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[Artigo]O homem imago Dei – Dom Edson Oriolo, Bispo Auxiliar de Belo Horizonte

As descobertas científicas e as invenções tecnológicas estão levando a uma retomada significativa da antropologia. O ser humano, imagem e semelhança de Deus, está se tornando algo problemático e trazendo muitas inquietações eclesiológicas e pastorais em vista do cumprimento do mandato missionário de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o grande desafio para a Igreja na contemporaneidade.

O progresso científico e tecnológico serve para o bem de toda a humanidade, trazendo grandes inspirações para que as pessoas possam continuar a fazer a experiência Cristã de Deus e solidificar a necessidade do transcendente.

Uma leitura muito interessante, que está tomando conta de alguns intelectuais formadores de opinião, acadêmicos e personalidades como Obama, Bill Gates e Mark Zuckerber (criador do facebook), são as obra de Yuval Noah Harari professor de história na Universidade de Jerusalém, Sapiens, uma breve história da humanidade e Homo Deus, uma breve história do amanhã.

A obra “Homo Deus”, uma breve história do amanhã, com mais de 400 páginas chama nossa atenção para o amanhã. Vivendo o presente com olhar para o passado e na perspectiva do futuro, precisamos criar planejamentos e metodologias sólidas de evangelização para resgatar a grande máxima sobre o ser humano: imagem e semelhança de Deus, criado para reverenciá-lo, louvá-lo e servi-lo.

O autor, em várias entrevistas que acompanhei, principalmente ao apresentador Pedro Bial, da Rede Globo, disse que não tem a pretensão de ser futurista, mas descreve e projeta o ser humano num futuro próximo. A obra é uma leitura leve, sagaz e crítica. Yuval Noah nos faz pensar a sociedade do amanhã e foi a partir da leitura dessa obra, que tive a curiosidade de perceber as reflexões antropológicas pontuais que perpassam os ensinamentos do magistério do Papa Francisco, como a valorização da pessoa humana na sua dignidade de imago Dei. A ciência e a tecnologia devem estar a serviço do homem – imago Dei.

Harari comenta, de maneira bem fundamentada, os três grandes problemas que imperaram na história da humanidade nos últimos séculos: a fome, as pestes e as guerras, afirmando que as guerras se tornaram obsoletas, a fome está desaparecendo e as pestes sendo combatidas.

Na história da humanidade, muitas pessoas morreram de fome. Aproximadamente, 2,8 milhões de franceses – 15% da população – morreram de fome entre 1692 e 1694. Em 1965, a fome assolou a Estônia e matou um quinto da população. Hoje, temos a fome, mas bem diferente que em séculos passados. Harari afirma, além disso, que o hábito de comer demais tornou-se um problema muito pior que o da fome. Em 2014, mais de 2,1 bilhões de pessoas apresentavam excesso de peso em comparação com 850 milhões que sofriam de subnutrição. Até 2030, metade da humanidade estará obesa. Afirma que o açúcar é mais perigoso do que a pólvora: 1,5 milhão de pessoas morreram de diabetes. Harari, com dados, afirma que em 2010 a fome e a subnutrição, combinadas, mataram cerca de 1 milhão de pessoas, enquanto a obesidade matou 3 milhões.

Outro problema na história da humanidade foram as guerras, principalmente as mundiais (1914 e 1945), que mataram muitas pessoas. No decorrer da história, para a maior parte dos seres humanos, a guerra era algo certo, garantido, enquanto a paz era um estado temporário e precário. Hoje, a guerra está se tornando obsoleta. Há conflitos pontuais diferente de séculos passados.

Um terceiro problema, a peste. As pestes e as doenças infecciosas mataram milhões de pessoas em pleno século XX. Em janeiro de 1918, soldados nas trincheiras do norte da França começaram a morrer aos milhares de um tipo especialmente virulento de gripe, denominada “gripe espanhola”. Em 1967, a varíola havia infectado 15 milhões de pessoas e matado 2 milhões, mas em 2014, não houve uma única pessoa infectada ou morta por essa doença. As epidemias representam uma ameaça muito menor à saúde do homem do que representaram no milênio anterior.

Frente a essas realidades, como vencer as pestes, as guerras e fome? O homem vem evoluindo e, a partir daí, o autor apresenta algumas previsões para humanidade. Ele deixa claro que não são profecias, apenas um alerta para os caminhos que o ser humano está seguindo. Yuval não coloca intuições polêmicas, mas luzes que apontam para o futuro, que nós devemos conhecer para solidificar a dignidade do homem (imago Dei) com o crescimento da ciência (saber) e da técnica (fazer).

O autor afirma que a meta da humanidade é a imortalidade, a felicidade e a divindade.

A imortalidade: O ser humano pretende chegar a ser Deus. Ele mostra que a jovialidade é uma realidade e não mais um ideal. Em muitos países, a idade vai além dos 70 anos e até 90 anos graças ao avanço da medicina, da ciência e da tecnologia. O homem não quer morrer. O homem tem procurado desenvolver a ciência, técnicas, conhecimentos, e a indústria têm ajudado nessa realidade. Queremos ter a capacidade de fazer a re-engenharia de nosso corpo e mente, acima de tudo, para escapar à velhice, à morte e à infelicidade. O desenvolvimento vertiginoso de campos como a engenharia genética, a medicina regenerativa e a nanotecnologia estimulam profecias ainda mais otimistas que alguns especialistas acreditam que os homens vão vencer a morte por volta de 2200.

A felicidade: O homem do amanhã deve buscar ainda mais a felicidade. A felicidade não será por momentos bons. Ela será produzida por agentes químicos. Os medicamentos e as drogas serão produzidos para trazer a felicidade. Todo dia milhões de pessoas decidem dar a seu smartphone um pouco mais de controle sobre suas vidas, ou experimentam uma droga antidepressiva nova e mais eficaz. Na busca de saúde, felicidade e poder, os humanos modificarão, primeiro, uma de suas características, depois outra, até não serem mais humanos.

A divindade: O homem tem deixado de lado todos os seus mitos. Deus entrou em eclipse (deixar para trás). Deus não é mais considerado o grande signo ordenador dos processos reais. Eclipse de Deus produziu um paradoxo curioso. O homem começa a assumir atributo que era atribuído a uma divindade transcendente. Nega Deus pela ciência e assume a prerrogativa divina.

Esses pensamentos vêm nos ajudar a repensar as nossas metodologias e planejamentos em relação à evangelização e a promover a dignidade humana com base na verdade fundamental de que o homem é criado à imagem e semelhança de Deus. Uma dignidade original e insuprível de cada homem e mulher, que não pode ser submetida a nenhum poder ou ideologia, como nos ensina Papa Francisco.

 

 

 

 

 

Dom Edson Oriolo,
bispo Auxiliar de Belo Horizonte, escreve em várias revistas e
periódicos sobre Pastoral Urbana, Gestão Eclesial e Pastoral do Dizimo



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