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O aplicativo whatsapp na evangelização

 

Em visita à cidade de José Bonifácio (SP), surpreendeu-me a atitude de um garoto que, minutos antes do início da celebração eucarística, ignorando que eu era um visitante, solicitou-me a senha do wi-fi da igreja. Achei inusitada a pergunta e questionei o por quê. A resposta foi imediata: “Para acessar o whatsapp. Recentemente um jovem perguntou-me a mesma coisa.

Em visita a minha família, ouvindo a conversa de dois sobrinhos (um de 6 anos e outra de 7 anos), fiquei surpreendido pelo nível do debate. Conversavam sobre senhas. Minha sobrinha defendia que sua senha era virtual e, portanto, muito segura, ao passo que seu primo garantia que as senhas de ipad são também de difícil acesso e muito confiáveis.

Essas motivações, que inicialmente me pareceram inusitadas, levam-me a constatar que de fato vivemos uma nova época, para a qual nos percebemos neófitos e que podemos chamar era virtual. Os protagonistas da virtualidade somos todos nós, mas sem dúvida, as crianças e jovens sofrem o maior influxo da rápida mudança dos conceitos de relacionamento e convivência.   

 

Como evangelizar esse “novo areópago”, fazendo uma síntese entre as suas contribuições e a mensagem do evangelho?

Já Pierre Levy, estudioso do assunto, ainda que em contexto diverso, defende que a palavra “virtual” seja empregada com frequência para significar a pura e simples ausência de existência ou ainda como oposição da realidade da efetuação material, da presença tangível. Em outras palavras, o real seria da ordem do “tenho”, enquanto o virtual seria da ordem do “terás” ou da ilusão.

O fato de vivermos a época da virtualidade sem medida, em contraste com a oportuna reflexão do filósofo, leva-nos a questionar sobre a maneira mais adequada de abordar, inclusive no plano pastoral, desafios como esse. Creio que, da parte dos líderes e formadores de opinião, deve haver uma postura otimista com relação ao virtual, que viabilize o seu verdadeiro sentido para a convivência.

É evidente que há o risco do virtual subverter a ordem das relações, tornando-as ilusão e mesmo alienação, mas não creio que essas realidades sejam necessariamente sinônimas. Penso que o virtual seja uma resposta para um novo estilo de vida, marcadamente urbano, em que as relações se dinamizam na mesma medida em que a demanda do rápido e do imediato se impõem. Não se trata de uma opção, mas de uma realidade inquestionável e muito próxima de todos que vivem o novo estilo de vida.

Pastoralmente, as consequências do relacionamento virtual também se fazem perceber e se apresentam desafiantes. Para além dos adolescentes e jovens preocupados com a senha do wi-fi durante as celebrações eucarísticas, resta a grave questão: Como evangelizar esse “novo areópago”, fazendo uma síntese entre as suas contribuições e a mensagem do evangelho?

 

Os dilemas que compõem os relacionamentos humanos se reinventam no virtual. Para algumas pessoas, isso pode causar ansiedade e, em certos casos, desconfiança e dúvidas “Por que não responde?”

Tenho conhecimento de que em muitas paróquias e setores pastorais, os ministros extraordinários da comunhão eucarística criam grupos no Whatsapp, por onde se comunicam e resolvem questões mais urgentes, com grande facilidade e proveito para todos. Sabemos que a tendência é que iniciativas como essa se multipliquem. Como abordá-las e delas extrair o melhor resultado para a missão evangelizadora?

 

Penso, por exemplo, nos aplicativos de celular que viabilizam relacionamentos rápidos, com diálogos instantâneos, bem como contatos interpessoais, ligações afetivas, profissionais e lúdicas. É o caso do whatsapp (aplicativo) que deriva de uma palavra em inglês, muito usada como gíria e que substituiu o hi ou olá, como forma mais popular de saudação casual. Trata-se de mensagens instantâneas para smartphones. Não apenas mensagens de texto, mas de diversas mídias como imagens, vídeos e mensagens de áudio. Este aplicativo impõe um novo jeito de interagir entre as pessoas: agora, boa parte da população prefere escrever em vez de falar. Além disso, pesa o fato de que o uso de aplicativos de mensagens é mais barato, rápido e acessível, pois você pode se comunicar o tempo todo sem grande custo ou sofisticação.

Os dilemas que compõem os relacionamentos humanos se reinventam no virtual. Para algumas pessoas, isso pode causar ansiedade e, em certos casos, desconfiança e dúvidas. “Por que não responde?”, “O que ele(a) estará fazendo?” são questões comuns no universo relacional do Whatsapp. A questão complica-se ainda mais quando tratamos do quesito privacidade.

O psicólogo Pablo Viudes explica que “a pessoa precisa saber administrar sua conectividade. Do contrário, o Whatsapp pode vulnerar a privacidade. A disponibilidade das pessoas é a base da sua autoafirmação. Se você não pode responder, simplesmente não pode”. Trata-se de transportar para esse universo relacional os valores da autonomia e dos limites que a liberdade impõe.

O Papa Francisco fala constantemente do ideal de uma “cultura do encontro”, que desperte nas pessoas a dimensão da abertura do coração, da quebra do egoísmo e do cuidado. Assim, creio que o problema seria o uso desses canais de comunicação de forma exclusiva. Por outro lado, como fruto da evolução tecnológica, tais ferramentas devem ser um instrumento que conduza para as verdadeiras relações humanas, baseadas no encontro.



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