Hoje, 25 de janeiro, celebramos a “Conversão” do Apóstolo Paulo, coluna da Igreja, o Apóstolo das nações pela graça de Deus (Gl 1,15). Com ele, podemos reaprender algumas preciosas lições.
Na passagem do Livro dos Atos dos Apóstolos, encontramos o discurso de Paulo dirigido aos responsáveis pela Igreja de Éfeso, um “discurso de adeus”: Assim como Jesus, o Divino Mestre, quando na iminência da Sua partida, reúne os discípulos, recorda o que fez e disse, confia aos Seus o cuidado da comunidade e o prolongamento da Sua missão. Adverte-os dos perigos que os ameaçam, convida-os a vigiar e perseverar (At 20,17-38).
Vemos a incansável e intensa atividade missionária de Paulo, traduzida em serviço e dom da própria vida, na total pertença a Deus, entrega incondicional de sua existência, por amor ao Senhor.
O adeus de Paulo aos presbíteros e responsáveis pela Igreja, que ele gerou para a fé, é como seu testamento espiritual e pastoral, cheio de ternura e recomendações, de esperanças e temor. Assim, “começa a etapa final da terceira viagem de Paulo. A exemplo das anteriores, também esta se fecha com discurso. Na primeira viagem, o discurso foi aos judeus (Atos 13, 16-41). Na segunda, aos pagãos (Atos 17, 23-31). Nesta terceira, o discurso se dirige às lideranças, aqui representadas pelos anciãos da Igreja de Éfeso. É uma despedida que faz memória e apresenta um testemunho de vida.
O Apóstolo olha o momento presente, afirmando que não sabe o que espera por ele em Jerusalém. Por fim, prepara sua substituição. Dá as últimas instruções e relembra aos anciãos que ‘eles foram colocados pelo Espírito Santo como guardiães do rebanho’. Entre as recomendações, destaca-se não cobiçar nada de ninguém, dar testemunho verdadeiro e ajudar os fracos. Lucas relembra aos líderes cristãos das comunidades de sua época que eles são os sucessores de Paulo e devem levar adiante a missão dos Apóstolos” (1)
Com o Apóstolo, aprendemos que servir ao Senhor exige doação total, exclusiva, incondicional e contínua, em fidelidade constante, por isso é uma fonte de liberdade. Sua atividade revela que sua missão não foi opção pessoal, mas fruto de uma eleição da comunidade, da confiança que vem do próprio Senhor, como ele mesmo afirma – “a missão que recebi do Senhor” (v.24).
Realizando sua missão com gratuidade, pôde exortar os anciãos a evangelizar com total desinteresse material, como ele mesmo o fez, e assim ficassem livres para anunciar o Evangelho e serem solidários com os pobres (vv. 34-35):
– “A fidelidade ao Evangelho e o desinteresse escrupuloso são a melhor defesa dos Pastores da Igreja contra todas as intrigas dos que os perturbam” (vv. 29-31). (2)
Deste modo, algumas exigências estão presentes na vida dos discípulos missionários do Senhor:
– Coragem para enfrentar as provações e tribulações, assim como Jesus o fez (cf. Jo 13, 18-27);
– Viver o ministério apostólico, que não tem êxito garantido, no sentido de que não está imune ao sacrifício, e até mesmo ao martírio;
– Ter consciência de que é possível que haja desertores e quem o renegue, assim como o próprio Senhor teve em Seu grupo um que O traiu e alguns que desertaram, em fuga, no momento crucial, no momento da prova, do flagelo e da morte na Cruz;
– Ter humilde confiança em que por mais que tenhamos feito é ainda nunca o bastante pelo que Deus fez e faz, por Amor, em favor de todos nós; confiando plenamente no justo Julgamento que será feito por Jesus;
– Viver a missão que Deus nos confia tem uma motivação Trinitária: a missão vem do Espírito e diz respeito à Igreja, que Deus Pai conquistou pelo Sangue do Seu Filho;
– Viver uma relação profunda de comunhão, amor e ternura com a comunidade que lhe foi confiada em permanente atitude de vigilância:
“Em tudo lhes mostrei que, trabalhando assim, é preciso ajudar os fracos, recordando as Palavras do Senhor Jesus que disse: ‘Há mais felicidade em dar do que em receber’. Tendo dito isso, Paulo ajoelhou-se com todos eles e rezou. Todos então começaram a chorar muito. E, lançando-se ao pescoço de Paulo, o beijavam. Estavam muito tristes, sobretudo porque lhes havia dito que nunca mais veriam a sua face. E o acompanharam até o navio.” (vv. 35 -38)
– Ser vigilante para não se fragilizar diante das dificuldades, coragem para suportar os momentos e acontecimentos adversos, ventos contrários, e confiança na Palavra de Deus, precisam estar sempre presentes, inseparavelmente, na vida dos discípulos missionários.
Podemos também fazer nossa parte, com a ação e presença do Espírito Santo que nos foi enviado para que suportemos as provações, incompreensões e dificuldades na evangelização, a exemplo do Apóstolo Paulo e de tantos outros, por amor ao Senhor, empenhados na construção do Reino de Deus.
Oremos:
“Vinde Espírito Santo, enchei o coração dos Vossos fiéis, e acendei neles o fogo do Vosso amor…”
Dom Otacilio Ferreira de Lacerda
Bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte
Notas:
(1) Nova Bíblia Pastoral – Editora Paulus – 2013 – nota p.1353.
(2) Lecionário Comentado – Editora Paulus – Lisboa – 2011 – p. 631