Como podemos compreender e viver o amor de Deus? Como o cristão interpreta o mandamento do amor? Podemos começar respondendo a partir do maior e mais antigo mandamento do Antigo Testamento; “Ama teu próximo como a ti mesmo”. Será que é só um mandamento do Antigo Testamento? Não é também um mandamento de Jesus? Este mandamento encontra-se exatamente em Lv 19,18b, no Código de Santidade; mas também é um mandamento de Jesus.
Para compreender o mandamento do amor, na Bíblia, não se pode pensar em apenas sentimento, porque ele deve ser demonstrado por meio de atos.
Em Levítico 19,17-18 – o mandamento do amor – estes dois versículos ensinam sobre a convivência humana. E os verbos que mais chamam a atenção são: amar e odiar.
O primeiro proíbe os Israelitas odiarem seus irmãos. Mas vale questionar: é possível proibir sentimentos? Contudo, será que o termo odiar, no Levítico, significa sentimento? Para nossa surpresa, não. O versículo 17 não fala de sentimento, pois o ser humano hebraico não sente com o coração. O coração é lugar do pensamento, da razão e da vontade, (cf. Gn 6,5 e 8,21). O coração é o órgão com o qual se planeja e projeta
Assim, quando Lv 17 diz “não odeies teu irmão em teu coração”, isso significa: não planeje nada de mal contra teu próximo. Pode-se dizer que não odiar tem o sentido de dar ao próximo a possibilidade de endireitar seu delito, de compensá-lo para assim restabelecer a justiça dentro da comunidade, de e prevenir-se contra uma sanção divina. Esse conceito faz paralelo com Mt 18,15-17 – recomenda-se à comunidade cristã admoestar um pecador em seu meio, para que ele possa voltar à comunhão da salvação.
Vejamos Lv 19,18: “não te vingarás e não guardarás rancor contra os filhos do teu povo. Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou Iahweh”. Este versículo diz: “proíbe exercer vingança e guardar rancor contra um compatriota”. É uma recomendação para ajudar o outro na adversidade.
Se em Levítico 19,18, o Mandamento do Amor é voltado apenas para o irmão, o membro do próprio povo, em Lv 19,33-34 o amor se estendee também ao migrante. “Ame o estrangeiro, pois foste um estrangeiro na terra do Egito”, diz o Senhor. Assim, cumprindo o mandamento do amo, estrangeiros devem ser amados como alguém ama a si mesmo.
E como podemos entender o Mandamento no Novo Testamento?
Encontramos o grande Mandamento do Amor narrado por Jesus em Mc 12,29-31. O primeiro é: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu pensamento e com toda a tua força. Eis o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há mandamento maior do que esses”. Para Jesus são mandamentos inseparáveis.
Ao narrar o primeiro Mandamento Jesus está citando Dt 6,5: Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com todo o teu ser, com todas as tuas forças.
O amor a Deus em primeiro lugar, que encontra sua expressão prática na atitude de o ser humano obedecer aos mandamentos, ser fiel às prescrições. Também o encontramos citado em Deuteronômio 10,12 nos dizendo que cumprir o Mandamento do amor é: temer ao Senhor, andar em seus caminhos e servi-lo.
O segundo Mandamento de Jesus é: “amar ao próximo como a si mesmo”. Tanto o mandamento veterotestamentário do amor quanto o neotestamentário diz ‘amar como a ti mesmo’. Amar a si mesmo significaria, antes de tudo, preocupar-se com a preservação do corpo e da vida, cuidar de si.
A parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37), que em Lucas prolonga o diálogo de Jesus com o doutor da lei sobre os dois mandamentos, o amor a Deus e ao próximo, tematiza o mandamento do amor. Quem é meu próximo? É aquele que me ajuda e aquele que precisa de minha ajuda. Amor é elemento essencial da religião.
Deus recomenda a mim o próximo. Jesus, ao interpretar a lei, coloca no centro a pessoa humana. Ele chama todos a assumir responsabilidades pelo bem do próximo. Essa é a ótica do ensinamento de Cristo. Cumprir o Mandamento do Amor, porque ele nos capacitou a amar.
Que continuemos seguindo esse Mandamento a cada dia, renovando-o em cada celebração Eucarística, na certeza do Novo que vem e nos traz a esperança de sempre encontrá-lo nos sinais da história, no rosto dos irmãos, nos apelos dos que sofrem e que buscam a libertação.
Neuza Silveira de Souza
Comissão Arquidiocesana Bíblico-Catequética de Belo Horizonte