Cidade do Vaticano, 19 jun (RV) – Antes de ouvir o discurso do Pontífice, na Sala do Concistório, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte, proferiu uma breve saudação a Bento XVI. O Arcebispo ressaltou a fé profundamente enraizada e a riqueza do patrimônio religioso de seu Regional, definindo-o “coração católico na Igreja no Brasil”. E garantiu ao Papa: “Viemos aqui para ouvi-lo”.
Ouça entrevista exclusiva concedida por Dom Walmor a Cristiane Murray, no espaço dedicado às Atividades da Santa Sé, em nossa página, e leia abaixo a íntegra do discurso de Dom Walmor em nome dos 35 bispos diocesanos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo:
“Beatíssimo Padre, saúde e paz! Experimentamos agora uma indizível emoção, a emoção de estar na presença de Vossa Santidade, o Sucessor de Pedro, que tem a tarefa insubstituível de congregar-nos na unidade, confirmando-nos na fé e para a missão, presidindo o Colégio Episcopal no qual estamos inseridos, por graça de Deus, como servidores e anunciadores do Evangelho para a esperança do mundo. É uma emoção entrelaçando a consolação de que tanto precisamos; a comunhão, nosso compromisso e sustento; a fraternidade solidária; nossa força de testemunho iluminando nossa consciência missionária e fortalecendo nossa disposição de continuar nas aventuras desta missão que seduz nossos corações; e fidelidade a Cristo Bom Pastor. O que sentimos e experimentamos escancara nossos corações, que se deixam fecundar por este momento de graça que é a Visita ad Limina Apostolorum.
Este nosso encontro, como aqueles da delicadeza terna de Vossa Santidade ao nos receber em Audiência privada, é o coração da Visita ad Limina. Sentimo-nos como Paulo naquela vez que saiu de Damasco e foi a Jerusalém para conhecer Cefas, e ficou com ele quinze dias (Gl 1, 18). Aquele encontro fortaleceu o Apóstolo das Gentes; ele partiu em missão movido pela graça e sustentado pelo encontro com Pedro. Assim também nós, os bispos do Conselho Episcopal Regional Leste II, Minas Gerais e Espírito Santo, viemos a Roma para visitar, dialogar, compartilhar experiências; particularmente, viemos para ver e estar com Vossa Santidade, sendo tocados pela delicadeza terna de vossa presença, pela sabedoria de vossa Palavra, encorajados por vosso testemunho que interpela o mundo, incomoda segmentos e firma os passos da missão de nossa amada Igreja neste primeiro decênio do terceiro milênio.
Viemos, Santidade, também para dizer que as Igrejas Particulares, que congregamos na unidade, oram continuamente – como aquela de Jerusalém – a Deus por vosso ministério petrino (At 12, 5). Viemos para amorosamente responder, em sintonia profunda e uníssona com o coração de Vossa Santidade, à pergunta do Mestre: «Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes», para dizer em coro a fim de que o mundo escute e se converta: «Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo». Viemos nós, irmãos bispos, desejosos e comprometidos em «sermos um» (Jo 17, 11). Esta nossa disposição filial nos faz renovar nossa incondicional adesão a Vossa Santidade, empenhados na missão da Igreja, com coragem profética e destemor, para que seja fecundo o anúncio do Evangelho, e a todos seja garantida a grande razão de nossa labuta missionária: o encontro pessoal com Cristo Vivo na comunidade de fé, seduzindo corações para o bem e para a justiça, enquanto caminhamos para o Reino definitivo. Viemos para ouvir, de coração para coração, Vossa Santidade dizendo a palavra decisiva de Pedro, ao olhar o mundo, seus desafios, suas hostilidades e adversidades, como também suas esperanças e sede de Deus: «Eu vou pescar».
E nós diremos sempre com Vossa Santidade: «Nós vamos contigo» (Jo 21, 3); nós vamos solidários em tudo, até no martírio, na coragem profética e na firmeza para conduzir situações, modificar cenários. «Nós vamos contigo», como disseram a Pedro, à beira do lago de Tiberíades, Tomé, Natanael de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos. Nós vamos, na condução amorosa e firme de nossas Igrejas Particulares, em profunda comunhão, para que nossa amada Mãe Igreja realize, com fecundidade, a missão recebida do seu Senhor e Mestre, Cristo Jesus, o único Salvador.
