Pessoas em situação de rua e catadores de materiais recicláveis no lançamento da campanha “Eu tenho direito a ter direitos”, apoiada pela Arquidiocese de BH
A Central de Acolhida do Vicariato para a Ação Social e Política realiza importante trabalho junto aos mais necessitados. Por ela, passam todos aqueles que recebem o apoio da Arquidiocese de BH, em momentos de dificuldade. Por meio desse serviço, a Igreja renova, todos dias, sua opção pelos pobres. O serviço funciona como uma espécie de centro de triagem que encaminha as pessoas para as pastorais da Arquidiocese, monitorando e acompanhando os atendimentos.
Atuar na linha da conscientização dos direitos e deveres da pessoa em situação de rua é prioridade para o ano que se inicia |
Para 2014, a meta é intensificar o trabalho com os presos, numa linha do cuidado com a saúde e reeducação para o convívio familiar e social. “É algo que já estamos realizando com excelentes resultados. E, por saber que dá certo, queremos ampliar essas ações, fazendo-as chegar a todas as penitenciárias e unidades prisionais. Afinal, se não nos preocuparmos em trabalhar pela reinserção social de nossos irmãos que cometeram crimes, a tendência é que eles repitam seus erros e retornem aos presídios”, explica a coordenadora de projetos da Central de Acolhida, Cirlene Lima Ferreira.
Trabalhar a questão da saúde dos moradores em situação de rua, com especial atenção para a prevenção da Aids, e atuar na linha da conscientização dos direitos e deveres do cidadão, segundo a coordenadora de projetos, é outra prioridade para o ano que se inicia. “Muitos que vivem nas ruas estão em contato com as drogas e sujeitos à contaminação pelo HIV, outras, às vezes não têm documentos e nem condições de buscar um lugar no mercado de trabalho, por causa da burocracia. Elas sequer conhecem seus direitos e, por isso, têm dificuldades de se fazer respeitar. E é aí que a gente atua, instruindo e dando todo o suporte para que possam conquistar não só um emprego, mas um novo modo de viver”.
Novos tempos, novos desafios
Cirlene Lima Ferreira |
A piora da qualidade de vida dos menos escolarizados, de acordo com Cirlene Ferreira, será outro ponto que merecerá maior atenção em 2014. “ A globalização e o atual momento econômico tem marginalizado o trabalhador que tem menor grau de instrução. Com isso, mesmo com o crescimento salarial e oferta de emprego, essas pessoas estão vivendo pior, chegando à situação de miséria. É preciso olhar por elas e reservar as colocações que exigem menos escolaridade”, observa.
O trabalho da Central de Acolhida, tem como diferencial olhar para os mais necessitados no contexto em que vivem, com as dificuldades que enfrentam em todos os setores da vida |
Cirlene Ferreira observa que o trabalho da Central de Acolhida, tem como diferencial olhar para os mais necessitados no contexto em que vivem, com as dificuldades que enfrentam em todos os setores da vida, e não só naquele os levaram a procurar ajuda. Com a finalidade de atender às demandas materiais e de evangelização, proporcionando meios para que os beneficiados resgatem a dignidade, sendo agentes de transformação da própria vida é que o serviço foi estruturado em 2006, pelo arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira da Azevedo.
A média é de 40 atendimentos diários. E nesse contingente expressivo de pessoas necessitadas estão dependentes químicos, moradores de rua, vítimas de violência doméstica, famílias em estado de vulnerabilidade social, crianças, adolescentes, e idosos vítimas de abandono e maus tratos.
Conforme a coordenação da Central de Acolhida, a metodologia utilizada está estabelecida em dois eixos. O primeiro, promover o atendimento da demanda de maneira pontual. Por exemplo, se um morador de rua não é de Belo Horizonte e deseja retornar para junto da família ou para um local onde tenha mais estabilidade, a Central providencia o deslocamento. Por meio desse trabalho, segundo Cirlene Lima Ferreira, coordenadora de projetos, muitos moradores de rua já conseguiram resgatar os laços familiares. O Segundo eixo é fazer com que as pessoas atendidas sejam protagonistas de suas vidas, o que é feito procurando ressaltar as potencialidades de cada um.
O olhar de misericórdia da Igreja
Cirlene, que também é representante da Arquidiocese de Belo Horizonte e presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, explica que o acolhimento começa com uma escuta meticulosa que orienta todo o processo de reinserção social. “A equipe de voluntários e funcionários da Providencia Nossa Senhora da Conceição vai até onde a família está, para tomar conhecimento das necessidades e ajudar no processo de definição de prioridades. “Primeiro, procuramos resolver o que é urgente. Depois, trabalhamos em conjunto para que a reinserção social garanta dignidade e qualidade de vida”.
“No meu trabalho, me inspiro muito numa de frase de Nelson Mandela: Tudo parece impossível, até que seja feito” |
A presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos atribui as conquistas ao olhar solidário da Igreja e à participação ativa das paróquias e comunidades, o que ela considera importante diferencial em relação aos atributos exclusivamente técnicos, levados em conta por outras instituições. “O olhar da misericórdia vence as barreiras. É preciso visualizar, com amor e solidariedade o outro lado. Aquele onde estão a ausência de formação pessoal e profissional, o sofrimento material, afetivo e espiritual. É muito gratificante”, afirma.
Pessoas acamadas que se encontram em casa e precisam de cuidados especiais também são beneficiadas pela Central que fornece medicamentos, produtos de higiene e de limpeza. Os agentes articulam uma rede de proteção social envolvendo vizinhos, o comércio da região e os postos de saúde. “Essa articulação é necessária, pois as pessoas têm boa vontade, mas não são preparadas profissionalmente para cuidar de doentes e nem podem arcar com os custos materiais pois, a maioria não usufrui de situação privilegiada”, observa Cirlene Ferreira
O retorno positivo dessa mobilização pelos mais necessitados, de acordo com a Coordenadora da Central de Acolhida, acontece quando a instituição começa a receber as mesmas pessoas às quais deu suporte, em outra condição. Elas retornam para ajudar. “No meu trabalho, me inspiro muito numa de frase de Nelson Mandela: Tudo parece impossível, até que seja feito”, afirma Cirlene Ferreira