Você está em:

Por que se beija o altar?

Na Celebração Eucarística, quando a Procissão de Entrada chega ao seu destino, o altar, os ministros o saúdam com uma reverência e um beijo. Alguns já perguntaram: beijar uma pedra ou uma mesa. Que sentido tem? Muito bem. Se partirmos para a experiência cotidiana, sabemos que demonstrações de afeto para com objetos não é algo tão estranho assim. A dimensão simbólica da nossa vida nos impulsiona a representar aqueles que amamos ou as situações que damos valor por terem alguma importância para nós. Esta “representação”, que em sentido simbólico não é uma mentira ou falseamento, torna presente a pessoa ou o fato. Deste modo, tão comum pode ser beijar uma correspondência, um anel, uma foto, abraçar um urso de pelúcia, etc. como manifestação do carinho por alguém ou alguma circunstância. Poderíamos, portanto, afirmar o mesmo no que se refere ao Altar, que é o lugar no qual a presença de Cristo se faz.
 

Beija-se o Altar, porque Ele é Cristo, lugar onde Deus mesmo se oferece a nós. Beija-se a Mesa do Banquete, porque é nela que o vínculo entre o Pai e o Filho transborda nos alcança e nos envolve

Entretanto, não apenas por isso. O beijo, na tradição bíblica da qual a maioria dos gestos litúrgicos recebe seu significado, não é primeiramente demonstração de afeto. O beijo tem o caráter de selo, vínculo, bem como pode ser um gesto pelo qual se transmite ou se troca algo. O Salmo 2,12 por exemplo, fala que os reis devem beijar os pés do Senhor Deus, para que não morram. Na parábola de Lucas sobre o “filho pródigo”, o pai pelo beijo reconhece e transmite àquele que se sente servo o amor paterno que o reabilita como filho. (cf. Lc 15,20)

Na Liturgia, beijar o Altar para saudá-lo é um rito muito antigo. Em algumas épocas, aquele que presidia, depois de beijar o Altar e o Livro dos Evangelhos, beijava também os que estavam próximos. Muitíssimo expressiva, essa ação simbólica realizava o vínculo que se celebrava ao redor do Altar, que também é Mesa do Banquete nupcial. Após oscular o Noivo (Altar e Evangeliário), aquele que presidia e representa sacramentalmente o Cristo Pastor, selava sua aliança com seu rebanho. Beija-se o Altar, porque Ele é Cristo, lugar onde Deus mesmo se oferece a nós. Beija-se a Mesa do Banquete, porque é nela que o vínculo entre o Pai e o Filho transborda nos alcança e nos envolve. Neste sentido, ainda fiéis à tradição bíblica, o beijo é ocasião de soprar para dentro de nós o Espírito de Jesus que nos faz – em seu amor – Filhos amados, família de Deus.

A tradição litúrgica, com o passar do tempo, vai modificando-se. Algumas coisas se perdem, outras são acrescidas, outras ainda reencontradas e reintegradas aos usos e costumes por seu valor para a fé. A saudação do Altar em nossa tradição romana ficou ligada aos que assumem o sacerdócio ministerial (padres e bispos). Em nossa comunidade, no entanto, todos os que servem a Cristo na celebração beijam o Altar. E ao invés de trocarem o gesto entre si, saúdam-se uns aos outros com uma inclinação, como na tradição monástica, no intuito de reconhecer e manifestar uns nos outros a presença do Filho Amado.
 

Pe. Márcio Pimentel
Liturgista



Novidades do Instagram
Últimos Posts
Siga-nos no Instagram
Ícone Arquidiocese de BH