Caminhando pelo Evangelho de Jesus, segundo a apresentação das comunidades, podemos ir, aos poucos, nos identificando com Ele e, assim, tornando mais fácil o caminho que iremos percorrer.
O Evangelho de Marcos
O Evangelho de Jesus segundo São Marcos nos ajuda a nos colocarmos numa estrada que se inicia com o caminhar de Jesus no sentido da doação da própria vida.
Marcos é o evangelho do Movimento e do Caminho. Jesus e seu movimento popular-religioso estão sempre se movimentando, sempre em missão, sempre a Caminho. É o Profeta que prepara o caminho (Mc 1,2) e clama para o povo preparar o caminho (Mc 1,3). Jesus está quase sempre caminhando (Mc 1,16). Vai com os discípulos “a caminho do mar” (Mc 3,7) e também descreve o que acontece pelo caminho (Mc 8,3.27; 9,33-34; 10,32.52). Da mesma forma, quem aceita Jesus deve segui-lo e aceitar seu projeto, que é de libertação integral. As primeiras pessoas cristãs pertenciam ao Caminho (At 9,2; 18,25-26; 19,9-23).
Em Marcos, o Projeto de Jesus e seu Movimento trata-se de uma “boa notícia para todos, mas a partir dos empobrecidos”. Marcos faz opção pelos pobres. Por isso, nesse evangelho são frequentes os contrastes e conflitos. Ou se está do lado de Jesus ou contra Ele.
Marcos concebeu seu evangelho a partir da paixão de Jesus. Isso se comprova pelas repetidas condenações à morte sentenciadas pela hierarquia judaica. Percebemos que era um caminho difícil, árduo, acompanhado pela sombra da morte.
Marcos nos ajuda a compreender que Jesus é filho de Deus do início ao fim do seu evangelho (Mc 1,1.11; 15,39), mas sempre visto como o servo que ama gratuitamente a todos a partir dos injustiçados. No caminho, Jesus percebe que irá passar por caminhos tortuosos que o levará ao martírio. Livremente, ele enfrenta as injustiças e se doa integralmente.
Evangelho de Mateus
O Evangelho de Mateus brota de comunidades diferentes, mas inseridas num contexto de grandes conflitos também. Elas se encontravam fora de Jerusalém por causa da Guerra Judaica e a destruição do Templo. Essa comunidade era constituída de comunidades já existentes na Antioquia da Síria, dos judeus que sobreviveram da guerra Judaica e dos gentios convertidos. Era considerada uma comunidade viva, para a qual o evangelista Mateus apresenta Jesus como o Emanuel (Mt 1,23). O Messias anunciado pelos profetas. Sua vida e prática era o cumprimento do plano determinado por Deus. Ele é o verdadeiro intérprete da Lei (Mt 5,1; 23,8) e por isso nos orienta que a Lei (ensinamento) deve estar a serviço da vida. Ele está sempre a nos convidar a viver a justiça e a misericórdia. Faz-se presente no meio de todos nós, todos os dias, até a consumação dos séculos (28,20b).
No Evangelho de Jesus, segundo Mateus, encontramos vários dos ensinamentos de Jesus que eram trabalhados naquelas comunidades que podemos deles tirar proveito para nossa realidade atual. Diante de grandes conflitos que viviam em relação à fé, as comunidades eram convidadas a levar em consideração a importância do perdão, da sensibilidade e da prática concreta da solidariedade. Sabemos que a correção fraterna e o perdão são fundamentais para consolidar a vida em comunidade.
A Campanha da Fraternidade deste ano nos chama a atenção para os nossos irmãos que se encontram excluídos, nas periferias, fora do campo das realidades de ações fraternas e solidárias. Somos chamados a ir até eles, ver a realidade em que se encontram e tomarmos decisões concretas de um agir ético e amoroso, fortalecendo as relações, assim como Jesus fazia no desejo de instaurar o Reino de Deus.
A exemplo de Jesus, nós, continuadores de sua obra, somos convocados a também trabalhar nesse reino já instaurado por ele tornando-o visível pela prática da justiça e da misericórdia.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de BH