Os Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, no Regional Leste II da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, têm um povo de fé profundamente enraizada, tradições vividas com fidelidade, um patrimônio religioso de riqueza incalculável, constituindo-se num precioso coração católico na Igreja do Brasil.
Um tesouro que exige cuidado amoroso e reverência de todos. Com desvelo de pastores, enfrentando os desafios de realidades complexas e plurais, na riqueza própria e na singularidade de cada uma das Igrejas Particulares, estamos empenhados em fortalecer nossa unidade, firmando nossa identidade eclesial e missionária no cuidado especial com os jovens, particularmente aqueles em situação de risco; empenhados em produzir e expandir uma comunicação que faça o anúncio do Evangelho pelos meios de comunicação social, chegando em cada casa, em cada canto, em cada coração, seduzindo a muitos, a todos para o seguimento de Jesus Cristo, na alegria de pertencer à nossa amada Igreja, servidora à luz dos valores do Evangelho no coração do mundo, na dinâmica das culturas, nas lógicas modernas para fecundá-las.
A centralidade da Palavra de Deus empenha-nos em investimentos na leitura orante, para fecundar nossos planos pastorais e projetos evangelizadores, nossa vivência sacramental e nossa catequese; empenhados por uma formação consistente a todos nossos sacerdotes, religiosos e religiosas, evangelizadores, ministros, seminaristas, consagrados, aqueles que conosco trabalham em nossos centros de educação básica e superior, homens e mulheres, crianças, formadores de opinião e construtores da sociedade pluralista, no mundo do trabalho e da política. Estamos conscientes de quanto é urgente, desafiador e inadiável marcar a presença da Igreja nestes cenários, convictos como estamos de que ela é depositária do mandato do Senhor Jesus: «Ide, pois, fazer discípulos meus todas as nações…» (Mt 28, 19). Por isso, em sintonia com a Igreja Universal, particularmente com a Igreja da América Latina e do Caribe, conforme compromisso missionário assumido em Aparecida, fruto abençoado da V Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, nós nos articulamos corajosa e colegialmente para sermos, de verdade e sempre, uma Igreja em estado permanente de missão.
Santo Padre, abençoai-nos a nós e nossas labutas e nossa missão! Abençoai nosso povo, especialmente os sofredores, os idosos, e os mais pobres; abençoai nossas famílias, merecedoras de nossos especiais cuidados. Abençoai nossos sacerdotes, renovando eternos agradecimentos pelo dom do Ano Sacerdotal que certamente inaugurou uma nova etapa na santificação e na qualificação de nossos queridos sacerdotes, mostrando ao mundo muitos e abnegados, fiéis e incansáveis trabalhadores da messe do Senhor; o mundo que nos atacou sabe que o sacerdócio é dom, dom de Deus, sua presença amorosa, vencendo o maligno e firmando a vitória do bem.
Abençoai nossos seminários, institutos de filosofia e teologia; nossos seminaristas, religiosos e religiosas, homens e mulheres, leigos e leigas, razão de nosso serviço episcopal; abençoai nossas redes de comunidades de fé, nossos empenhos missionários. Entregamos tudo, particularmente a vida e o ministério de Vossa Santidade, aos cuidados maternos da amada Virgem Maria, invocada, no Estado do Espírito Santo, como Nossa Senhora das Alegrias, desde o século XVI, a Senhora da Penha, congregando multidões de peregrinos; e, no Estado de Minas Gerais, invocada desde o século XVIII sob o título de Nossa Senhora da Piedade, lá no alto da Serra da Piedade, magnífica arquitetura divina, a 1746 metros de altura, na Ermida da Padroeira, sua casa de clemência e bondade.
Esta tradição secular, fonte de inspiração e sustento espiritual, comemora um jubileu no próximo dia 31 de Julho: cinqüenta anos da oficialização pelo Beato João XXIII da Senhora da Piedade como Padroeira do Estado de Minas Gerais, e do Santuário como Santuário Estadual. À Virgem da Piedade, a Senhora da Penha, e confiantes nas súplicas de Vossa Santidade, pedimos: Alcançai-nos o que vos pedimos; guardai-nos na paz, livres de perigos e ciladas do maligno, comprometidos com a justiça, exemplares na solidariedade para que o mundo creia e se abra ao amor de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.