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Papa Francisco: Dizer não à guerra e sim à paz

Durante a mensagem de Natal, dessa segunda-feira, dia 25, o Papa Francisco concedeu a Bênção Urbi et Orbi, da sacada central da Basílica de São Pedro: “Isaías, que profetizara o Príncipe da paz, deixou escrito que virá um dia em que uma nação não levantará a espada contra outra; um dia em que os homens não se adestrarão mais para a guerra, mas transformarão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices (2, 4). Com a ajuda de Deus, esforcemo-nos para que se aproxime esse dia”, ressaltou o Santo Padre.

Acompanhe a mensagem do Pontífice:

“Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!

O olhar e o coração dos cristãos de todo o mundo estão voltados para Belém; lá, onde nestes dias reinam a dor e o silêncio, ressoou o anúncio esperado há séculos: “Nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor” (Lc 2, 11). Trata-se das palavras do anjo no céu de Belém, que são dirigidas também a nós. Enche-nos de confiança e esperança saber que o Senhor nasceu para nós; que a Palavra eterna do Pai, o Deus infinito, fixou a sua morada entre nós. Fez-Se carne, veio “habitar conosco” (Jo 1, 14): esta é a notícia que muda o curso da história!

O anúncio de Belém é o anúncio de uma “grande alegria” (Lc 2, 10). Qual alegria? Não a felicidade passageira do mundo, nem a alegria da diversão, mas uma alegria grande, porque nos faz grandes. De fato hoje nós, seres humanos, com as nossas limitações, abraçamos a certeza de uma esperança extraordinária: a esperança de termos nascido para o Céu. Sim, Jesus nosso irmão veio fazer do Seu Pai o nosso Pai: Menino frágil, revela-nos a ternura de Deus e muito mais.

Ele, o Unigênito do Pai, dá aos homens o “poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 12). Eis a alegria que consola o coração, renova a esperança e dá a paz: é a alegria do Espírito Santo, a alegria de ser filhos amados.

Irmãos e irmãs, hoje em Belém, por entre as trevas da terra, acendeu-se esta chama indestrutível; hoje, sobre as trevas do mundo, prevalece a luz de Deus, que “a todo o homem ilumina” (Jo 1, 9): alegremo-nos por esta graça! Alegra-te, porque não estás sozinho, não estás sozinha: Cristo nasceu para ti! Alegra-te, tu que perdeste a esperança, porque Deus te estende a mão: não aponta o dedo contra ti, mas oferece-te a sua mãozinha de Menino para te libertar dos medos, aliviar-te das canseiras e mostrar-te que, aos olhos d’Ele, vales mais do que qualquer outra coisa. Alegra-te, tu que tens a paz no coração, porque se cumpriu para ti a antiga profecia de Isaías: “Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado (…) e o seu nome é: (…) Príncipe da paz (9, 5). Com Ele, a paz não terá fim” (9, 6).

Na Sagrada Escritura, ao Príncipe da paz opõe-se o “príncipe deste mundo” (Jo 12, 31), que, semeando a morte, atua contra o Senhor, “amante da vida” (Sab 11, 26). Estamos vendo-o atuar em Belém, quando, depois do nascimento do Salvador, se verifica a matança dos inocentes. Quantas matanças de inocentes no mundo! No ventre materno, nas rotas dos desesperados à procura de esperança, nas vidas de muitas crianças cuja infância é devastada pela guerra. São os pequeninos Jesus de hoje.

Deste modo, dizer sim ao Príncipe da paz significa dizer não à guerra, a toda a guerra, à própria lógica da guerra, que é viagem sem destino, derrota sem vencedores, loucura indesculpável. Mas, para dizer não à guerra, é preciso dizer não às armas. Com efeito, se o homem, cujo coração é instável e está ferido, encontrar instrumentos de morte nas mãos, mais cedo ou mais tarde as usará. E como se pode falar de paz, se cresce a produção, a venda e o comércio das armas? Hoje, como no tempo de Herodes, as conspirações do mal, que se opõem à luz divina, movem-se à sombra da hipocrisia. Quantos massacres armados acontecem em um silêncio ensurdecedor, ignorados de tantos! O povo, que não quer armas, mas pão, que tem dificuldade em arcar com as despesas quotidianas, ignora quanto dinheiro público é destinado para armamentos. E, contudo, devia sabê-lo! Fale-se disto, escreva-se sobre isto, para que se conheçam os interesses e os lucros que movem os cordeirinhos das guerras.

