O silêncio é parte integrante da celebração. A Instrução Geral do Missal Romano (IGMR 45) recomenda que ele seja oportunamente observado e indica os momentos prescritos para se fazer silêncio. Também dá indicações importantes a respeito dele antes e depois da celebração, em espaços como a sacristia e a secretaria, quando estes recintos estão próximos do espaço celebrativo. Tal “extensão” do silêncio faz pensar na sua importância, ainda mais se pensarmos que o cuidado com o silêncio anda em déficit em nossas comunidades paroquiais, em nossas celebrações… Vez por outra nos deparamos com pessoas batendo papo dentro das igrejas, até mesmo durante as celebrações. Isso sem contar o barulho externo que entra, os celulares e até mesmo a agitação dos ministros.
Fazemos parte de uma sociedade e de uma cultura que não valoriza o silêncio. Para alguns, o silêncio chega a ser algo insuportável, quando não, melancólico, triste, sem sentido. Será mesmo? Fazer silêncio supõe calar-se, mas é mais do que isso. Uma pessoa pode até se calar, mas as conturbações do coração e da mente podem “funcionar” com a mesma intensidade de uma conversa, ou bate-papo, constituindo-se no que a ciência da comunicação chama de ruído. O silêncio exterior pede o silêncio interior e o conduz a ele. O silêncio interior é algo mais difícil, sem dúvida. Contudo, é necessário e urgente.
O silêncio é o lugar da Palavra, sua manjedoura, seu ventre O Silêncio é uma expressão clara de que, na liturgia, primordialmente, a ação é divina, não nossa |
Convém nos perguntar porquê tanta dificuldade com o silêncio nas nossas celebrações. Será que o silêncio nos coloca em contato conosco mesmos? Ou seria um caminho de encontro com Deus, a quem resistimos? O silêncio pode ainda gerar uma atitude de escuta e obediência, o que nem sempre é desejado e fácil. Então como celebrar o memorial da Aliança se não aprendemos a obedecer, a ouvir, a nos calar e a fazer silêncio? Fazer silêncio na liturgia pode ainda envolver outro modo de celebrar mais respeitoso e reverente, com “lugar” e espaço para Deus. O silêncio é o lugar da Palavra, sua manjedoura, seu ventre. O Silêncio é uma expressão clara de que, na liturgia, primordialmente, a ação é divina, não nossa.
E se deixarmos o silêncio gerar nossos ritos e atitudes na missa, como algo que se cultiva e permeia a tudo? Como seria cantar assim? Talvez fôssemos mais moderados nos volumes dos microfones, dos instrumentos e na suavidade da voz. Como seria fazer homilia assim? Talvez falássemos menos e mais suavemente das coisas mais essenciais, sem nos perder em comentários excessivos e desnecessários. Como seria nosso modo de entrar na igreja, nossa proclamação da Palavra, ou nosso modo de proferir as orações? Correríamos com a prece eucarística? Degustaríamos mais a Palavra?… Se o silêncio, como atitude, permeasse as nossas ações litúrgicas, talvez celebrássemos de maneira outra. Talvez nossa liturgia fosse mais de Deus e menos nossa.
Pe Danilo César