Diante de nossos olhos, nos tempos e costumes atuais, brilham várias luzes e aos nossos ouvidos ecoam várias vozes de informação. De fato, nossa época é de multiplicidade de lâmpadas e muito acesso a conteúdos e notícias (nem sempre bons ou verdadeiros). Podemos, inclusive, ser dessensibilizados com tanto empenho para nossos sentidos e pensamentos. No meio de tanta coisa, ocupei-me em refletir sobre a carta aos Efésios, tão conhecida e tão usada em celebração de matrimônios por tratar de cuidado mútuo entre esposo e esposa ( conforme capitulo 5). Evidente que minha preocupação era como rezar o texto para meu crescimento como homem de fé. No entanto, deparei-me com outro olhar. Prestei outros ouvidos ao que esta carta tem a dizer a mim como cristão deste tempo e de qualquer tempo: ser Igreja.
| Podemos entender a comunidade igreja como família de fé construída sobre a ternura de Deus pela sua acolhida e misericórdia |
No primeiro momento, deparamos no capitulo inicial com a realidade da filiação e pertença: predestinados em Jesus ao relacionamento filial e aquisição por Deus como povo. Verdadeiramente, nos constituímos diante desta alegria de ser Igreja como família de fé em Cristo Jesus e herança, nação escolhida pelo divino que entra na história pelo olhar e proximidade com seu povo amado e escolhido. Sim, alegria e sim, responsabilidade pelo dom comunicado para ser partilhado e multiplicado.
Nos capítulos seguintes encontramo-nos com faces e fases que nos custam e nos exigem empenho: construção, edificação e o mistério da articulação do corpo. Cada uma destas vivências, de construir, edificar, articular e descobrir o mistério presente do corpo de Cristo que é a Igreja, vai consolidando nossa adesão e nosso sentido de igreja, não apenas como um lugar espiritual ou físico onde buscar e receber benefícios de paz e consolo, mas comunidade que testemunha e manifesta entre si e com Deus um profundo relacionamento de amor, confiança e esperança. Neste ponto, podemos entender realmente a comunidade igreja como família de fé e como tal construída sobre a ternura de Deus pela sua acolhida e misericórdia que nos pede: segue-me.
Construir, edificar, articular e descobrir se achegam perfeitamente ao entendimento de caminho, crescimento e ascese que o fiel vai incorporando á sua vida em passos, um por vez, decididamente e dedicadamente. Empenhados e aderidos na vocação eclesial, vamos nos constituindo, nos transformando juntos pelo ministério batismal e graça do Espírito como corpo vivo que se alimenta, se dinamiza, se renova e atua nas tarefas necessárias e confiadas ao Bom Pastor, cabeça e guia do corpo.
| Somos Igreja, e Deus é pleno relacionamento de amor: realidades que se comunicam para nos confirmar no caminho de Jesus e na sua missão salvadora |
O ministério do corpo (ser igreja), finalmente pelos últimos capítulos de Efésios, vai nos lembrando a solidariedade humana quando imersos no coração divino da Trindade. O ministério do corpo e seu mistério, pela realidade da solidariedade da fé e do amor comunicados pela ação de Jesus, na vontade benevolente do Pai, na comunhão operada pelo Espírito Santo, nos torna membros uns dos outros. Todos juntos, em comunhão e solidários numa mesma vocação pela vida: nos relacionar a Deus, para Deus, em Deus e por Deus.
Somos Igreja, e Deus é pleno relacionamento de amor: realidades que se tocam e se comunicam para nos confirmar no caminho de Jesus e na sua missão salvadora. Sensibilizados pela fé, na esperança, vamos integrando esta realidade do amor do Pai que constitui seu Filho como Pão vivo e verdadeiro, para que tivéssemos a plena alegria já no caminho para o céu. No caminho já o destino pleno que só o Pai do céu e de todos pode oferecer a nós seu povo e seus filhos adotivos em Jesus.
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Pe. Antônio Luzia Ferreira
Pároco Solidário da Paróquia Santa Catarina Labouré
