Uma crise é mudança brusca. Alteração importante, física ou simbólica, que, por repentina e imprevisível, se manifesta situação complicada ou de escassez. Crise é desequilíbrio e incerteza. E, por isso mesmo, mudança.
Talvez por isso, os otimistas costumam dizer que crise é sinônimo de oportunidade. A possibilidade de fazer diferente, melhorar, aperfeiçoar, aprender, enfim. É pelo menos o que dizem.
Talvez seja verdade que crises gerem oportunidades. O diabo é que oportunidade não se traduz automaticamente em melhoria. Requer reflexão, interesse e ação. Sem estes elementos, crise é simplesmente sofrimento a ser repetido periódica ou permanentemente, dependendo das circunstancias.
Quando a vaca tosse. Quando a mula tropeça. Quando o bovino aponta para o lodaçal. Quando vem a crise, é que a oportunidade se mostra. E é aí que se separam aqueles capazes de aproveitar o aprendizado que emana do sofrimento presente para construir soluções futuras, daqueles que simplesmente tem por objetivo atravessar a crise sem atacar suas causas.
Entre uma confissão de incompetência e explicações sobre a impossibilidade ou inevitabilidade dos problemas, o debate adquire a profundidade de uma poça d’água |
É muito estranha a falta de imaginação com que se tem analisado a crise ou atacado seus efeitos. Diante da falha coletiva dos mecanismos e organismos de controle públicos e privados, tudo o que se consegue é clamar pela punição dos envolvidos.
Certamente punir é muito importante. Evitar a impunidade é vital, indispensável, imprescindível. Mas aproveitar as oportunidades que emanam da crise (ou, no nosso caso, das crises), vai muito além da simples punição dos envolvidos. E ai falta liderança. Desaparecem os lideres. Inexistem projetos.
Sobram, entretanto, desculpas inócuas, repetitivas, travestidas de humildade falsa, forçada. O ridículo das explicações atinge níveis jamais esperados. Todos apontam para os culpados e os culpados apontam para os fatores externos que, alegam eles, seriam incontroláveis.
Entre uma confissão de incompetência e explicações sobre a impossibilidade ou inevitabilidade dos problemas, o debate adquire a profundidade de uma poça d’água. Tudo é reduzido a uma discussão sobre a ética e moral individuais. Como se o problema não fosse sistêmico.
É espetacular que, depois de tudo, se despreze a necessidade de melhorar a governança. De garantir que, no futuro, independente de virtudes de cada indivíduo, os problemas não se repitam. Falta mudar a maneira como as empresas, governo e órgãos de controle funcionam. Aperfeiçoar processos. Melhorar. Prevenir. Boa governança é, e sempre será, o melhor remédio para evitar crises.