O exercício da liderança precisa ser uma ação colegiada. No passado, era célebre a frase: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Hoje, podemos dizer: “Quem não sabe servir de forma colegiada, não serve para servir”. Em tempos de Francisco é bom que aprendamos que nosso serviço na Igreja não pode ser para nós manutenção de status, até porque só podemos entender nossa ação, se ela for em prol dos outros. Do contrário, poderemos chamar de tudo, menos de ação missionária, pois o missionário anuncia o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e não as próprias convicções.
Quando isso ocorre, em muitas realidades institucionais, é recorrente o fato de que, na ausência da verdadeira liderança, formem-se pequenos focos de líderes, apoiados por seguidores fiéis. Porém, são lideranças efêmeras que se sentem ameaçadas quando surge a real liderança. Sendo assim, a primeira atitude é a rejeição e o passo subsequente, a busca das imperfeições do líder para que, assim, se mantenham no poder e afastem a possibilidade de perderem “seu lugar”. Um posto que, na verdade, nunca lhes pertenceu, a não ser na ilusão de uma pseudo idéia de liderança.
| Se queremos servir devemos nos qualificar e nos abrir para uma ação colegiada. De outro modo, estaremos fadados a desqualificarmos nosso trabalho e, consequentemente, nossa instituição |
A conduta mais propriada para esses grupos seria a de se aproximarem do lider e participarem da colegialidade da ação. Um modelo que tem sua eficácia reconhecida pelas grandes instituições do mundo. Cada vez mais, elas preparam os administradores para o exercício da liderança colegiada. Afinal, contar com pessoas competentes nos cargos administrativos, é garantir a presença no mercado, com qualidade.
Colegializar a administração e as decisões é o grande segredo do bom líder. E o maior líder da história, Jesus Cristo, agia assim. É o que observamos em muitas de suas ações, como por exemplo, ao delegar a administração do dinheiro do grupo dos apóstolos a Judas. Algo que pode parecer contraditório, por saber que ele o trairia, mas, ao contrário do que poderia se esperar, deixou-o no cargo para dar o exemplo do quanto se deve apostar nas possibilidades de conversão.
Com um perfil diametralmente oposto ao de Judas, Pedro correspondeu à confiança depositada nele pelo Mestre de tornar-se pescador de homens. Embora num momento de fraqueza o tenha negado, perseverou na missão de liderar o grupo que, após a Ressurreição de Cristo, anunciaria a Boa Nova do Evangelho a todas as nações. E o fez segundo o ensinamento do Mestre: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos.” (Mc 10,42-44). Nesta passagem do Evangelho de Marcos, é possível perceber que se queremos servir devemos nos qualificar e nos abrir para uma ação colegiada. De outro modo, estaremos fadados a desqualificar nosso trabalho e, consequentemente, nossa instituição. Servir bem significa servir com alguém, sem apego aos cargos, à própria vida e às ideologias.
| Quem começa a servir ao Senhor, o mínimo que pode oferecer-lhe é a própria vida |
Santa Teresa, carmelita descalça da cidade espanhola de Ávila, já nos idos anos 1500 ensinava a suas religiosas: “Quem começa a servir ao Senhor, o mínimo que pode oferecer-lhe é a própria vida”. Santa tereza de Ávila conseguiu entender que o serviço é algo livre e, oferecer-se para o trabalho, sobretudo, na Igreja, exige verdadeira disponibilidade e decidida adesão ao projeto, sem pretensões.
Exercer liderança qualificada é praticar a colegialidade, dessa forma, nossa missão se realiza com qualidade e eficácia, porque o trabalho será feito com a participação de outras pessoas. Contudo, para que isso aconteça é necessário vencer o desejo de liderar sem medida, para liderar na medida.
Pe. Jorge Alves Filho
Pároco da Paróquia Maria Serva do Senhor
