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[Artigo]Os sacramentos cristãos são portadores da realidade divina – Neuza Silveira de Souza (Catequista)

A pessoa livre e consciente, responsável e aberta à comunicação com os demais seres humanos e com Deus, está apta a receber a comunicação de seus dons através dos sinais visíveis que são os sacramentos. Eles mostram como Deus se dá às suas criaturas dotadas da força de conhecer e de amar. São como sinais da comunicação de Deus com os seres humanos. E o ser humano, enquanto ser sacramental, tem o dom de construir, de criar símbolos, de se comunicar e de se entender através de símbolos. Assim também, o ser humano é um ser simbólico. O simbólico humaniza a pessoa, desenvolve sua sensibilidade e delicadeza. Como exemplo do que falamos, basta nós mesmos percebermos como, quando pensamos em uma rosa para presentear alguém que amamos, pensamos em ofertar, não simplesmente a rosa, mas expressar nossos sentimentos, alegrias, gratidão. E nesse gesto, a rosa será símbolo do que representará e transmitirá algo para além dela mesma se tornando sacramental.

Esse pensamento nos leva a pensar os sacramentos da vida cristã. Na sua dimensão teológica, os sacramentos revelam a presença invisível de Deus e, através da sensibilidade de perceber o que é essencial, vamos para além da aparência dos símbolos sacramentais para descobrir a presença de Deus e nos propiciar o encontro verdadeiro com Ele. A Igreja (comunidade) ao celebrar os sacramentos, ela realiza o que ela é: sacramento para a salvação do mundo. O amor do Pai, e entrega de Jesus Cristo e a comunhão com o Espírito Santo está além da celebração, pois a conversão ao evangelho e à vida cristã realiza-se no compromisso com a justiça e o direito. A referência a Jesus de Nazaré é imprescindível para compreender e valorizar os símbolos sacramentais e a salvação que comunicam.

Também não se pode perder de vista a dimensão antropológica dos sacramentos, ou seja, seu enraizamento nas grandes experiências humanas, bem como os aspectos culturais de nossa época. Importa muito, principalmente nas catequeses, partir do gesto central de cada um dos sacramentos para ver como se liga com a vida e com que contribui para ela. Nos sacramentos a vida humana se realiza em plenitude e amor, pois eles traduzem, em nível ritual, os eixos fundamentais da existência humana. Mas nos convidam a ir para além de seus limites e perceberem todos os sinais presentes no mundo que nos colocam no seguimento do Cristo.

O fruto da vida sacramental

O fruto da vida sacramental é ao mesmo tempo pessoal e eclesial. Por um lado este fruto é para cada fiel uma vida para Deus em Cristo Jesus; por outro, é para a Igreja crescimento na caridade e em sua missão de testemunho. Como gestos de Deus em nossa vida, realizam aquilo que expressam simbolicamente. São, portanto:

• Sinais sagrados, porque exprimem uma realidade sagrada, espiritual;
• Sinais eficazes, porque, além de simbolizarem um certo efeito, produzem-no realmente;
• Sinais da graça, porque transmitem dons diversos da graça divina;
• Sinais da fé, não somente porque supõem a fé em quem os recebe, mas porque nutrem, robustecem e exprimem a sua fé;
• Sinais da Igreja, porque foram confiados à Igreja, são celebrados na Igreja e em nome da Igreja, exprimem a vida da Igreja, edificam a Igreja, tornam-se uma profissão de fé na Igreja.

Assim: quando a criança nasce, a primeira preocupação do pai cristão é que ela receba o batismo para ser inserida na comunidade cristã. Com o Batismo (nascimento, vida nova, morte, alegria, etc.,) o cristão nasce para a fé e passa a fazer parte da grande família: a Igreja.
Os pais se tornam os responsáveis para ajudar seus filhos na educação da fé. Posteriormente, a catequese ajudará a melhor conhecer Jesus, a perceber e compreender seu amor por nós e, também, a ver coisas erradas que fazemos: a nossa não correspondência a esse amor. Compreendendo os erros cometidos e arrependendo-se deles Jesus nos dá outro sinal: a sua misericórdia. É o Sacramento da Reconciliação (cf. Jo 20,23). Assim, recebemos o perdão de Deus na comunidade.

Para realizar a caminhada de fé é preciso ser fortalecidos nela. Precisamos de alimento para a vida em comunidade. Por isso Jesus próprio se nos deu em alimento (partilha, solidariedade, entrega, etc.) no Sacramento da Comunhão (Jo 6, 56).

Perseverar nesse caminho e seguir os passos de Jesus, nos leva à maturidade da fé e nos desperta para o desejo de anuncia-lo. Assim, o jovem se propõe fazer sua adesão pessoal a essa fé que seu pai o iniciou. É o Sacramento da Crisma: maturidade, responsabilidade, desafio. (At 8,17). Com esse sacramento assume-se com mais maturidade o compromisso na Igreja. Os cristãos se tornam iniciados na fé: receberam os “Sacramentos de Iniciação à Vida Cristã” (Batismo, Crisma e Eucaristia) e o sacramento da Reconciliação.

Nos sacramentos (Batismo, Confirmação e Eucaristia) está a base de toda a vida cristã: os fiéis, renascidos no Batismo, pelo poder do Espírito Santo, fortalecidos pelo Sacramento da Confirmação são nutridos pelo alimento da vida eterna, a Eucaristia (CIC 1212).

Chega-se à fase adulta e cada um escolhe sua vocação, uma forma peculiar de engajar-se no “serviço” na construção do Reino de Deus. Alguns são chamados para formar uma família, então recebem o Sacramento do Matrimônio: amor, união, gratuidade, etc. (Mc 10,9). Homem e mulher se comprometem a viver seu amor como cristãos de verdade. Outros sentem a vocação de serviço total a Deus e ao irmão. São chamados ao sacerdócio e recebem o Sacramento da Ordem: serviço, doação, etc. (Lc 22,19), tornando-se sacerdote a serviço da comunidade.

E quando as pessoas ficam doentes, envelhecem, recebem o Sacramento da Unção dos Enfermos: dor, perdas, morte, fragilidade, envelhecimento, etc. (Tg 5,14-15). É a graça de Deus e o caminho da Igreja ajudando, amparando, consolando o doente que sofre.

Esses são os gestos e sinais deixados por Jesus que mostram a sua presença em nós. São chamados sacramentos porque são sinais que contém, exibem, mostram e rememoram a experiência da fé cristã. Visualizam e comunicam outra realidade diferente deles, mas presente neles. São expressões de fé, da graça e benção de Deus que nos ajudam a crescer na “unidade”, no “servir” e no “transformar”.

 

 

 

 

Neuza Silveira de Souza
Coordenadora do Secretariado Arquidiocesano
Bíblico-Catequético de Belo Horizonte.

 



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