Hoje, dificilmente, vamos encontrar uma família que não tenha problema com as drogas. Elas estão bem mais perto de nós do que os pais e educadores querem acreditar. E todos se sentem impotentes diante da pergunta: O que fazer? O que fazer quando se descobre que um membro da família está usando drogas e anda fazendo coisas que ninguém esperava?
Ao perceber isso ou estando desconfiado, não entre em pânico. É hora de conversar francamente, sem agressividades ou acusações. Não se deve condenar quem está precisando de ajuda. Procure identificar o que o filho está procurando curar com a droga, e tente mostrar que existem outros recursos para tratar as suas inquietações.
Ronaldo Viana, pai de cinco filhos, especialista em drogas, numa entrevista de jornal, falou coisas que mostram uma visão mais madura do problema. “Se eu como pai acredito nos valores que passei para meu filho, devo ser capaz de mostrar para ele que tenho fé, que acredito em sua mudança. Devo fazer isso não chantageando, mas oferecendo meu amor, sem esperar que ele o retribua deixando de usar a droga. Meu amor deve ser exigente e definir limites, mas não ser um amor de barganha, que espera troco ou recompensa. A pessoa que está escravizada às drogas sabe que descumpriu um trato e sofre com isso. Ele tem consciência de que está fazendo seus familiares sofrerem e fica com sua autoestima arrasada, com raiva de si mesmo. Se eu, como pai, fico repetindo para meu filho que ele está usando drogas porque não me ama, vou aumentar o seu sofrimento, acabando de arrasar o seu amor próprio. Se eu for condicionar o amor pelo meu filho à sua abstinência da droga, vou viver amargurado, infeliz, e fazer com que ele perca a esperança em sua capacidade de mudar”.
“Meu amor deve ser exigente e definir limites, mas não é um amor de barganha, que espera troco ou recompensa” |
Tem que haver um amor exigente, mas paciente. Tão paciente quanto exigente. Amar de modo exigente, paciente e duradouro. Saber dialogar com muito amor. Aqui, como em qualquer lugar, a violência não resolve. Nem as ameaças. Principalmente aquelas que se fazem, mas não se cumprem. Também não resolve a tentativa de ignorar o problema. É preciso enfrentar para resolver.
O diálogo nesse caso é cheio de obstáculos. As pessoas têm atitudes de indiferença e total falta de responsabilidade, tomam a posição de defesa e se tornam agressivas. Fui convidado, uma vez, para testemunhar e ajudar a conversa de um pai com a sua filha adolescente, envolvida com droga e sexo. A menina falava de maneira atrevida e impertinente, usando uma linguagem chula e desrespeitosa, com o pai e com as pessoas ao redor. Uma situação como essa é um teste de paciência e de autodomínio para qualquer pessoa. É hora de fortalecer os laços afetivos e ter atitudes positivas que demonstrem respeito e amor. Mas não é fácil!
Em vez de se esconder e fugir, os pais devem procurar ajuda especializada, começando com os grupos de apoio, que não são somente para os dependentes, mas também para os familiares. Existe ampla bibliografia, uma quantidade grande de livros escritos com competência por estudiosos do assunto.
Recomendam-se muito os livros que propõem o amor exigente. Eles orientam e animam os pais a tomarem uma atitude inteligente, para levar os filhos dependentes a mudar o modo de agir, e procurar recursos eficazes para se curar. Não se deve buscar ajuda só quando o seu filho estiver muito mal e o lar desmoronando. Aceite o trabalho preventivo e de recuperação na comunidade onde você vive.
Padre Osvaldo Gonçalves, SSCC
Fundador da Comunidade Família de Caná
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