Dentre as notícias da semana passada teve destaque a prisão de um agente da Polícia Federal, que havia conquistado a fama por ter cumprido mandados de prisão de personagens importantes. É bem verdade que o “Japonês da Federal” não ganhou notoriedade por si mesmo, mas pelo fato de protagonizar algumas cenas que não imaginávamos possíveis. Com efeito, nascemos e crescemos ouvindo dizer que “neste País, só pobre vai para a cadeia” e, no entanto, nos últimos tempos, isso tem sido desmentido por inúmeros acontecimentos. E em grande parte deles o “Japa” estava lá exercendo o papel de herói nacional. Agora se evidencia que o nosso herói também estava no alvo da Justiça. E isso em meio a um mar de lama em que se descobre estarem imersos muitos políticos e empresários. Diante disso, uma reação muito provável é o desalento. Serão, de verdade, todos os nossos heróis … Macunaímas?
Apesar de tudo, temos muitas razões para não desanimarmos. E o motivo mais importante para isso são precisamente as brasileiras e os brasileiros. Outro dia, assistia com meus filhos uma versão nacional do “Master Chef”. Já havia assistido programa semelhante gravado no exterior. E penso que a maior diferença é precisamente a reação dos vencedores e dos derrotados. Os lá de fora parecem que veem no adversário apenas um opoente, um inimigo a ser derrotado. As brasileiras e os brasileiros, ao contrário, conseguem entre choros pela derrota vibrar pela conquista do outro e, os vencedores, abraçam em consolo os derrotados sem esconder, é claro, a alegria pela vitória.
Somos um povo acolhedor e hospitaleiro. Quem já visitou uma favela pode notar algo que nem sonhava. Além de uma minoria de criminosos que ali vivem e oprimem os demais, há uma imensidão de pessoas honestas e trabalhadoras que lutam duramente para obter o sustento. E, entre eles, há uma solidariedade inacreditável. Há muita carência, mas é impressionante como se sabe dividir e compartilhar o pouco que se tem e se ajudar mutuamente.
Retornando ao tema da corrupção, tem-se notado, sobretudo nos últimos tempos, que não aguentamos mais. Queremos dar um basta nessa situação. Para isso, temos demonstrado também uma capacidade de mobilização para ir às ruas e exigir dos nossos governantes que atuem com ética e respeito com o nosso povo.
Mas convém acrescentar algo nessa luta. É que, além de protestar e exigir dos outros uma postura diferente, o que podemos fazer verdadeiramente eficaz para mudar o mundo é mudarmos a nós mesmos. Analisemos, pois, como nos portamos em nosso dia-a-dia: Somos profundamente sinceros em qualquer circunstância, evitando qualquer sorte de mentiras, mesmo em questões pequenas e aparentemente sem importância? Esforçamos para trabalhar cada dia com seriedade e consciência, pensando no bem que o nosso trabalho bem feito pode proporcionar aos demais? Pensamos com frequência que todas as nossas ações, por menores que pareçam, servem para edificar ou desedificar o ambiente que nos cerca?
E maior responsabilidade ainda têm aqueles incumbidos de educar, em especial, os pais e professores. Nesses a obrigação de serem pessoas de sólidas virtudes decorre do fato de estarem diante de seres humanos ainda imaturos, mas sedentos de um sentido para as suas vidas. E esses jovens e essas crianças têm o direito de encontrar nesses educadores, mais no exemplo de vida no que nas palavras, as respostas para muitas das suas indagações existenciais.
Temos muitos motivos para manter esperança. Há entre nós uma imensidão de heróis anônimos que lutam dia após dia para prover uma família, promover instituições filantrópicas, enfim, para fazer melhor o mundo em que vivem. E o fazem precisamente lutando para serem eles próprios cada dia melhores.
Fábio Henrique Prado de Toledo
Juiz de Direito e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar
pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC