Os padres Antônio Luzia, Eduardo Pedro Lopes, José Januário Moreira, Júnior Vasconcelos e Wellington Eládio representam a Arquidiocese de Belo Horizonte no Encontro Nacional dos Presbíteros, realizado em Aparecida (SP), de 26 de abril a 2 de maio. Organizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a partir da Comissão Nacional dos Presbíteros e da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, o Encontro, neste ano, teve como tema “Presbítero: discípulo do Senhor e pastor do rebanho”. O lema é: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, pois o Espirito Santo vos constituiu como guardiões” (At 20,28).
Na tarde de terça-feira, 1º de maio, os sacerdotes publicaram uma carta dirigida aos padres de todo o Brasil. Eis o texto:
CARTA DO 17º ENCONTRO NACIONAL DE PRESBÍTEROS
AOS PRESBITÉRIOS DESTE IMENSO BRASIL!
“Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho, pois o Espírito Santo vos constituiu como
guardiães …” (At 20, 28).
Como filhos de Deus e irmãos em Cristo, nós, 501 presbíteros, 8 Bispos e 2 Cardeais e demais convidados, representamos 213 de nossas 274 Igrejas Particulares, que formam a Igreja no Brasil, reunimo-nos, na Casa da Mãe Aparecida, entre os dias 26 de abril a 02 de maio de 2018, para rezar, conviver e experimentar a alegria de ser pastor, discípulo missionário do Senhor. Nosso encontro foi assessorado pelo Pe. Dr. Paulo Sérgio Carrara e o dia de espiritualidade foi orientado por Dom Cláudio Cardeal Hummes.
1- Presbíteros fazendo história nos ENPs
Neste 17º Encontro Nacional de Presbíteros do Brasil refletimos nossa identidade, espiritualidade e missão. Palavras como discipulado, pastoreio, intimidade com Deus e cuidado de si e do rebanho marcaram este encontro. Como eixo transversal, fez-se menção à realidade de sofrimento do povo. Nossas reflexões consideraram o momento de crise política, econômica, social, moral e ética da sociedade brasileira, em uma certa descrença de parte do povo nas lideranças e instituições; a perseguição, prisão e morte de irmãos presbíteros no Brasil e no mundo. Contemplamos também o Ano do Laicato e reafirmamos nossa comunhão e fidelidade ao Magistério da Igreja, na pessoa do Papa Francisco, na eclesiologia do Concílio Vaticano II, na Teologia da América Latina, nas Conferências do Episcopado Latino Americano e Caribenho e nas orientações da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
2 – Discípulo missionário do Senhor
Somos discípulos missionários de Jesus Cristo e para termos esta identidade e exercermos esta missão, faz-se necessário permanecer com Jesus Bom Pastor, com a firme convicção da presença do Espírito Santo em nosso ser, existir e agir. O discipulado nasce do encontro com o Senhor. Ser discípulo é deixar-se iluminar pela Palavra de Deus, nutrir pela Eucaristia e ser enviado em missão às mais variadas periferias existenciais do nosso tempo. Não podemos separar o ser discípulo do ser missionário e vice- versa. Vivemos na intimidade do Senhor e, por isso, convidamos, cada irmão e irmã, a ser também discípulo do Divino Mestre. O discípulo missionário é “luz do mundo e sal da terra” (cf. Mt 5,13-14). Estamos cientes de sermos chamados a vivermos em comunhão com o Senhor, escutando e testemunhando o Seu Evangelho, fazendo nossos os sentimentos d’Ele (cf. Fl 2,5) a serviço da comunidade e, como profetas, anunciando as propostas do Reino e denunciando as estruturas de pecado.
3 – Pastores do rebanho
Temos a consciência de que no exercício de nosso ministério somos “sacerdotes-profetas- pastores”. O termo “presbítero” expressa bem a dignidade do nosso ser, existir e agir. Neste mundo em constante transformação, bebemos nas fontes: da Palavra de Deus, da Tradição Apostólica, do Magistério da Igreja, da Liturgia, expressa também na religiosidade popular, para alcançarmos o ideal de pastorear o rebanho seguindo o exemplo de Cristo Bom Pastor.
Nosso ministério e nossa vida estão marcados pelo cuidado, diálogo, atenção, humildade, proximidade e fraternidade, misericórdia e ternura para com o Povo de Deus. Reconhecemo-nos pastores plasmados pelo Espírito Santo e somos capazes de apascentar o rebanho com leveza e profundo espírito evangélico, tendo a espiritualidade encarnada e atentos aos desafios do tempo presente.
Sabemos que a espiritualidade presbiteral tem como traço característico ser pastor. Como tal, nós temos o cheiro de cada ovelha e somos guias nas comunidades. Assumimos a responsabilidade de conduzir ao Senhor aqueles que, mediante a Igreja, o próprio Senhor nos confiou, protegendo-os dos “lobos vorazes”: ideologia, radicalismo, comodismo, fundamentalismo, individualismo, agnosticismo, relativismo e do perigo da dispersão. Trabalhamos para a transformação do mundo à luz do Evangelho. Como pastores, somos constituídos pelo Espírito Santo como guardiães da Igreja de Deus, isto é, da Tradição, na fidelidade no serviço ao Senhor. Essa missão se constitui numa autoridade evangélica, no serviço cuidadoso e amoroso daquele tesouro de Deus, que é cada ser humano.
