O Mês da Bíblia nasceu no chão da nossa Arquidiocese de Belo Horizonte, em 1971, por ocasião do seu cinquentenário. A Irmã Neli Manfio, paulina, que participou da “origem” dessa celebração nos conta que “todas as forças vivas da cidade foram convidadas a apresentar sugestões para a comemoração desse grande acontecimento. Então, levou-se à dom João de Rezende Costa e ao Conselho Presbiteral, a proposta de realizar um vasto e profundo movimento bíblico durante o mês de setembro, que atingisse todos os segmentos da Arquidiocese de Belo Horizonte”. Após alguns anos, esse movimento foi assumido pelo Regional Leste II, até posteriormente ser assumido pela Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) e estender-se ao âmbito nacional.
São 44 anos ininterruptos, com a ativa participação das Irmãs Paulinas, proporcionando o encontro com a Palavra de Deus para torná-la ainda mais conhecida, amada e vivida. Neste ano, refletiremos sobre os Discípulos Missionários a partir do Evangelho de João, com o lema: “Permanecei no meu amor, para dar muitos frutos” (cf. Jo 15, 8-9).
Discípulos Missionários a partir do Evangelho de João
O Evangelho segundo João começa com uma releitura da Teologia da Criação, servindo-se do Livro de Gênesis 1,1: “No princípio era a Palavra e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus” (Jo 1,1). Considera-se também, um elemento chave dessa Teologia que é a vida, visto que Deus é o criador da vida. Não por acaso, a comunidade do quarto Evangelho compreende, como aquele que vem trazer vida em abundância para todas e para todos (Jo 10,10).
João cita aproximadamente 36 vezes a palavra “vida”, mais que o dobro dos outros Evangelhos e geralmente vem acompanhada da expressão “eterna” (aproximadamente 17 vezes). A vida eterna não é somente a vida após a morte, mas é viver o nosso cotidiano conforme o projeto de Deus, que deseja vida plena aqui e agora, como diz uma canção popular: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Por isso, a tradição associou o quarto evangelho à águia, capaz de atingir os mais altos cumes celestes, mas com o olhar penetrante na profundidade terrestre. O leitor precisa de asas para elevá-lo ao alto, mas é necessária a capacidade de discernir a realidade daqui de baixo.
O Filho Unigênito, a Palavra que vem de Deus, o enviado do Pai, encarnando-se na história e retornando ao Pai como o Filho Glorioso e Todo Poderoso, envia o Espírito sobre os discípulos para que possam continuar a sua missão, como anunciadores do Reinado de Deus. Nós também somos convidados a crer que Jesus Crucificado é o Glorificado e Ressuscitado e acreditar no seu plano salvífico, que envolve a todos e a totalidade do ser humano.
Quem é o autor do quarto Evangelho?
Antes do ano 200 da E.C.1 os Padres da Igreja atribuíram o quarto evangelho ao apóstolo João. No entanto, nota-se que este apóstolo é citado implicitamente somente no acréscimo feito a este Evangelho (Jo 21,2), ao referir-se aos “filhos de Zebedeu”, que conforme Mc 3,17 eram Tiago e João.
Sabe-se que a redação desse Evangelho não aconteceu num só momento, mas é o resultado da vivência de uma ou várias comunidades. Nasceu aos poucos, resultado da fé e da luta de várias gerações e de pessoas como nós. Por isso, o Evangelho segundo João não é simplesmente uma biografia de Jesus, sua morte e ressurreição, mas une em um único texto, o tempo de Jesus e a trajetória das comunidades. Comunidades estas, que levaram as experiências de Jesus adiante, os obstáculos que elas superaram e os que ainda enfrentavam à data de sua redação. Por isso, podemos considerá-lo herança de uma comunidade, em que o ato de crer e amar eram o valor absoluto, capaz de tornar todos iguais.
Onde e quando foi escrito?
Este Evangelho é gerado dentro processo que se inicia na Síria ou ao norte Palestina e se conclui na Ásia Menor, talvez em Éfeso. A primeira redação surge após a morte de Jesus e a pregação dos primeiros apóstolos. A segunda aparece por volta dos anos 70 E.C. depois da destruição do templo de Jerusalém. E, finalmente, o livro é concluído no final do primeiro século, entre os anos 90 e 100 E.C.
Qual era a principal finalidade?
Em Jo 20,30-31, o autor apresenta a finalidade do quarto Evangelho: “Jesus fez ainda, diante de seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Esses, porém, foram escritos para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome”. Deste modo, acredita-se que a finalidade era orientar o posicionamento da comunidade, a partir dos critérios apresentados por Jesus de Nazaré. Critérios que apontam para a certeza da vida, para quem é fiel a Jesus e se envolve na comunidade. Mas, não deixa de ser intrigante, pois essa comunidade, por causa de sua fé, pelo fato de seguir alguém que foi crucificado e humilhado, está sujeita às mesmas humilhações e perseguições.
Assim, diante deste contexto, o quarto Evangelho quer fortalecer a adesão, o acreditar em Jesus Cristo, para resistir às perseguições e pressões, mantendo a fidelidade ao seu projeto de vida, e vida em abundância.
Concluindo, o tema escolhido fundamenta-se nos cinco aspectos essenciais do processo do discipulado: o encontro com Jesus Cristo, a conversão, o seguimento, a comunhão fraterna e a missão. Já o lema “Permanecei no amor, para dar muitos frutos” (cf. Jo 15,8-9), é um grande convite em permanecer no Senhor para sermos verdadeiros discípulos do Reino. É um duplo movimento: de estar com Jesus (discipulado) e sermos uma “Igreja em saída” (missionário), como nos convoca o Papa Francisco.
Fonte: Fascículo “Mês da Bíblia 2015” – produzido pelo Serviço de Animação Bíblica – SAB/Paulinas:
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