A procura e oferta de bênçãos não se restringem ao catolicismo. Há ritos e indicações para bênçãos em quase todas as grandes religiões, especialmente no judaísmo. Nós, católicos, as incluímos na categoria dos sacramentais. Conforme a Constituição Sacrosanctum Concilium “os sacramentais (…) são, à imitação dos sacramentos, sinais sagrados que significam realidades, sobretudo de ordem espiritual, e se obtêm pela oração da Igreja. Por meio deles dispõem-se os homens para a recepção do principal efeito dos sacramentos e santificam-se as várias circunstâncias da vida” (SC 60).
O Catecismo da Igreja Católica (CIC) privilegia, entre todos os sacramentais, “as bênçãos de pessoas, da mesa, de objetos e lugares (CIC, 1671)”. A Introdução Geral ao Ritual de Bênção, n. 8 afirma: “A Igreja recebe no mistério eucarístico a graça e a virtude pelas quais se torna ela mesma uma bênção no mundo: como sacramento universal de salvação”. A Eucaristia é a fonte de toda bênção. A partir daí entendemos: as bênçãos não nascem da fantasia eclesiástica, não são panaceia nem ritos mágicos. Há as bênçãos litúrgicas e aquelas mantidas pela tradição oral na piedade popular.
A plenitude da bênção divina é o próprio Jesus Cristo vivo e ressuscitado na palavra e na Eucaristia.
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Importa irmos ao nascedouro das bênçãos no Antigo Testamento para resgatá-las teológica e liturgicamente. Ir à raiz das bênçãos sugere uma imersão na história do antigo Israel. Sem fundamentação bíblica, as bênçãos se tornam rituais vazios, meros falatórios. Lidas na perspectiva da aliança de Deus com seu povo são sinais de um “bem-dizer” e de um “bem-querer”. Trazem sempre à mente a fartura da benevolência de Deus.
A história do povo de Israel é a história da bênção prometida a Abraão: “Farei de ti uma grande nação e te abençoarei: engrandecerei o teu nome, de modo que ele se torne uma bênção (…). Em ti serão abençoadas todas as famílias da terra” (Gn 12,2-3). A bênção abraâmica resultará no dom da fecundidade. Sara dá a luz a Isaac, mesmo em tão avançada idade ( Gn 9,11).
As bênçãos divinas manifestam-se nos mais distintos acontecimentos, culminando no resgate do povo eleito do cativeiro no Egito e na tomada de posse da Terra prometida. Tais intervenções do Senhor não serão esquecidas: “A lei, os profetas e os salmos que tecem a liturgia do povo eleito lembram essas bênçãos divinas e ao mesmo tempo lhes respondem mediante as bênçãos de louvor e de ação de graças” (CIC, n. 1081).
Desde Abraão a bênção divina impregna-se na história da humanidade e vai se transmitindo de geração em geração. O Deus da Aliança, durante o pacto do Sinai, estimula Israel à fidelidade, o que resultará em benefícios para o povo escolhido. “Servireis ao Senhor, vosso Deus, e ele abençoará teu pão e tua água, e afastará do teu meio as enfermidades”, (Ex 23,25).
Todo fiel recebe a bênção como herança, não para retê-la, mas para transmiti-la aos que o rodeiam: “Não pagueis mal com mal, nem injúria com injúria. Ao contrário, abençoai, pois para isto fostes chamados, para que sede herdeiros da bênção”, (1 Pd 3,9). A bênção em forma de hino que abre a carta aos Efésios afirma todas as riquezas da salvação recebida na pessoa de Jesus Cristo (Cf. Ef 1,3). Fundamentados na Sagrada Escritura, confiamos que o Pai, entregando por nós o seu próprio Filho, não poderia negar-nos o que quer que fosse (Rm 8,31). Afinal, a plenitude da bênção divina é o próprio Jesus Cristo vivo e ressuscitado na palavra e na Eucaristia.
Pe. Antonio Damásio Rêgo Filho
Pároco da paróquia Santa Teresinha
do Menino Jesus da Santa Face