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Lições da Copa

Nada melhor que um dia após o outro. Para uns foi um sonho, para outros um pesadelo. Assistir à maior goleada sofrida na história pela seleção Brasileira é sempre meio dolorido. Mas não estou aqui pra falar disso. Argentina também se foi, a copa acabou. O futebol internacional envolve muitas forças que a grandíssima maioria das pessoas desconhece, inclusive quem aqui escreve. Por isso mesmo, todo envolvimento emocional deve ser crítico, sobretudo na formação das crianças.

Lição 1: o futebol em si. Ah, a ginga brasileira desapareceu após a Copa das Confederações! Onde está a alegria dos dribles, as artimanhas, a leveza? O jogo se joga jogando. Houve equívocos na convocação dos jogadores. Imaginem um jogador que, na semifinal contra Alemanha, enquanto esteve em campo não acertou sequer um passe! Ou outro que rodou durante noventa minutos sem ver a cor da bola! Como convocar? Penso que deve ser convocado jogador que está numa fase excelente e respeitada em time vencedor, jogador com experiência em outras copas, jogador que conhece esquemas táticos contemporâneos. Convocar é ouvir os pares, é dialogar! Um técnico não é um comandante apenas, mas um articulador inteligente, levando a campo o que o País tem de melhor. Aí, digo que a seleção 2014 está longe de ser uma SELEÇÃO. Foi sim um ajuntamento desinteligente e meio arrogante. É preciso planejar daqui pra frente.

Lição número 2: uma cultura em desenvolvimento. Perguntaram-me o que achava da queda do viaduto sobre a Av. Pedro I. Ao que respondi: a perícia de um lado, nossa cultura política do outro. À perícia se deve perguntar: que tipo de aço foi usado? Quais as garantias do projeto? Quem supervisionou a execução? Como se fez a fundação? E o tipo de material? Não saberia dizer nada. À cultura política (como nossa cultura em geral), é preciso reconhecer que aquilo que é público parece não ser de ninguém, quando na verdade é de todos. E a prestação de contas?  Os recursos? O mesmo se diga dos estádios. A lógica que informa o triste episódio, que resultou na morte de duas pessoas jovens, é a mesma que informa a organização brasileira do futebol. A CBF, cartolas, patrocinadores…. Uma lógica episódica de quem está à frente naquele momento. Lembram-se das prefeituras depredadas na passagem do poder nas últimas eleições municipais? Uma lógica episódica que manda e desmanda à custa de trocados bem graúdos. Nossa cultura é muito jovem e tem muito que aprender com outros povos. Abrir-se ao intercâmbio e descartar a ideia de que Brasil é o melhor país do mundo. Nossa cultura é de uma criatividade como nenhuma outra! Mas não basta criatividade sem leis efetivas, sem projetos e planejamento. Ah, diga-se ainda: prestação de contas e retorno à sociedade. É preciso comprometimento com nossa cultura através de um sadio processo educacional em todas as dimensões. É preciso usar o nosso trunfo visto em todos os cantos do País: o brasileiro é amistoso.

Cada jogo é um jogo Cada copa é uma copa Que fique o aprendizado e o compromisso com o presente e o futuro

Lição número 3: o lado sério do Brasil. Durante a Copa, foram presas pessoas de várias nacionalidades: francês (quem diria?), australiano, colombianos, argelinos, etc… Foi descoberta a máfia dos ingressos. O Brasil demonstrou seu lado legal em pleno desenvolvimento democrático. Porém, ao lado dessa perspectiva bonita de seriedade, houve taxistas enganando turistas, pequenos roubos, e abusos. É preciso crescer sempre mais na democracia jurídica. E aqui gostaria de acenar que a Reforma Política é urgente e possível.

Lição número 4: nossa alegria. A alegria do povo brasileiro contagiou o mundo. As músicas, a disponibilidade, bares enfeitados e cheios de alegria, o acolhimento. Não fora o vexame da semifinal, esta teria sido a Copa da Alegria. É preciso cultivar o convívio e o respeito a todos os povos. A atitude amistosa dos brasileiros é algo incomparável. Mesmo após o vexame contra a Alemanha, ria-se por toda parte, sem perder a dor da derrota. A alegria é uma força positiva que descortina horizontes de superação, do bem e da paz.

Muitas outras lições se poderiam retirar da Copa, por exemplo, o lado político da coisa. Dizia-se que a Presidente em exercício havia comprado a Copa. Sem entrar nessa discussão, trata-se apenas de uma tentativa de usar politicamente o analfabetismo político do nosso povo. Sem dizer daquilo que ainda pode ser usado! Não posso deixar de mencionar outra lição: o futebol desenvolve em outras partes do Globo. Ver a Argélia com organização e garra, o Chile aguerrido e leve, o futebol alegre da Colômbia, a Bélgica compacta. Enfim, não há hegemonia no futebol, mas organização e criatividade.

Cada jogo é um jogo. Cada copa é uma copa. Que fique o aprendizado e o compromisso com o presente e o futuro. Nosso Brasil tem muito que aprender. A derrota na semifinal é somente o reflexo da supremacia alemã em outras áreas. Organizar-se como povo, construir com dignidade nossa história.

 

Pe. Márcio Paiva
Paróquia Nossa Senhora de Nazaré



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