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Papa Francisco reflete sobre temas fundamentais no cotidiano do sacerdócio: “Um padre deve estar perto do povo”

Em um longo diálogo  com seminaristas e sacerdotes que estudam em Roma, o Papa Francisco meditou sobre  numerosos tópicos, fundamentais no cotidiano dos sacerdotes: do estilo compassivo dos padres, chamados a estar perto do povo, à direção espiritual, do uso das novas tecnologias ao discernimento, do diálogo entre ciência e fé ao papel da Igreja nas guerras.

O bom sacerdote e o estilo de Deus

A uma pergunta feita sobre a concretude da misericórdia, o Papa respondeu que é necessário aprender a linguagem dos gestos que expressam proximidade e ternura. E isto também se aplica nas homilias: “deixar que a expressão seja total”. “Se você não é humano com gestos, a mente também endurece e no sermão você dirá coisas abstratas que ninguém entende, e alguém será tentado a sair para fumar um cigarro”. O Santo Padre falou de três linguagens que revelam “a maturidade de uma pessoa: a linguagem da cabeça, a linguagem do coração e a linguagem das mãos” e encorajou a aprender a se expressar “nestas três linguagens: pensar o que sinto e faço; sentir o que penso e faço; fazer o que sinto e penso”. E também é preciso assumir o estilo de Deus, que é a proximidade. Deus “se tornou próximo na encarnação de Cristo. Ele está perto de nós”. “Um bom sacerdote é um próximo compassivo e terno”, esclareceu Papa Francisco, reiterando novamente que o estilo de Deus “é sempre proximidade, compaixão e ternura. E você está próximo com paixão e ternura”.

Manter o contato com o povo de Deus

Aos que lhe perguntavam como viver o sacerdócio sem perder aquele cheiro de ovelhas que deve ser próprio do ministério sacerdotal, Francisco respondeu que, mesmo que se esteja empenhado nos estudos ou em trabalhos na Cúria “é importante manter contato com o povo, com o povo fiel de Deus, porque há a unção do povo de Deus: são as ovelhas”. Perdendo o cheiro das ovelhas, ao se distanciar delas, pode-se tornar “um teórico, um bom teólogo, um bom filósofo, um bom curial que sabe fazer todas as coisas” mas foi perdida “a capacidade de sentir o cheiro das ovelhas”.  E o Santo Padre novamente reiterou o que ele chama de princípio das quatro proximidades dos sacerdotes: proximidade com Deus – oração -, proximidade com o bispo, proximidade com outros sacerdotes e proximidade com o povo de Deus: ‘Se não há proximidade com o povo de Deus, você não é um bom sacerdote’.

Sacerdócio não é comodismo ou carreirismo

O Papa falou então de sacerdotes que vivem o sacerdócio como se fosse um trabalho, com horários estabelecidos, sacerdotes funcionários, que buscam tranquilidade – não perturbar o padre, o padre está ocupado – e uma vida cômoda; ou seja, comodismo. “O sacerdócio é um serviço sagrado a Deus”, explicou o Papa, “o serviço do qual a Eucaristia é o mais alto grau, é um serviço à comunidade”. Em seguida, o Papa abordou o tema dos “padres arrivistas”, aqueles que visam fazer carreira, convidando-os a parar com isso: “O arrivista é, em última análise, um traidor, não é um servidor. Ele busca o que lhe interessa e não faz nada pelos outros”.

 

O acompanhamento espiritual

No longo e aberto diálogo realizado na Sala Paulo VI, o Santo Padre também enfatizou a importância da direção espiritual – confiando, porém, que ele preferia o termo “acompanhamento espiritual” – que não é obrigatório, mas ajuda no caminho da vida e é bom confiá-lo a uma pessoa que não seja o confessor. O Papa sublinhou que o importante é que se trate de dois papéis distintos. “Você vai ao confessor para que ele perdoe seus pecados e você vai se preparar para os pecados. Você vai ao diretor espiritual para contar-lhe as coisas que estão acontecendo em seu coração, as emoções espirituais, as alegrias, as raivas e o que está acontecendo dentro de você”. O Pontífice explicou que relacionando-se “somente com o confessor e não com o diretor espiritual”, não se cresce, “não vai dar certo”, se se relaciona “somente com um diretor espiritual, um companheiro” e não vai confessar seus pecados “também não dá certo”, ” são dois papéis diferentes”. Em seguida esclareceu que a direção espiritual não é um carisma clerical, um carisma sacerdotal, mas um carisma batismal, e que “os sacerdotes que fazem a direção espiritual têm o carisma não porque são sacerdotes”, mas “porque são batizados”.

