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O galo sumiu

Eleitor, neste raciocínio, só é inteligente quando vota de acordo com as instruções previamente decididas pelo grupo que teria não somente a sabedoria, mas também superioridade moral

Eleitor bom seria eleitor controlado

Parece que o galo cantou. A gente não ouviu. Nem sabe como é o galo. Ou se tem mesmo galo. Ou se o galo existe. E isto é preocupante.

Já com o ano novo nos encarando, resta aprender com 2016. E entender que o principal ensinamento parece ser que não entendemos nada. Ou quase nada, para ser um pouco generoso.

A vida é assim. Quando a gente não reconhece a realidade, ela nos atropela. E deixa a todos o desagradável de papel de explicar porque as previsões estavam erradas.

A gente parece nunca perder a oportunidade de não aprender. Cultivar a ignorância por vezes parece ser a mais humana das características. Como em retrospectiva tudo sempre faz sentido, todas as narrativas são validas. Basta ser logico. Mesmo que o logico não seja verdadeiro.

 

O Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia ) deveria ter ensinado algo. No mínimo, era razão para a gente perceber que havia algo de estranho no mundo. Ali a surpresa também existiu. Mas não aprendemos. E continuarmos a ignorar os sinais. E veio, para não deixar duvidas a ultima eleição americana. Não deixou duvidas. A maioria quer mudanças. E vota por ela.

O resultado da eleição assusta. Muito. Ganhou um candidato que fez afirmativas absurdas do ponto de vista de valores.  É fato. Mas não é somente o resultado que assusta. E olhe que ele assusta muito.

Talvez o que mais assuste seja a incapacidade daqueles que se autonomeados defensores de valores liberais em aceitar qualquer autocritica. Ou melhor, nestes tempos confusos, autocritica, só a favor.

De um lado, acusa-se o eleitor de tudo. E de mais um pouco. Como se sua escolha fosse o resultado do atraso, da ignorância. Eleitor seria, neste raciocínio, inteligente somente quando vota como de acordo com as instruções previamente decididas pelo grupo que teria não somente a sabedoria, mas também superioridade moral. Eleitor bom seria eleitor controlado.

Em nome da igualdade, da justiça social, do fim do machismo e da discriminação, do combate ao racismo, contesta-se o resultado da eleição. Ignorando o fato de que, embora indesejável, inconveniente, e até mesmo ruim, o resultado da eleição deve ser respeitado. Sempre.

Melhor seria a autocrítica. Entender o que deveria ter sido ou ser feito de maneira a criar propostas e plataformas que interessem a maioria do eleitorado. Mas isso não é tarefa fácil. Implica reconhecer erros, fazer propostas, entender os outros. E isso é doloroso. E dá trabalho.

Mas talvez ao fim e a cabo da autocritica, emirja um quadro mais positivo. Propostas mais atraentes e ideias mais modernas em plataformas mais inclusivas. E políticos mais conectados com a realidade.
E a gente finalmente vai achar o galo sumido.

Elton Simões
Mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV);
MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria).

 



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