Isaías, que profetizara o Príncipe da paz, deixou escrito que virá um dia em que “uma nação não levantará a espada contra outra; um dia em que os homens não se adestrarão mais para a guerra, mas transformarão as suas espadas em relhas de arado, e as suas lanças em foices” (2, 4). Com a ajuda de Deus, esforcemo-nos para que se aproxime esse dia!

Aproxime-se de Israel e Palestina, onde a guerra abala a vida daquelas populações. A todas abraço, em particular às comunidades cristãs de Gaza e de toda a Terra Santa. Trago no coração a dor pelas vítimas do execrável atentado de 7 de outubro passado, e renovo o apelo pela libertação de quantos se encontram ainda reféns. Suplico que cessem as operações militares, com o seu rastro de vítimas civis inocentes, que se ponha remédio à desesperada situação humanitária, possibilitando a entrada das ajudas. Não continue a alimentar violência e ódio, mas avance-se no sentido de uma solução para a questão palestiniana, através do diálogo sincero e perseverante entre as partes, sustentado por uma forte vontade política e pelo apoio da comunidade internacional.

Depois o meu pensamento se volta para a população da atribulada Síria, bem como para a do Iêmen, mergulhada no sofrimento. Penso no amado povo libanês e rezo para que possa em breve encontrar estabilidade política e social.

Com os olhos fixos no Menino Jesus, imploro a paz para a Ucrânia. Renovemos a nossa proximidade espiritual e humana ao seu martirizado povo, para que, graças ao apoio de cada um de nós, possa sentir o amor concreto de Deus.

Aproxime-se o dia da paz definitiva entre a Arménia e o Azerbaijão. Seja ela favorecida através do prosseguimento das iniciativas humanitárias, o regresso dos deslocados às suas casas na legalidade e em segurança, e o respeito mútuo pelas tradições religiosas e locais de culto de cada comunidade.

Não esqueçamos as tensões e os conflitos que transtornam a região do Sahel, o Chifre de África, o Sudão, bem como os Camarões, a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul.

Aproxime-se o dia em que serão reforçados os laços fraternos na península coreana, abrindo caminho para o diálogo e reconciliação que possam criar as condições para uma paz duradoura.

O Filho de Deus, feito humilde Menino, inspire as autoridades políticas e todas as pessoas de boa vontade do continente americano para que encontrem soluções idôneas a fim de superar os problemas sociais e políticos, lutar contra as formas de pobreza que ofendem a dignidade das pessoas, diminuir as desigualdades e enfrentar o doloroso fenómeno das migrações.

Reclinado no presépio, o Menino pede-nos para sermos voz de quem não tem voz: a voz dos inocentes, que morreram por falta de água e pão; voz de quantos não conseguem encontrar emprego ou que o perderam; voz de quem é constrangido a abandonar a sua terra natal à procura de um futuro melhor, arriscando a vida em viagens extenuantes e à mercê de traficantes sem escrúpulos.

Irmãos e irmãs, aproxima-se o tempo de graça e esperança do Jubileu, que vai começar dentro de um ano. Que este período de preparação seja ocasião para converter o coração; dizer não à guerra e sim à paz; responder com alegria ao convite do Senhor que nos chama, como profetizou Isaías, “para levar a boa-nova aos pobres, para curar os desesperados, para anunciar a libertação aos exilados e a liberdade aos prisioneiros” (61, 1).

Estas palavras cumpriram-se em Jesus (cf. Lc 4, 18), hoje nascido em Belém. Acolhamo-Lo, abramos o coração a Ele, o Salvador, o Príncipe da paz.



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