Este ano anuncia-se ser para a Igreja Católica um período voltado especialmente para o mundo dos jovens. A Campanha da Fraternidade lança tal tema para a Quaresma a prolongar-se ao longo do ano. No Rio, acontecerá em julho a Jornada Mundial da Juventude. A iniciativa criada por João Paulo II pretende aproximar os jovens do Papa, símbolo maior da Igreja. Os Jesuítas organizam para a mesma época a Jornada Magis, reunindo jovens do mundo inteiro que comungam com a espiritualidade inaciana. Começarão o Encontro em Salvador, farão depois missões pelo interior do Brasil para terminar no Rio de Janeiro às vésperas do início da JMJ.
A preocupação com os jovens é imprescindível para qualquer instituição que desempenha missão universal no espaço e no tempo. No espaço, porque os jovens simbolizam energia, entusiasmo, coragem. Sem tal vigor, as organizações mergulham na inércia e sonolência da rotina. Quantas congregações religiosas sofrem hoje da carência de jovens e por isso reina nelas a tristeza do ocaso.
A Igreja sentiu no apelo de Jesus de levar o Evangelho a todas as nações a importância de ir até a juventude para encontrar nela discípulos missionários que continuarão o processo de evangelização.
Não basta ser jovem biologicamente. Interessa que o seja no espírito criativo, de inciativas novas e de entusiasmo com sonhos de construir outro mundo diferente. |
Ameaça maior ainda vem por parte do tempo. O poeta latino Virgílio imortalizou a experiência da fluidez do tempo no verso em que diz que “neste interim o tempo foge sem volta, enquanto erramos, prisioneiros, de nosso amor”. Os analistas sociais relembram-nos continuamente que as instituições sofrem de tensão interna inexorável. Por um lado, vivem do carisma, da inspiração, do élan, do entusiasmo, que os jovens sabem insuflar. Por outro, lentamente se vestem de regras, normas, que as envelhecem. Se lhes faltam os jovens, o lado institucional afoga-lhes o carisma.
Basta olhar um pouco para certos países em que ontem o Cristianismo irradiava vida e enviava missionários pelo mundo afora. Hoje, nessas nações carentes de jovens, arrasta-se cansado e com olhos tristes para o fim. Só o salvará se de novo o vigor jovem lhe entrar pelas portas.
A Igreja do Brasil não se isenta de tal dialética. Carece de jovens para animar-se continuamente e prosseguir na caminhada de vida.
Insinua-se, porém, a conjunção adversativa de certo espírito pós-moderno a influenciar a juventude, não na direção utópica a que nos referimos, mas no envelhecimento precoce dos ideais pelo conformismo e presentismo agudo. Não basta ser jovem biologicamente. Interessa que o seja no espírito criativo, de inciativas novas e de entusiasmo com sonhos de construir outro mundo diferente. Assim se mostraram os jovens no Fórum Social Mundial ao forjar o slogan: “outro mundo é possível”. O mesmo vale para toda outra realidade social que eles enfrentem. É possível ser ela diferente, renovada, cheia de vida. Nesse sentido, pensa-se a Campanha da Fraternidade. Acordar os jovens no interior da Igreja e da sociedade para revigorá-las com presença criativa e entusiasta. A juventude só avança se se sentir-se açulada por ideais maiores e se se despojar do germe corroente do desânimo, do desencanto, da acomodação com o presente.
Pe. João Batista Libanio, SJ
professor da Faculdade Jesuíta
de Filosofia e Teologia(FAJE)