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Raízes judaicas da homilia (2)

Outra importante fonte judaica para a compreensão da homilia é o midraxe. Essa “literatura” do riquíssimo patrimônio dos nossos irmãos mais velhos nos oferece elementos para fundamentar a prática homilética de nossas liturgias. O sentido de Midraxe pode ser assim apresentado:

De modo geral, falamos midraxe para designar a antiga exegese judaica em seu conjunto. Em sentido mais preciso, a palavra pode designar um livro ou uma coleção de livros, reunindo comentários rabínicos sobre um tema, um livro bíblico ou um conjunto de livros bíblicos: o Midrash Rabba (coleção de comentários sobre o Pentateuco e sobre os cindo Rolos), o Midrash sobre os salmos etc.

 

Podemos, por fim, utilizar o termo midraxe para designar uma pequena unidade literária sobre uma passagem bíblica ou sobre determinado assunto: falar-se-á, então, de um midraxe ou de midraxes: os midraxes sobre a infância de Moisés, sobre o dom do maná etc. Acrescentemos que é possível encontrar midraxes nos livros que não são designados pelo termo geral midraxe. Alguns dos midraxes reproduzidos neste volume são tirados da Mixná ou do Talmud .

Dentre os princípios do
midraxe destaca-se a origem divina das Escrituras: por meio delas Deus nos comunica vida e nenhuma explicação pode esgotar lhe o sentido

O termo vem de darash, verbo que significa procurar, escavar, como quem revolve a terra. Em última instância, o midraxe é o esforço contínuo de procurar Deus nas Escrituras, pois ele é o sentido último da vida dos fiéis. Daí o sentido existencial dos midraxes enquanto aplicação das Escrituras às situações concretas da vida.

O midraxe tem alguns princípios importantes. Dentre eles destacamos a origem divina das Escrituras: por meio delas Deus nos comunica vida e nenhuma explicação pode esgotar lhe o sentido. A unidade da Escritura: a Bíblia explica a Bíblia e, embora tenha sido escrita em tempos e situações diversas, todos os seus escritos se relacionam e convergem para o seu sentido último. Os autores do midraxe demonstram grande intimidade com a Escritura: sabem-na de cor e relacionam com naturalidade os trechos da Bíblia e tratam a Escritura com reverência e paixão.

Um exemplo de midraxe, nos permite verificar o seu caráter homilético, existencial e também seu estilo didático que facilita a acessibilidade:

Ouvi-me e haveis de viver (Is 55,3). Israel é de tal forma amado por Deus que este o atrai com os seguintes termos: se um homem cai do telhado e todo seu corpo fica ferido, o médico é chamado, coloca-lhe bandagens na cabeça, nos braços, nas pernas, em todos os seus membros, a ponto de ficar completamente envolvido por ataduras. Mas Eu, eu não procedo assim. Existem no homem duzentos e quarenta e oito membros e o ouvido não é senão um dentre todos; entretanto, se o corpo inteiro está manchado pelo pecado, mas o ouvido escuta, todo o corpo recebe a vida: Ouvi-me e haveis de viver. Por isso, está escrito: Ouvi a Palavra do Senhor, casa de Jacó (Jr 2,4).

Os princípios que regem essa forma exegética se verificam no Novo Testamento. Exemplo notável é o episódio de Emaús: Jesus recorre às Escrituras para dar sentido às situações concretas da vida (Lc 24,25-27). Ele relaciona Moisés, os profetas e os escritos (24,27.44). O coração outrora lento para compreender passa a arder (24,25.32). Retomam o caminho reanimados pelo encontro com o Senhor na Palavra e no Pão partilhado (24,33), testemunhando a vida que vence a morte (24,34-35).

Exercício de observação

As homilias das celebrações da comunidade falam à vida da gente? Elas nos reanimam a retomar o caminho, adquirindo gosto de viver? O presidente demonstra intimidade com as Escrituras?

Pe. Danilo Lima
Liturgista



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