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Cada vez que nos colocamos diante de Jesus, precisamos ter em mente que nos dispomos a um relacionamento, um encontro entre o nosso coração e o d’Ele, um encontro entre amigos, entre almas enamoradas. Obviamente, este encontro só pode acontecer entre duas pessoas. O encontro com seres inanimados e mesmo com animais irracionais, por mais que possa se tratar de um encontro afetivo (dependendo da sensibilidade de cada pessoa), não poderá ser marcado por uma verdadeira reciprocidade. Por mais que um cachorrinho possa ser recíproco à nossa manifestação de afeto, sua resposta, pela própria limitação da natureza, não se compara à de uma pessoa. E por mais que possamos amar as plantas, as rochas, as montanhas e os animais, o significado destes seres para nós nunca será comparável ao de um ser humano. Somos seres relacionais criados para o amor.
| Verdade e simplicidade são virtudes que se supõem. Se somos verdadeiros, somos descomplicados e nos relacionamos com Jesus com o que há de mais genuíno dentro de nós |
Deus nos criou para nos relacionarmos com Ele como filhos e uns com os outros como irmãos. Esta realidade está impressa em nossa identidade mais profunda. Portanto, não podemos nos colocar diante d’Aquele que nos chamou como quem se coloca diante de uma foto ou de um quadro. Por mais que estejamos diante de uma imagem do Crucificado, por exemplo, sabemos que o Senhor vive não apenas diante de nós, mas vive em nós, dentro de nós, ao redor de nós, acima de nós e estamos indissociavelmente mergulhados n’Ele. Isto significa que não há nada em nós que não seja tocado por Ele, e não há nada n’Ele que não seja tocado por nós. Nossas vidas – a nossa e a do Senhor – estão como que misturadas (uma mistura homogênea!) desde que Ele quis se tornar humano para nos elevar à Sua divindade. Agora, vivendo na ‘plenitude dos tempos’, só não viveremos esta relação de profunda intimidade se não quisermos acolher esta graça infinita.
Jesus está aqui para ti. Estejas tu aqui para Ele, mas estejas tu assim como és, com tuas aspirações mais profundas, com tuas sombras mais controversas, com teus sentimentos mais simples, com tuas alegrias mais puras, com tuas fraquezas mais empobrecedoras… Estejas aqui e agora para Ele com toda a tua verdade, e recorda que em tudo Ele se parece contigo. Apenas o pecado O diferencia de ti e bendito seja o Senhor por isso, pois assim Ele pode te ensinar o que é de fato ‘ser homem’ uma vez que o pecado desumaniza os filhos de Deus.
Olhe bem para o Senhor em toda a Sua bela humanidade. Contemple-o a fundo e permita que sua humanidade se una à dele |
Ouçamos hoje com carinhosa acolhida a palavra que nosso Bom Jesus dirige a nós (Imitação de Cristo, Livro III, Capítulo 4): anda diante de mim em verdade e procura-me sempre com simplicidade de coração. A simplicidade e a verdade estão nas bases no nosso relacionamento de amor com o Mestre. Verdade e simplicidade são virtudes que se supõem. Se somos verdadeiros, somos descomplicados e nos relacionamos com Jesus com o que há de mais genuíno dentro de nós. Assim podemos tocar também Sua íntima verdade, Seus sentimentos. Se somos simples e verdadeiros, nos aproximamos de Jesus que é inteiramente simples e verdadeiro. Os Padres do Deserto ensinam que entre os amigos há ‘semelhança de virtudes’.
Nosso relacionamento com Jesus, como já dissemos, é de amizade, pois não existe amor sem amizade nem amizade sem amor. Então, se entre os amigos há semelhança de virtude, e nossa relação com Jesus deve ser de amizade, para crescermos neste vínculo com o Senhor devemos crescer nas virtudes que Ele, homem perfeito, traz em Si mesmo. Olhe bem para o Senhor em toda a Sua bela humanidade. Contemple-o a fundo e permita que sua humanidade se una à dele. Jesus viveu as virtudes que desejamos alcançar. Ele tem sede da nossa amizade, da nossa verdade e simplicidade. Por isso, deseja ter conosco uma identidade de virtudes. Jesus quer ‘se ver’ em nós como um amigo se vê no amigo.
Ludmila Rocha Dorella
Consagrada da Comunidade de Vida
