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Muquifu apresenta a vida e a obra da primeira escritora brasileira abolicionista

Maria Firmina dos Reis, autora do primeiro romance abolicionista escrito por uma afrodescendente brasileira, publicado em 1859, é o tema do “Chá da Dona Jovem”, promovido pelo Museu de Quilombos e Favelas (Muquifu). O evento será  no dia 21 e julho, às 20h, na Rua Santo Antônio do Monte, 708 – Vila Estrela, bairro Santo Antônio.

O Muquifu, que tem se tornado importante espaço da difusão do pensamento da mulher negra no Brasil, receberá  o pesquisador e professor emérito da UFMG, prof. dr. Eduardo de Assis Duarte para apresentar parte de seus estudos sobre o tema.

 

As pessoas que desejarem participar podem comparecer no dia e hora do evento, pois não é preciso se inscrever com antecedência.

O desafio de transpor a barreira do preconceito

Maria Firmina dos Reis nasceu na Ilha de São Luís, no Maranhão, em 11 de outubro de 1825. Foi registrada como filha de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Mulata, bastarda, era prima do escritor maranhense Francisco Sotero dos Reis por parte da mãe. Em 1830, mudou-se com a família para a Vila de São José de Guimarães, no continente, município de Viamão (MA). Viveu parte de sua vida na casa de uma tia materna mais bem situada economicamente. Em 1847, concorreu à cadeira de Instrução Primária naquela localidade e, sendo aprovada, ali mesmo exerceu a profissão, como professora de primeiras letras, de 1847 a 1881.

Mulata e bastarda, enfrentou a barreira dos preconceitos e publicou, em 1859, o romance Úrsula, considerado o primeiro romance abolicionista do Brasil e um dos primeiros escritos produzidos por uma mulher brasileira.

Nessa obra Maria Firmina descreve o sofrimento e a humilhação vividos pelos escravos nos navios negreiros: “Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no porão, fomos amarrados em pé e, para que não houvesse receio de revolta, acorrentados como animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa.”

Em 1887, Maria Firmina escreveu também um conto sobre o mesmo tema, “A Escrava”. Em 1871, publicou a coletânea de poesias Cantos à beira-mar. Também colaborava com jornais literários .

O espírito vanguardista da professora e escritora deixou suas marcas na educação. Em 1880, fundou uma escola gratuita e mista, para meninos e meninas, o que causou escândalo no povoado de Maçaricó, em São José de Guimarães.  A escola teve que ser fechada em menos de três anos.

 

Ah! Não Posso
 
Se uma frase se pudesse
Do meu peito destacar;
Uma frase misteriosa
Como o gemido do mar,
Em noite erma, e saudosa,
De meigo, e doce luar.

Ah! se pudesse!… mas muda
Sou, por lei, que me impõe Deus!
Essa frase maga encerra,
Resume os afetos meus;
Exprime o gozo dos anjos,
Extremos puros dos céus.

Entretanto, ela é meu sonho,
Meu ideal inda é ela;
Menos a vida eu amara
Embora fosse ela bela.
Como rubro diamante,
Sob finíssima tela.

Se dizê-la é meu empenho,
Reprimi-la é meu dever:
Se se escapar dos meus lábios,
Oh! Deus, – fazei-me morrer!
Que eu pronunciando-a não posso
Mais sobre a terra viver.

Maria Firmina dos Reis



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