No início da Igreja, todo domingo era dia de páscoa, os cristãos se reuniam para celebrar a ressurreição de Cristo. Assim estavam cumprindo a ordem do Mestre: “Fazei isto em minha memória” (Lc 22,19). Nesse encontro dominical, os cristãos relembravam tudo o que aconteceu durante a vida de Jesus. Estava muito viva a lembrança de sua morte na cruz.
Depois dos escritos dos Evangelhos, o povo foi melhor compreendendo que o Mistério Pascal de Jesus está presente no mistério da vida de todos os dias. Cristo continua nascendo, vivendo, morrendo e ressuscitando na vida da Igreja. Nesse sentido poderia estar celebrando os mistérios da vida do Cristo, não só aos domingos, mas durante todos os dias, ao longo do ano.
Assim surge o Ano Litúrgico que vai melhor esclarecer a celebração do Mistério da vida do Cristo na vida da Igreja. Diferentemente do ano civil, o Ano Litúrgico começa no Advento, passa pelo Natal e pela Epifania, continua na Quaresma, Semana Santa e Páscoa, atravessa a Ascensão e Pentecostes e termina com o tempo comum, na festa de Cristo Rei.
A partir do primeiro século a Páscoa passa a ser celebrada anualmente. No século IV, com todas as renovações que acontece na Igreja através dos concílios dogmáticos e o reconhecimento do Cristianismo como Religião oficial do Império, temos a nova forma de celebração da Páscoa. Além da Vigília Pascal, é celebrado o Tríduo do Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado, o Jejum passa a ser de uma semana, e depois, de 40 dias. Tempo de preparação dos catecúmenos para o batismo. Tempo de reconciliação e penitência. Disso restou a imposição de cinzas na quarta-feira em que se inicia a quaresma. Temos ainda acrescentadas as comemorações da Ascensão e de Pentecostes. Assim se formou o ciclo pascoal, considerado até hoje como a primeira grande festa do ano litúrgico.
Também, foi no período do século IV que passa a ser definitiva, no Ocidente, a segunda grande festa da Igreja que é o Natal, nascimento de Jesus. O Natal tem o dia de sua festa fixado no dia 25 de dezembro, data tirada do calendário solar, por isso fixa, e tomada de empréstimo da festa do sol, uma festa pagã. Os pagãos viam em Jesus o verdadeiro Sol da Justiça. Assim se formou o Ciclo de Natal.
A Festa Pascal, a cada ano, acontece em um dia diferente, porque o dia de sua celebração leva em consideração o calendário lunar. A festa da páscoa e muito antiga e era conhecida como a festa dos àzimos. Depois passou a ser celebrada para recordar a libertação do povo da escravidão do Egito. Os ritos continuaram em Israel. A festa da Páscoa (=passagem). Passagem do anjo exterminador que saltava as casas do Povo Hebreu para sua libertação, e a passagem do “Mar Vermelho” para a nova vida em Israel, terra prometida. Os cristãos também continuam os ritos e celebra a Vida Nova em Cristo, a vida do Ressuscitado. Assim como os primeiros discípulos, os cristãos de hoje continuam cheios de luz e continuam a dar testemunho do ressuscitado.
O Mistério Pascal
O mistério pascal globaliza toda a vida do Cristo e expressa a unidade dialética de sua ação. Nos ensinamentos do Novo Testamento encontramos as principais características dessa realidade mistérica: a superação da morte, que implica o perdão do pecado, a reconciliação, a justificação, a redenção, a salvação, a libertação. Superação que, na qualidade de culminação da vida e ação de Cristo, comporta o dom do Espírito Santo, a filiação, a ressurreição do corpo transformado pelo Espírito.
Os ensinamentos dos santos padres esclarecem a relação dessa ação plural de Cristo, que culmina na paixão, morte, ressurreição e glorificação de Jesus, com sua vida terrena e sobretudo com seu nascimento.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Arquidiocesana Bíblico-catequética de BH