4 – Cuidai de vós mesmos e de todo rebanho
O cuidado de si e do rebanho se ligam mutuamente. No “cuidado de vós mesmos”, situa-se a Pastoral Presbiteral, chão da organização de nossos presbitérios, que promove a espiritualidade de comunhão entre bispo e presbíteros. Da experiência de ter-se encontrado com Jesus Cristo nasce o convite para que cultivemos integralmente o cuidado do rebanho, a Igreja, Povo de Deus, toda ministerial; Igreja, comunidade de comunidades, no resgate do sentido do ministério como serviço, no qual os leigos, consagrados e ministros ordenados promovam a obra evangelizadora.
A Pastoral Presbiteral, no nosso testemunho, trabalha a necessidade da formação permanente, aprofunda conhecimentos teológico no mundo atual. Ela também fomenta as necessidades de cuidado físico, afetivo, psicológico, relacional, intelectual, pastoral e espiritual. Ajuda na conversão para uma Igreja em saída, Igreja Missionária. Na dimensão humana, incentiva a utilização de meios para alcançar a maturidade em Cristo, como homens integrados e realizados. Isso acontece no cultivo do senso crítico e de unidade com a diocese; o autoconhecimento e a capacidade de se relacionar; a integração positiva e oblativa da sexualidade como celibatário e a promoção da capacidade de trabalho em equipe; o zelo pastoral e o uso sadio do dinheiro e dos bens como meios de partilha e comunhão. Na dimensão comunitária, promove a experiência concreta da fraternidade presbiteral por meio da hospitalidade, da comunhão de bens, da solicitude com os irmãos idosos e doentes, com colegas em situação de crise e isolamentos, e/ou sobrecarregados, como também, da correção fraterna, da ajuda mútua e do lazer realizado em conjunto. Na dimensão espiritual, incentiva o cultivo da espiritualidade com base na caridade pastoral, que dê sentido e vigor ao agir pastoral, bebendo nas fontes da Palavra, Tradição e dos Sacramentos, na oração pessoal e comunitária, na liturgia, na direção espiritual, na vida em comunidade, no cultivo da devoção à Nossa Senhora e no serviço aos pobres e sofredores. Na dimensão intelectual, desperta especialmente o aprofundamento teológico-pastoral e bíblico. Na dimensão pastoral-missionária, promove a necessidade de conhecer a cultura atual e as transformações sociais, a fim de responder mais eficazmente às necessidades do Povo de Deus. Sente a necessidade de rever costumes, estilos, horários, linguagens e estruturas. Percebe a necessidade de presbíteros profetas sensíveis aos problemas do povo, comprometidos com a justiça e que se põem ao lado dos pequenos, dos pobres e daqueles que a sociedade descarta e lança fora (cf. Evangelii Gaudium n. 195).
5 – Intimidade com Deus
A intimidade com Deus sustenta nosso ministério e vida. O ardor pelo cuidado do Povo de Deus se fortalece na oração, por isso, rezamos e ensinamos os fiéis a rezar. Como ato litúrgico, a oração exerce papel fundamental na relação filial da assembleia com Deus. Ela serve para reunir a comunidade e, segundo a Sacrosanctum Concilium, “Glorifica a Deus e santifica a pessoa-humana” (cf. SC, n. 7; 10). Por outro lado, a celebração litúrgica não deve se converter em evento social, para promover diversão religiosa, na qual se perde a dimensão do mistério. Também não se deve fechar no tradicionalismo e rigorismo litúrgicos. Além disso, cabe-nos evitar o exibicionismo e a vanglória pela observação de normas e rubricas; o mundanismo, o comodismo, o fetichismo e o fascínio pelas conquistas sociais e políticas; o fundamentalismo e seus princípios puramente doutrinais (cf. Evangelii Gaudium n. 60;63;93-101). Que na celebração eucarística resplandeça a nobre simplicidade (cf. Sacrosanctum Concilium, n. 34). A Igreja responderá melhor às necessidades espirituais das gerações presentes e futuras pela vivência do Evangelho. O segredo reside na nossa maturidade de fé, na renovação teológica, espiritual e pastoral.
6 – Enviados como pastores
Aqui, da casa da Mãe Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, Santuário dos romeiros e peregrinos, nós, presbíteros da Igreja no Brasil, no empenho de nos configurar sempre mais a Jesus Bom Pastor, somos enviados como Seus discípulos missionários para cuidar do rebanho a nós confiado. Maria, Mãe Aparecida, primeira discípula e testemunha da alegria, segure nossas mãos e nos ajude a caminhar. Inspire-nos o testemunho de São João Maria Vianney, nosso patrono. Assim seja.
Aparecida, São Paulo, 2 de maio de 2018