O diálogo entre ciência e fé: não há respostas para todas as perguntas

Partindo de uma pergunta sobre o diálogo entre ciência e fé, o Papa convidou antes de tudo a estar abertos às questões dos estudiosos e às ansiedades das pessoas ou dos estudantes universitários, a escutar e a manter sempre uma atitude positiva, aberta e humilde: ‘Ser humilde, ter fé não é ter a resposta para tudo’. Esse método de defesa da fé não funciona mais, é um método anacrônico. Ter fé, ter a graça de acreditar em Jesus Cristo é estar a caminho”. E é isso que o outro deve entender: que se está a caminho, que não há “todas as respostas para todas as perguntas”. Voltando ao passado, o Papa recordou que houve uma época que estava na moda “uma teologia de defesa e havia livros com perguntas para defender”. “Quando eu era menino, esse era o método de se defender”, disse, “são respostas, algumas boas, outras limitadas, mas não são boas para o diálogo”. Como se dar uma resposta decretasse uma vitória. “Não, não é assim”, enfatizou o Pontífice, que também recomendou manter sempre aberto o diálogo com a ciência, mesmo não tendo respostas e, de direcionar a pessoa a quem você não soube responder para alguém que possa oferecer mais esclarecimentos. Diálogo é dizer: “Isso eu não sei explicar, mas você deve ir a estes cientistas, a estas pessoas que talvez o ajudarão”. Por outro lado, devemos “fugir da contraposição religião e ciência”, insistiu o Papa, “porque este é um espírito ruim, não é o verdadeiro espírito do progresso humano. O progresso humano fará a ciência avançar e também preservará a fé”.

A vida, caminhar entre muitas dificuldades, cair e levantar

Respondendo a outra pergunta, o Pontífice descreveu a vida como “um desequilíbrio contínuo”, porque é caminhar entre muitas dificuldades, caindo e se levantando, e encorajou a não ter medo e a fazer um discernimento neste desequilíbrio diário, porque “no desequilíbrio há as moções de Deus que convidam a algo, ao desejo de fazer o bem”. “Saber viver no desequilíbrio” leva a “um equilíbrio diferente”, um “equilíbrio dinâmico” governado por Deus, salientou Francisco, que também se deteve sobre esses conceitos falando também de discernimento correto. “O discernimento é sempre desequilibrado”, disse, esclarecendo que “o discernimento correto é procurar como este desequilíbrio encontra o caminho de Deus – não encontra ‘equilíbrio'”. Talvez, o desequilíbrio seja “resolvido em um plano superior, não no mesmo plano”. E esta é uma graça de oração, uma graça da experiência espiritual”. É a busca de fazer a vontade de Deus, que leva a resolver o desequilíbrio, mas em outro nível. Na prática, o Papa acrescentou, “o desequilíbrio entra em oração, entra no caminho do Espírito Santo” que “leva a uma nova situação harmoniosa”. Depois o Pontífice reiterou a importância da formação dos seminaristas, especialmente a espiritual, e recomendou a vida comunitária, “aprendendo a viver em comunidade e a não cair depois em críticas uns aos outros, nos partidos dentro do presbitério”.

Os perigos da Internet

Durante o encontro com os sacerdotes e os seminaristas que estudam e Roma, o Papa também falou sobre sua relação com a tecnologia e seu desconforto com as modernas ferramentas digitais. Ele contou que logo que foi ordenado bispo na Argentina recebeu de presente um telefone celular, e que usou para uma única chamada telefônica para sua irmã e imediatamente devolveu. “Não é o meu mundo, mas vocês devem usá-lo”, disse ele aos presentes, embora com prudência. Papa Francisco enfatizou os perigos da internet, como a pornografia digital, que infelizmente é uma tentação para muitos, incluindo os religiosos: “É algo que enfraquece a alma. O diabo entra por ali: enfraquece o coração sacerdotal”.

 



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