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O que há em comum entre a “Partícula de Deus” e a estrela de Belém?

As interrogações sobre as origens do universo são tão antigas quanto as interrogações sobre as origens do ser humano. Na medida em que foi se dando a convergência cada vez mais veloz das várias ciências, foi também ficando mais claro que os átomos já não podem ser considerados como as menores partículas. Seis tipos de quarks, dos quais apenas dois entram na composição dos prótons e nêutrons, levantam a suspeita de que os outros só poderiam ser “recriados” através de poderosíssimos aceleradores.

 

O surgimento da denominada física quântica que aponta para ondas eletromagnéticas, fótons, incontáveis formas de energias, massa escura, matéria e anti matéria, vácuos, como elementos constitutivos do universo, trouxe uma certeza: assim como o ser humano, assim também o universo não é o que pode ser observado, pois ambos escondem sua identidade mais profunda. E esta identidade é constituída de incontáveis partículas subatômicas, todas a um só tempo interligadas e como que contrapostas umas às outras.
 

É dentro deste contexto que, sobretudo a partir da década de 1960, a busca da primeira partícula após a pressuposta explosão do denominado Big Bang, passou a ser uma quase obsessão. Esta partícula seria como que a última chave capaz de abrir as portas dos mais íntimos segredos das origens do universo. Ela seria como que uma liga entre a realidade não material e a material. Assim se compreende que cientistas da Organização Européia para pesquisas nucleares tenham conseguido algo de quase incompreensível para o senso comum, e justamente em nossos dias de crise econômico-financeira: investir nada menos do que 8 bilhões de dólares para construir um super acelerador, localizado a 100 metros de profundidade, com a dimensão de 27 quiilômetros, com a missão de descobrir o que se considera o “elo perdido” que possibilitou a existência da matéria. Através do choque de incontáveis partículas deveria emergir aquela que é a mais importante, embora ainda nunca detectada.
 

Fé e razão são como duas asas que ao mesmo tempo
nos ajudam a entender a realidade e
a nos aproximar
de Deus

Nestes últimos tempos a imprensa deu destaque a significativos avanços na conquista da tão cobiçada partícula. As interpretações do que é noticiado são diversas. Para uns trata-se de uma espécie de alavanca para garantir aos cientistas mais recursos para prosseguir nas suas importantes pesquisas. Para outros, uma eventual descoberta da partícula de Deus, nada teria a ver com Deus. Pelo contrário, seria a afirmação da não necessidade da existência de Deus. Esta já era a posição de Peter Higgs, um ateu que abriu caminhos na busca da cobiçada partícula. Para outros, contudo, se concretizada esta descoberta já não haveria mais como negar a existência de um Criador, que se esconde por trás de tantas maravilhas e tanta complexidade.
 

Com isto retornam com força as polêmicas entre os defensores de uma ciência sem fé, os de uma fé sem ciência, e a dos que julgam que a “partícula de Deus” vem uma vez mais confirmar o que há muito é sustentado por muitos sábios: não há oposição entre ciência e fé, mas uma articulação respeitosa entre elas vai confirmando uma expressão do Papa João Paulo II no célebre documento “Fé é Razão”: fé e razão são como que duas asas que ao mesmo tempo nos ajudam a entender a realidade e a nos aproximar de Deus. Se assim é, poderíamos concluir que a estrela de Belém não dispensou os ansiosos sábios vindos do Oriente de procurar por todos os meios o anunciado menino.

 

A estrela de Belém
não dispensou os sábios vindos do Oriente de procurar o menino.
Mas a mesma
estrela os conduziu
até aquele que
procuravam.

Mas, por outro lado, a mesma estrela os conduziu, com segurança, até aquele que procuravam. E este encontro primeiro, seguido de muitos outros por quem buscava sentido para sua vida e vivia na expectativa do Messias, levou o Evangelista São João a oferecer para todos e para todos os tempos algo de inimaginável, e que conjuga perfeitamente razão e fé, espírito e matéria: “No princípio (de tudo) existia a Palavra de Deus; a Palavra era Deus; e a Palavra se fez carne, e veio  habitar entre nós”(Jo 1,1).

 

É nesta direção que deve ser procurada a “partícula de Deus”: sem negar a necessidade do empenho humano para desvelar os muitos mistérios que nos cercam, afirmar, com segurança, que de fato, a verdadeira partícula se esconde na gruta de Belém. Basta proceder como os sábios do Oriente: ajoelhar-se diante dela, não a confundindo com Deus, mas entrevendo que atrás dela só pode se esconder um Deus. Este Deus no seu Filho não apenas aponta para a origem do universo, como incentiva os seres humanos a mergulharem sempre mais profundamente naquilo que se esconde por trás de um universo ao mesmo tempo tão complexo e tão maravilhoso.

 
Frei Antônio Moser.OFM
Teólogo e escritor
 



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