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Papa Francisco, sinal de esperança

A grande imprensa inicia já a silenciar a figura do Papa. Os veículos de comunicação vivem de notícias. O cotidiano comum não merece ser considerado. Passado o tempo de exposição do Papa Francisco, só os que seguem de perto as homilias, os gestos, as primeiras decisões começam a fazer conjecturas sobre o caminhar da Igreja.

Três dimensões marcam a pessoa pública. O histórico existencial recolhe o percurso da vida anterior. Todo o vivido tem importância. Dificilmente alguém de fora da própria pessoa consegue medir o real impacto dos fatos passados.

A imprensa, porém, vasculha a vida do personagem. Escolhe alguns fatos para ela relevantes e, sobretudo, provocantes. Lança-os ao ar como se eles a definissem. Assim nascem as primeiras imagens que dela se formam. Mas o leitor desavisado engana-se facilmente, ao identificá-la com esses traços. O histórico existencial também se decide pelos fatos vividos, mas, especialmente pela maneira como a pessoa os elabora ao longo da vida.
 

Então vem o presente. Ele se constrói com a vida passada e com o novo momento a viver. Expressa-se pelos gestos que a pessoa começa a manifestar na nova situação.  De novo, a mesma curiosidade. Nem sempre o que mais impacta o público revela a verdade da pessoa.
        
E a terceira dimensão vem dos desafios que a nova missão impõe e que reformata toda a vida da pessoa. A partir dessa breve reflexão, a figura do Papa Francisco entende-se dentro dos limites de cada dimensão.       
 

O Papa Francisco surpreende desde o primeiro dia até hoje com toques de simplicidade, de proximidade com o povo, de humildade.

O passado nos fala de alguém que viveu experiências difíceis e turbulentas por causa do momento conjuntural que a Argentina, seu país de origem, experimentava durante o regime militar. Francisco, naqueles idos, exerceu funções de responsabilidade como superior jesuíta. A mídia reduziu-lhe praticamente o histórico existencial a esse período de vida, tecendo-lhe a imagem com alguma dose de ambiguidade.

Mas toda pessoa, sem exceção, é muito mais do que momentos da existência. Por isso, os sinais do presente gozam de importância. Revelam a síntese que ela fez da vida. E agora tais sinais ocupam a mídia leiga e religiosa.

O Papa Francisco surpreende desde o primeiro dia até hoje com toques de simplicidade, de proximidade com o povo, de humildade. No meio ao fausto romano renascentista, tenta introduzir, nos mínimos pormenores, elementos da tradição franciscana de despojamento, de naturalidade. E a partir de tais gestos, entende-se também muito da vida anterior de arcebispo de Buenos Aires, inserido no meio popular.
       
Olhando para o futuro com as duas leituras anteriores, espera-se que ele introduzirá mudanças no conjunto do sistema eclesiástico presente. Une a experiência de situações difíceis com a sinceridade e amabilidade na vida junto ao povo. Para modificar o esplendor e a rigidez de tradições supõe coragem e determinação. E para impregnar a mudança com espírito evangélico precisa de vida simples, pobre, bem junto aos prediletos de Deus, sem medo, como Jesus, dos juízos dos poderosos do Império e do Templo. 

A ponderação do discernimento jesuíta e o espírito franciscano do nome fazem excelente combinação para traçar novos rumos para a Igreja em busca de ser presença no mundo de hoje.

 

Pe. João Batista Libanio, SJ
Professor da Faculdade Jesuíta de
Teologia e Filosofia (FAJE)

 



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