O Seminário “A mineração e o cuidado com a casa comum”, presidido por dom Walmor, reuniu representantes dos muitos setores da sociedade para refletir sobre a missão da Igreja Católica na defesa da Casa Comum e seu necessário posicionamento para uma urgente revisão do modelo econômico extrativista. O evento, realizado nos dias 17 e 18 de maio, na PUC Minas, teve também por objetivo divulgar a posição da Igreja, a fim de orientar a opinião pública e apoiar as comunidades, grupos e movimentos que se dedicam à defesa dos territórios ameaçados, além de apresentar ao Vaticano o impacto da tragédia sobre a população de Brumadinho e as contradições da mineração em Minas e no Brasil.
O Seminário foi organizado pela Arquidiocese de BH, CNBB e a Rede Igrejas e Mineração – uma plataforma ecumênica que integra diferentes Igrejas na América Latina, unidas na missão de amparar comunidades impactadas pela mineração, a exemplo do ocorrido com as populações de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em janeiro de 2019. Hoje uma grande preocupação mobiliza todos em torno da comunidade do município de Barão de Cocais, exposta ao risco do rompimento de mais uma barragem de mineração da Vale.
Dom Walmor, recém eleito presidente da CNBB, viajou de Honduras, onde participava da Assembleia Geral do Conselho Episcopal Latino Americano para presidir o evento. O Arcebispo destacou a relevância da iniciativa e sua sintonia com Carta Encíclica do papa Francisco, Laudato Si, que trata do desafio de cuidar da casa comum: “Esse Seminário tem altíssima relevância, pela importância do tema, pelos desafios que nós enfrentamos com o meio ambiente, a exigência do cuidado com a Casa Comum. Tem grande importância porque entrelaça corações e mentes na mesma direção – o coração da Arquidiocese de Belo Horizonte e o coração do Papa Francisco- por meio da presença do monsenhor Bruno-Marie Duffé, do Pontifício Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral -, com os muitos grupos religiosos e segmentos da sociedade. Somos todos nós, juntos, nos dando as mãos e nossos corações, para fazermos um novo caminho, que é tão necessário, se quisermos um desenvolvimento integral , se desejarmos um desenvolvimento sustentável”.
O Arcebispo, anunciou ainda que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pretende criar uma Comissão Episcopal para tratar de assuntos referentes ao meio ambiente e desenvolvimento, em especial a mineração, com foco no diálogo da Igreja com setores da sociedade, com o Poder Legislativo e outras instâncias. A notícia foi recebida em grande otimismo por todos os presentes, e em particular, pelo atual presidente do Grupo Trabalho de Mineração da CNBB, dom Sebastião Lima Duarte, que destacou a sensibilidade de dom Walmor no tratamento dessa questão.
O bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte e reitor da PUC Minas, dom Joaquim Mol , falou sobre a Missão da Igreja -novos caminhos frente à mineração, em Minas Gerais e no Brasil. O Bispo ressaltou que evangelizar é o anúncio e o testemunho da mensagem central de Jesus, o Reino de Deus, que Ele anunciou, que é dom e precisa ser sinalizado pelas nossas práticas de vida: “Evangelizar é anunciar o Reino que deve penetrar todas as realidades humanas, sociais, ambientais, políticas e culturais com os valores que Jesus anunciou. E Evangelizar em um mundo de mineração, significa evangelizar em um mundo de extrema agressão humana e ambiental”. O bispo lembrou que, assim como em Minas Gerais, essa realidade é secular e comum a muitos outros estados do País. Dom Mol cobrou, ainda, a responsabilização dos gestores que permitem a ocorrência de tragédias como a de Mariana e a de Brumadinho.
O monsenhor Bruno-Marie Duffé reafirmou o compromisso do Vaticano em permanecer no apoio às comunidades que defendem seus territórios, ao transmitir a mensagem de solidariedade do Papa Francisco aos familiares das vítimas do rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Fez, também, severas críticas ao liberalismo que tem o dinheiro como prioridade, deixando as pessoas e a natureza em segundo plano, o que resulta em ocorrências como as tragédias em Mariana e Brumadinho.
