O arcebispo emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires, faleceu aos 98 anos, na noite desse domingo, dia 27, após sentir-se mal em Belo Horizonte (MG).
Dom José nasceu em 15 de março de 1919, no distrito de Córregos, que pertence a Conceição do Mato Dentro (MG). Tinha 70 anos de ordenação sacerdotal e 60 anos de episcopado. Filho de Eleutério Augusto Pires e Pedrelina Maria de Jesus, entrou para o seminário em Diamantina (MG), aos 12 anos de idade. Foi ordenado sacerdote em 20 de dezembro de 1941, e recebeu a ordenação episcopal em 22 de setembro de 1957. Seu lema episcopal: Scientiam Salutis (A Ciência da Salvação).
Sua trajetória foi marcada pela defesa dos negros, dos pobres e dos oprimidos. O bispo mais antigo (em ordenação episcopal) do Brasil, foi bispo de Araçuaí, membro da Comissão Central da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), presidente da Comissão Episcopal Regional do Nordeste, escritor e um dos poucos sacerdotes que participaram do Concílio Vaticano II. Também se posicionou com firmeza ao lado dos que lutavam pelo fim da ditadura, mas sem perder a singular capacidade que tinha de dialogar com aqueles a quem claramente se opunha.
Dom José Maria Pires residia na Arquidiocese de Belo Horizonte há mais de 20 anos.
O arcebispo dom Walmor, os bispos auxiliares, sacerdotes, religiosos e todo o povo de Deus da Arquidiocese de Belo Horizonte se unem em oração aos familiares e amigos de Dom José Maria Pires, o Dom Pelé, como era carinhosamente chamado.
Dom Walmor agradeceu pela presença exemplar, solidária e simples de dom José Maria Pires: “Quero, de modo muito especial, agradecer a Deus por dom José Maria Pires na vida da Igreja. Bem sabemos da importância de sua presença, do seu testemunho e da sua luta pela defesa dos valores democráticos, pela justiça, pela paz e pela verdade. Agradecemos por dom José Maria Pires em Minas Gerais, um mineiro que honrou as raízes da sua cultura e da sua gente do Vale do Jequitinhonha. E, de modo especial, agradecemos por mais de duas décadas de dom José Maria Pires na Arquidiocese de Belo Horizonte: sua presença foi sempre exemplar. Corajoso, disponível, indo às comunidades, se encontrando com os jovens, sendo presença nas paróquias, alimentando o coração de padres, sendo presença com a beleza do seu exemplo. Somos gratos a dom José, ele está agora na casa do pai“.
O Arcebispo agradeceu a dom José Maria Pires também “pela sua amizade, por seu testemunho evangélico, por seu trabalho evangelizador e missionário, por sua presença amiga, nos ensinando a nunca ter preconceitos e a superar todo tipo de discriminação pela força da simplicidade evangélica. No coração de Deus está dom José Maria Pires, também no coração da Igreja e no coração de cada um de nós”.
Ouça abaixo a mensagem de dom Walmor completa:
O velório de Dom José Maria Pires está sendo realizado nesta segunda-feira, dia 28 de agosto, na Paróquia Nossa Senhora das Dores – Rua Silva Jardim, 100 – bairro Floresta, em Belo Horizonte, com Celebração Eucarística às 12h, presidida pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo.
O corpo de dom José Maria Pires deve chegar à Paraíba no início da madrugada da terça-feira, às 1h55, no Aeroporto Castro Pinto, na Região Metropolitana de João Pessoa. De lá, tem início cortejo em carro aberto até a Catedral de Nossa Senhora das Neves, no Centro de João Pessoa, onde terá início o velório. Às 16h do dia 29 de agosto, terça-feira, será celebrada Missa, seguida do sepultamento.
Caminhada eclesial
Formado em Teologia e Filosofia pelo Seminário de Diamantina (MG), foi pároco de Açucena (MG), 1943-1946; diretor do Colégio Ibituruna em Governador Valadares (MG), 1946-1953; missionário diocesano, 1953-1955; e pároco de Curvelo (MG), 1956-1957. Atuou como bispo em Araçuaí (MG), 1957-1965. Arcebispo da Paraíba, de 1966 a 1995. Foi também membro da Comissão Central da CNBB e Presidente da Comissão Episcopal Regional-NE2.
Dom José foi o quarto Arcebispo da Paraíba. Participou do Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965. Transferido para João Pessoa (PB), em 1965, ficou mais próximo de dom Helder Câmara, um aliado na luta pelos direitos humanos. Teve participação valiosa nos conflitos pela terra na Paraíba, ao defender camponeses.
Participante ativo da luta pelos direitos dos negros, em 2013, publicou o livro “A cultura religiosa afro-brasileira e seu impacto na cultura universitária”. Tornou-se emérito e voltou a ser pároco de Córregos e Santo Antônio do Norte, no Vale do Jequitinhonha, desde 1995, onde se dedicou também a um projeto de geração de renda para centenas de famílias carentes dessa região. Residia na Arquidiocese de Belo Horizonte há mais de 20 anos.