo viver na selva peruana com essas comunidades. Ressaltou que esses povos se sentem parte do bioma e não donos da beleza da criação e exortou, em seguida, a readquirir o viver em harmonia com a natureza, aprendendo propriamente com eles.
Uma grande experiência de aprendizagem. Com essas palavras, o arcebispo de Mumbai (Ex-Bombaim), na Índia, cardeal Oswald Gracias, sintetizou sua vivência destes dias no Sínodo.
Além da grande violência contra a natureza, o cardeal se disse impressionado com as injustiças contra os indígenas da Amazônia, expulsos de suas casas, unindo esta situação à das castas na Índia e das tribos expulsas de suas terras, embora “em nosso caso”, explicou, seja “menos sistemático”.
Mas o que mais o impressionou foi sobretudo “a paixão” com a qual os bispos amazônicos buscam ajudar esses povos: “O mundo tem muito a aprender” com os bispos da América do Sul, afirmou.
No que diz respeito às mulheres, ressaltou que “o Direito canônico e a própria teologia” permitem fazer mais pelas mulheres na Igreja, e no concernente à inculturação, evidenciou a importância de se ter métodos de formação inculturados nos seminários. Por fim, também ele se deteve sobre a sinodalidade, destacando a importância de “caminhar todos juntos”.