Frei Rodrigo de Castro Amédée Péret, que integra o Grupo de Trabalho da CNBB sobre Mineração fez uma exposição a respeito do tema “O cenário da mineração em Minas Gerais e no Brasil: Rede Igrejas e Mineração”. A articuladora social da Arquidiocese de Belo Horizonte, e moradora de Brumadinho , Marina Oliveira, apresentou sua vivência nas múltiplas realidades sociais, em Brumadinho. O Promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais André Sperling falou sobre as estratégias utilizadas pelas mineradoras para dividir as Comunidades. As Políticas Públicas em defesa dos territórios e das comunidades foi o tema da exposição da defensora pública Caroline Morishita , da Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais.
Um momento de comoção e fé marcou o Seminário, quando um grupo de índios da etnia Pataxó, fez uma oração em sua língua de origem – da família maxakali, tronco macro-jê. Hoje, eles estão com a vida na aldeia comprometida, em razão da poluição das águas do rio Paraopeba, atingidas pelos dos rejeitos de minério da barragem da Vale .
Emoção marca visita do representante do Papa a Brumadinho
No sábado, dia 18, as comunidades do Córrego do Feijão e Parque da Cachoeira, em Brumadinho, receberam monsenhor Bruno-Marrie Duffé, representante do Papa Francisco, que participou de emocionante Celebração com os fiéis.
Dom Vicente saudou o Monsenhor e agradeceu sua presença na comunidade. O Bispo explicou que monsenhor Bruno-Marrie “tem uma sensibilidade enorme para as causas humanas, com especial atenção para aqueles que sofrem”. Dom Vicente ressaltou que a presença do Monsenhor em Brumadinho é “um envio especial do Papa, que tem dedicado toda a atenção a Brumadinho”.
Padre Renê Lopes, pároco da Paróquia São Sebastião, em Brumadinho, ressaltou o “importante trabalho realizado pela comunidade da Igreja Nossa Senhora das Dores, ao acolher os bombeiros e voluntários, tornando-se referência para as vítimas que procuravam consolo”. Destacou, ainda, “o trabalho dos leigos e leigas na acolhida daqueles que sofrem”.
Monsenhor Bruno-Marrie ouviu testemunhos de fiéis que perderam familiares em consequência do rompimento da barragem. Emocionado, partilhou: “consigo imaginar a dor do povo de Brumadinho e trago, a pedido do Papa, uma mensagem de esperança. Crendo que, no Córrego do Feijão, está o coração da Igreja e da humanidade”. O Monsenhor convidou o povo de Brumadinho a se tornar “profeta que anuncia um tempo novo, que consola e lutam por um mundo mais justo, combatendo a ganância”.
Numa Celebração que reuniu pessoas das diversas comunidades atingidas, moradores levaram ao altar produtos cultivados na área rural do município e lembranças das vítimas da tragédia.
E a população de Brumadinho recebeu um presente muito especial do Papa Francisco: uma réplica de sua cruz peitoral, entregue pelo monsenhor Bruno Marie Duffè , como sinal de sua solidariedade e preocupação com as vítimas do rompimento da barragem no Córrego do Feijão. Essa cruz passará pelas casas das famílias das comunidades de Brumadinho e depois ficará exposta no memorial Minas de Esperança, que será o campanário do Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora do Rosário.
Em seguida, o Monsenhor saiu acompanhado pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte dom Vicente, junto com moradores, em procissão pelas ruas de Córrego do Feijão. Durante a caminhada, os nomes de todas as vítimas foram lembrados. A ideia era levar o representante do Vaticano até um ponto que foi atingido pela lama, mas a rua foi interditada pela Vale. Ele não conseguiu ver de perto os estragos provocados pela lama.
A comunidade encerrou o encontro com um minuto de silêncio em homenagem às vítimas da tragédia.
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