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O Missal como Livro da Comunidade – artigo do Padre Márcio Pimentel, Paróquia São Sebastião e São Vicente

Parece-me importante no presente contexto eclesial, debruçarmo-nos sobre o Sacramentário para a Missa de rito romano, reformado por ordem do Concílio Ecumênico Vaticano II. O Livro Litúrgico não é apenas um instrumento com o qual lidamos funcionalmente para celebrar. É um tesouro de inestimável valor, uma vez que ele narra a seu modo, a história da transmissão da fé que deve fazer-se carne no corpo da Igreja em oração. Para além do sentido jurídico, há o aspecto normativo do Livro Litúrgico, no sentido de que ele contribui para que o antigo adágio lex orandi lex credendi statuat funcione. A fé da Igreja, recebida diretamente do Senhor e narrada nos Evangelhos, ganha contornos eucológicos no Missal e demais rituais. Seu uso inteligente contribui para manter a objetividade da Revelação ao mesmo tempo que se vislumbra seu efeito subjetivo no coração dos fiéis.

O Missal pode ser comparado a uma espécie de mapa. Não basta simplesmente recitar ipsis litteris o que a Igreja imprimiu em suas páginas em vermelho ou preto. A ars celebrandi não consta apenas de seguir rubricas à risca ou reproduzir sem alterações os textos oficiais. Aliás, essa é uma das superações do Missal contemporâneo em relação ao anterior, o Missal Plenário pós-tridentino ou Missal piano (de Pio V). Como muito bem nos lembra Andrea Grillo, enquanto esse é apresentado como um rito a seguir (ritus servandus) pelo presbítero ou bispo ao presidir a Eucaristia, o Missal de Paulo VI é apresentado a partir de outra chave: é o livro da Assembleia Cristã, o guião da comunidade em oração.

Na Constituição Apostólica Missale Romanum com a qual Paulo VI promulga o Missal Romano por encargo do Concílio Vaticano II, encontramos expresso o desejo e a necessidade da Igreja cuidar do incremento da Liturgia, de modo que os fiéis, todos eles e não apenas o clero, o acolham como oportunidade para que o louvor de Deus seja expresso e experimentado com unidade e pureza. Atenção: “seja recebido pelos fiéis”. Respira-se aqui uma mudança de mentalidade. O sujeito da celebração não e apenas aquele que preside, mas a assembleia litúrgica, realização sacramental da Igreja, ornada com a graça do Espírito de Cristo.

Mauricio Barba compreende a importância do Missal para que a fé cristã cresça e amadureça nos fiéis. Mas o “Consilium”, a comissão responsável por executar a reforma da Liturgia de acordo com a Constituição sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, já em 1967, esclarece a importância da celebração eucarística para a vida cristã “Pela Eucaristia ‘a Igreja vive e continuamente cresce” […] pois ‘a participação no corpo e no sangue de Cristo não faz outra coisa senão transformar-nos no que recebemos.’” Também inculca o valor dos ritos e orações para a própria catequese, de modo que os fiéis sejam conduzidos por eles à “plena inteligência deste mistério de fé, por uma catequese adequada que deve iniciar-se pelo mistério do ano litúrgico e pelos ritos e orações das celebrações para esclarecer-lhes o sentido, sobretudo da grande Oração Eucarística e, conduzi-los à percepção íntima do mistério que significam e realizaram.”

Desse modo, é justo recobrar o lugar do Missal no âmbito da educação da fé, assumindo-o não apenas como livro para celebrar, mas como objeto de estudo do conteúdo da fé da Igreja.

 

 

 

 

 

Padre Márcio Pimentel é especialista em Liturgia pela PUC-SP e mestrando
em Teologia na Faculdade Jesuíta de Teologia e Filosofia (Faje / Capes)
Paróquia São Sebastião e São Vicente



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