Às vezes filho, às vezes pai, desempenhamos diferentes papéis ao longo da vida e, para eles, somos constantemente desafiados |
Há algumas semanas participei como ouvinte de uma reunião de pais. O tema proposto ao grupo era o papel dos pais na educação, assunto que, vamos e venhamos, dá conversa para incontáveis reuniões.
A educação é tema amplo e delicado até para os especialistas. Em conversa de pais torna-se recorrente, porque, além da qualidade do que os filhos aprendem na escola, o questionamento que mais aflige os pais é saber como eles próprios estão se saindo nas lições da vida, aquelas que melhor se aprendem em casa do que na rua.
Saber como os pais refletem a respeito do seu papel de educar os filhos é enriquecedor, mesmo que a contribuição venha de um pequeno grupo e que a reunião termine com mais perguntas do que respostas. Pois o diálogo e a troca de experiências favorecem um novo olhar sobre o que está à nossa volta.
Competência instalada
Alguém já nasce com alguma competência instalada? Essa foi a primeira provocação do coordenador do grupo de pais, logo seguida de outra: O processo de educação é a junção de igualdades e deficiências de pai e mãe.
As respostas vieram aos poucos, nem sempre complementares (o que era de se esperar), mas todas com algum elemento motivador para a reflexão:
1) Não procurar o ótimo já é um bom começo;
2) Encarar a situação do jeito que está e ir se desenvolvendo;
3) Associar a educação com a curiosidade da infância;
4) Respeitar as diferenças, os limites, saber até onde se pode ir;
5) O desenvolvimento (do processo de educação) é lento e o jovem tem pressa;
6) A base moral é importante;
7) Estamos inseridos em um contexto muito violento. A gente supre as necessidades básicas, mas, quando eles crescem, esse papel fica estranho. Quanto eu posso melhorar como pessoa para oferecer ambiente saudável, harmonioso, como se relacionar com os familiares?
As crianças mudam, os pais mudam, o mundo muda e isso, em velocidade fantástica Antes de buscar respostas, os pais devem fazer as perguntas certas |
Para dar novo impulso à participação dos pais na roda de conversa, o coordenador do grupo fez observações interessantes. Lembrou a todos que criar uma expectativa não pautada na realidade gera frustração. Considerou que ninguém está suficientemente preparado para fazer qualquer coisa e que a regra para educar não pode ser igual para todos, porque os filhos são diferentes. A individualidade é instrumento de desenvolvimento, acrescentou ele.
Equilíbrio em movimento
A rotação da Terra é de 1.700 km/hora e a translação (a volta em torno do sol) é de 107 mil km/hora, disse o coordenador do encontro para destacar que o equilíbrio é um movimento constante. Por que isso? Para pautar os pais para uma nova reunião sobre o tema.
Segundo ele, as crianças mudam, os pais mudam, o mundo muda e isso, em velocidade fantástica. Antes de buscar respostas, os pais (embora a recomendação seja válida para todos) devem fazer as perguntas certas. E mais: dar atenção a algumas coisas aparentemente simples.
Usou a imagem do quebra-cabeça para falar de método: primeiro as peças são separadas por cor, depois por formato… No entanto, racionalidade não resolve tudo. Comportamento não tem racionalidade.
A educação precisa de tempo, melhor dizendo, a educação precisa que os pais deem um pouco do seu tempo para os filhos todos os dias. A educação também precisa que os pais deem o exemplo, mas não só ele. Para valer, a educação precisa do exemplo e da coerência. Ou seja, os pais devem dar o exemplo e se manterem coerentes quanto a ele. Não basta dizer, é necessário fazer o que diz. O grau de aderência dos filhos aos pais que fazem o que falam é significativo.
Para terminar, deixo para o leitor uma última reflexão. Às vezes filho, às vezes pai, desempenhamos diferentes papéis ao longo da vida e, para eles, somos constantemente desafiados. Como bem disse o coordenador do grupo de pais, educar é um exercício de vida. Temos responsabilidade com esse papel e é sempre bom lembrar que responsabilidade não significa obrigação, mas oportunidade. Só se dá responsabilidade a quem possa exercê-la.
Lucila Cano
Redatora publicitária e ssessora de imprensa
Formada em Comunicação Social pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP (SP)