Neste último domingo concluiu-se o Sínodo das Famílias. Um longo caminho traçado pelo Papa Francisco com o intuito de reaver o cuidado pastoral mais eficiente nas Igrejas Locais. As problemáticas que envolvem as famílias são inúmeras e de ordens muito diversas. É sabido, no entanto, que mesmo sem esgotar os temas relativos à família ao âmbito da comunhão aos divorciados em segundas núpcias (como o próprio Papa pediu), trata-se de um assunto de grande significado para a Igreja. Tal questão, conforme abordada no Documento Final do Sínodo, nos números 84 e 85, mais precisamente, deixa clara a importância e o valor legal e pastoral de um Diretório como o nosso no que significa o acompanhamento gentil, honesto e atento de cada caso. Sobre esse assunto voltaremos noutro artigo, mas ele serve agora para exemplificar o significado do Diretório, sobretudo quando o Papa insiste para que o Sínodo se desdobre nas Dioceses.
Em sua Mensagem Final Francisco, numa espécie de balanço do encontro sinodal nos diz que
E vimos também – sem entrar nas questões dogmáticas, bem definidas pelo Magistério da Igreja – que aquilo que parece normal para um bispo de um continente, pode resultar estranho, quase um escândalo, para o bispo doutro continente; aquilo que se considera violação de um direito numa sociedade, pode ser preceito óbvio e intocável noutra; aquilo que para alguns é liberdade de consciência, para outros pode ser só confusão. Na realidade, as culturas são muito diferentes entre si e cada princípio geral, se quiser ser observado e aplicado, precisa de ser inculturado.1
Numa Igreja Particular, um Diretório Pastoral que versa sobre a vida litúrgico-sacramental não tem outro objetivo senão oportunizar que o Evangelho ilumine, de fato, a história das pessoas. Não se trata de “negociar” a doutrina ou criar exceções, mas de estabelecer os parâmetros para uma experiência do Mistério de Cristo sempre mais de acordo com o coração de Deus, em conformidade com Aquele que, além de fonte da doutrina, é o Autor de nossa fé, como bem o afirma a Carta aos Hebreus: “Conservemos os nossos olhos fixos em Jesus, poie é por meio dele que a nossa fé começa, e é ele quem a aperfeiçoa.”2 Nesse intuito, afirma o Papa Francisco ainda sobre o significado do Sínodo:
Significa que testemunhámos a todos que o Evangelho continua a ser, para a Igreja, a fonte viva de novidade eterna, contra aqueles que querem «endoutriná-lo» como pedras mortas para as jogar contra os outros. Significa também que espoliámos os corações fechados que, frequentemente, se escondem mesmo por detrás dos ensinamentos da Igreja ou das boas intenções para se sentar na cátedra de Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas.3
O Diretório Pastoral Litúrgico-Pastoral nasce no intuito de criar uma disciplina que corrija os equívocos quanto à aplicação excessivamente dura das leis litúrgicas no que se refere às celebrações e vivências sacramentais, sem descuidar, no entanto, daquilo que é inerente à própria Fé que os ritos tornam reais na vida do povo. Citando, ainda, a Carta aos Hebreus, o Diretório visa reanimar as mãos cansadas e fortalecer os joelhos enfraquecidos, para que “andem por caminhos aplainados, para que o pé aleijado não manque, mas seja curado.”4 No caso de nossa Arquidiocese isso deveria ficar ainda mais claro, uma vez que o lema de nosso Arcebispo é exatamente: “Curar os corações feridos”.
O Diretório Pastoral de nossa arquidiocese, portanto, quer ser a tradução generosa, fiel e palpável – conforme sua legítima história e costumes próprios, em comunhão com a Igreja Universal – do serviço que a Igreja foi convocada a prestar em favor da humanidade. Ainda na trilha das percepções de Francisco sobre o Sínodo, aplicadas aqui ao nosso contexto, o Diretório ressalta que
os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão. Isto não significa de forma alguma diminuir a importância das fórmulas, das leis e dos mandamentos divinos, mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus, que não nos trata segundo os nossos méritos nem segundo as nossas obras, mas unicamente segundo a generosidade sem limites da sua Misericórdia (cf. Rm 3, 21-30; Sal 129/130; Lc 11, 37-54). Significa vencer as tentações constantes do irmão mais velho (cf. Lc 15, 25-32) e dos trabalhadores invejosos (cf. Mt 20, 1-16). Antes, significa valorizar ainda mais as leis e os mandamentos, criados para o homem e não vice-versa (cf. Mc 2, 27.)5
Com esta chave – somente com ela – nosso Diretório poderá ser lido, interpretado, compreendido, recebido e posto em prática
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1Texto integral disponível em : http://pt.radiovaticana.va/news/2015/10/24/s%C3%ADnodo_a_mensagem_final_do_papa_francisco_-_texto_integral/1181861. Acessado no dia 28 de outubro de 2015.
2 Hb 12,2.
3 Mensagem Final do Papa Francisco. http://pt.radiovaticana.va/news/2015/10/24/s%C3%ADnodo_a_mensagem_final_do_papa_francisco_-_texto_integral/1181861. Acessado dia 28 de outubro de 2015.
4 Hb 12,12-13.
5 Mensagem Final do Papa Francisco. http://pt.radiovaticana.va/news/2015/10/24/s%C3%ADnodo_a_mensagem_final_do_papa_francisco_-_texto_integral/1181861.