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Quando a juventude é o alvo da violência, em vez de ser o futuro do país

 
 
O que o Brasil, Quênia, México e Nigéria têm em comum?
 
Em todos esses países os jovens são as principais vítimas da violência. Em todos, as autoridades estatais são as responsáveis, seja porque há envolvimento direto de policiais ou militares, seja por causa da corrupção, impunidade ou incompetência. Na raiz da violência há sempre uma história de preconceito, intolerância e desigualdade. Em todos, regiões inteiras dos países ou de grandes centros urbanos são relegadas à pobreza e ao isolamento.

Quênia, Abril de 2015. #148NotJustaNumber 
 
No dia 2 de abril, quatro homens armados do grupo Al-Shabaab invadiram uma universidade no norte do Quênia e mataram 148 pessoas, a grande maioria jovens estudantes cristãos. Na Internet, uma campanha que usa o hashtag #148notjustanumber (148 não é apenas um número) tenta dar visibilidade ao massacre e às vítimas. Cada mensagem é acompanhada de fotos dos jovens mortos, muitas vezes sorridentes, sempre cheios de vida.
 
Ao mesmo tempo, pedem para não difundir mais as fotos do massacre, por respeito às famílias. Para sensibilizar o mundo, melhor mostrar como eram os jovens quando ainda pensavam ter toda a sua vida pela frente.
 
Rio de Janeiro, Abril de 2015. #PaznoAlemão 
No mesmo dia 2 de abril, em operação no Complexo do Alemão, a polícia militar assassinou Eduardo Jesus Ferreira, de 10 anos, na porta da sua casa. Infelizmente, não é um caso isolado.
Segundo a Anistia Internacional, 56.000 pessoas foram assassinadas no Brasil em 2012. Mais da metade destas eram jovens entre 15 a 29 anos e, desse total, 77% eram negros. A maioria dos homicídios foram praticados por armas de fogo, e apenas uma pequena minoria (menos de 8% dos casos) chegaram a ser julgados.
 
México, Setembro de 2014. #YaMeCansé 
 
No dia 26 de setembro de 2014, 43 estudantes universitários desapareceram em Iguala, no sul do México. Eles foram sequestrados, assassinados, queimados e esquartejados. E depois colocados em sacos de lixo e jogados em um rio, tudo isso com a ajuda de policiais, narcotraficantes e governantes locais.
 
Em 2013, a ONG Human Rights Watch divulgou relatório denunciando que na maioria dos casos de desaparecimento forçado há a participação de forças do Estado. Segundo o próprio governo, mais de 22 mil pessoas desapareceram no México desde que começou a “guerra contra o narcotráfico”, em 2006.
 
Nigéria, Abril de 2014. #BringBackourGirls  
 
Há um ano, o grupo Boko Haram sequestrou mais de 200 meninas de uma escola no nordeste da Nigéria. Apesar da comoção mundial criada pelo caso, até hoje as meninas estão desaparecidas. Também esse não é um caso isolado. Boko Haram está sequestrando meninas há muito tempo. Atuam em uma região pobre e com escassa presença do Estado.
 
Em todos esses casos, as mortes e desaparecimentos poderiam ter sido evitados. O que dá esperança de um futuro melhor é que, também em todos os casos, há uma sociedade civil ativa que exprime sua indignação e busca soluções. No Brasil, vale a pena checar a campanha “Queremos ver os jovens vivos”, lançada pela Anistia Internacional.

Marisa von Bülow
Doutora em ciência política e professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília
Estuda as relações entre Internet e ativismo político e movimentos sociais nas Américas
 


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