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Natal – uma festa de Interação fé e vida

Falar sobre interação fé e vida  é  buscar na ação catequética a mútua influência entre o anúncio da boa nova e as formulações envolvendo a fé e a vida concreta dos catequizandos.  A fé é considerada luz que ilumina e dá sentido à vida, portanto, entre fé e vida, assim como entre mim e Cristo deve haver integração.

Percorrendo o caminho proposto da Catequese Renovada, encontramos como chave de leitura de todo o documento essa interação com a vida. A catequese, preocupada com o ser humano, desenvolveu sua dimensão antropológica, voltada para os  interlocutores, sujeitos da ação, e os toma em sua situação concreta. Assim, apresenta na primeira parte  do documento que desde o início a catequese foi uma iniciação à fé e à vida da comunidade. Na segunda parte da Catequese Renovada esse princípio é exposto com mais profundidade e na terceira parte apresenta os temas fundamentais para uma catequese  renovada: propõe a ligação entre fé e vida, bem como, as formulações da fé e da caminhada.  Finalmente, a quarta parte do documento consiste em mostrar o crescimento da fé de uma comunidade à medida em que ela caminha em sintonia com esse processo de interação fé e vida.

A partir da compreensão desse modelo de catequese,  pode-se realizar  uma interação, ou seja, um  relacionamento mútuo e eficaz entre a experiência de vida e a formulação da fé, entre a vivência atual e o dado da Tradição. Para uma verdadeira catequese não basta planejar um bom andamento de um conjunto de temas, mas de promover a integração da caminhada da comunidade cristã com a mensagem evangélica.

Mais do que um  modelo ou  método, trata-se de um princípio. Diz-nos W. Gruen que interação não é só questão de método; é princípio orientador de todo o processo catequético.  Nesse sentido o documento Catequese Renovada propõe, para a educação da fé, o mesmo princípio, ou  a mesma pedagogia de interação entre a Palavra de Deus e a vida das pessoas.

Falar do princípio de interação fé e vida, para além da motivação pastoral e pedagógica, ela traz consigo as motivações teológicas. A teologia da revelação nos mostra que a auto-comunicação de Deus aos homens, por condescendência do próprio Deus, realizou-se por dentro da vivência humana, pessoal e comunitária do povo de Israel e dos primeiros cristãos. A própria pessoa do Verbo de Deus, para realizar o desígnio da salvação, encarnou-se, tomou forma humana, assumiu a nossa história

Compreendendo o sentido da encarnação: O Verbo encarnou-se e assumiu a nossa história, podemos compreender que:

•    Da  parte de Deus, ele manifesta hoje, como na revelação bíblica, bem por dentro de nossa realidade, de nossa vida. Essa compreensão nos leva a refletir que a Palavra de Deus anunciada hoje, na catequese, também deve estar bem por dentro da nossa história. O fundamento para descobrir a presença de Deus agindo hoje em  nossa história é sempre revelação divina contida na Bíblia e lida não só com o coração da Igreja (CR 86),  mas também  a partir da existência (CR 176).

•    Da parte do homem significa que a fé, uma vez aceita como resposta à Palavra de Deus, deve iluminar a vida e, à sua luz, devem ser resolvidos os problemas existenciais tanto em nível pessoal quanto social, ou seja, deve ser uma fé transformadora.
Uma fé transformadora porque a catequese possibilita uma interação entre  a fé a vida que leva a um relacionamento eficaz e produtivo. A força da Palavra de Deus e da fé, diante das realidades pessoais e sociais produz frutos de crescimento pessoal e comunitário, individual e social. Nesse sentido ocorrerá uma verdadeira experiência de Deus.

Falando de “Encarnação”, mistério da nossa fé, nos faz olhar para o hoje do nosso chão, da nossa realidade e de bem  nos prepararmos para a espera daquele que “veio, vem e virá para sempre em nossos corações, o Jesus que é o mesmo de ontem, hoje e sempre (Hb 13,8).

O grande desinteresse que se percebe hoje, do homem sobre Deus, causa dano à apresentação de Jesus Cristo, porque arrancada da terra mãe de Deus, torna-se impossível conhecer e penetrar seu mistério.

Que neste ano, e cada ano vindouro, possamos celebrar a festa do nascimento de Cristo em Belém da Judéia, no dia 25 de dezembro, uma festa que faz parte do nosso calendário cristão desde  os anos 336 e que vem suplantar  o culto ao sol, símbolo da luta pagã contra o cristianismo. Ajudando os fiéis a saírem dessas celebrações  idolátricas, a Igreja de Roma deu a estas festas pagãs um significado diferente, apresentando uma temática bíblica e mostrando aos cristãos o nascimento do verdadeiro sol  que é Cristo que apareceu com sua luz brilhante para iluminar o mundo e nos ensinar a viver no Reino de Deus. Encarnou-se  e nos remiu de todo o pecado do mundo.

O evento da sua encarnação e do seu nascimento, é “manifestação”, é “Palavra” que se torna mais clara e articulada hoje com a sua própria explicação e significado da sua vinda na história e o envio do Espírito. Quando esse mistério se torna a nós conhecido e comunicado, Deus cura o mundo através de seu Filho.

Com a participação ativa nas celebrações do Natal vamos constituindo o tempo da atuação das promessas feitas. Compreendendo o que nos é revelado no natal, esse Deus
que se faz um de nós e nos convocam a amar a todos assim como ele nos ama, precisamos tomar atitudes, renascer para novo jeito de amar, de acolher, de olhar para as realidades presentes e colaborar para que aconteça o amor, a justiça e a solidariedade entre todos.

Este é o sentido de celebrar o natal. A cada ano, ajustar a nossa vida à proposta de Jesus. Fazer uma avaliação da caminhada de fé e retomar o caminho. Que como Maria, possamos dizer: “A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu salvador” (Lc 1,47)

Assim, desejamos que neste Natal Jesus nasça no coração de todas as pessoas. Ele que se aproxima de nós na mansidão de uma criança, também se aconchega no coração das  crianças, dos jovens,  futuro da nossa Igreja, e de toda a humanidade. Basta dizer SIM.

Que o natal seja verdadeiramente uma data, uma festa para comemorarmos o aniversário da presença constante de Jesus nos nossos corações. Ele é merecedor de toda nossa honra e glória. Que possamos a cada dia deixá-lo se manifestar através de nossas atitudes e ações. Vamos brindar com o aniversariante e se alegrar com ele unindo-nos uns aos outros, acolhendo e partilhando vidas.

Fortalecidos no Espírito missionário, sejamos todos anunciadores de sua mensagem.


Neuza Silveira de Souza

Coordenadora da Comissão Arquidiocesana

Bíblico-Catequética de Belo Horizonte

Fonte: AUGUSTO BERGAMINI. Cristo, Festa da Igreja.
LUIZ ALVES DE LIMA:  Interação fé e vida. In: Dicionário de Catequética.



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