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Jovens católicos e o desafio da evangelização

 

Há visível corte cultural entre duas gerações de jovens com que a pastoral católica se confronta. As análises descritivas apontam diversos sinais de diferença. Vão desde o modo de vestir, de falar, de relacionar-se com os pais, mestres e adultos até o imaginário que os assalta e domina. Na brevidade da presente reflexão não cabe assinalar a longa série de elementos de diferença. Vamos nos deter em três deles: a posição no seio da família, a descoberta explosiva da própria autonomia e a imersão no mundo midiático.

Sem levar a sério esses pontos, a pastoral se perderá em conselhos piedosos e ineficientes. Não está em jogo primeiramente o aspecto religioso, nem mesmo a fé, mas a situação existencial anterior e que permeia todas as relações dos jovens.

Alguns traços marcam a diferença no interior da família: poucos irmãos ou nenhum, menor presença dos pais e mais casa que lar. As famílias numerosas que sustentavam as vocações no interno da Igreja, quer para sacerdotes e religiosos, quer para leigos engajados, reduzem-se cada vez a menos filhos. Esses, por sua vez, se veem absorvidos pelas atividades da idade, escola ou lazer. A Igreja deixou de ser espaço privilegiado da vida dos jovens para reduzir-se a algumas celebrações esporádicas, sem constância e continuidade.

 

A força da tradição sobre a consciência dos jovens tende a ceder espaço para a descoberta da própria autonomia. Esta, por sua vez, identifica-se com a busca da satisfação individual. A visão cristã bate-se em cheio contra este traço da cultura atual

Em algumas paróquias, as primeiras eucaristias e as crismas ainda reúnem grupos consideráveis de crianças e jovens, mas que desaparecem logo depois de cumprido o rito. Tem-se prolongado o tempo de preparação para garantir melhor formação e assim esperar maior perseverança. Até o momento, não se percebe nenhum resultado significativo.

A inconstância na prática religiosa remonta a outras raízes. Esbarramos na falta de vínculos consistentes entre filhos e pais, por a família ter perdido coesão, tempo de convivência. Tem-se transformado para muitos filhos jovens mais em casa material de proteção – comida, cama, roupa lavada e liberdade sexual – do que em família onde se discutem, elaboram os problemas da vida. E a prática religiosa constitui-se um desses problemas básicos que já não se trabalham no interior da família. E fora dela torna-se difícil criar convicções religiosas.

O segundo elemento avulta. A força exterior da tradição sobre a consciência e liberdade dos jovens tende a ceder espaço para a descoberta da própria autonomia. Esta, por sua vez, identifica-se com o gosto, o prazer, a busca da satisfação individual. A visão cristã bate-se de cheio contra este traço da cultura atual. Por isso, cada vez menos jovens se engajam nessa direção e se deixam envolver pelo contínuo fluir dos próprios gostos. Jean-Claude Guillebaud cunhou para traduzir tal tendência a pesada expressão: Tirania do Prazer [Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999]. Difícil trabalhar pastoralmente junto a jovens dominados por tal tirania.

Uma palavrinha final sobre o peso do mundo midiático sobre a geração jovem. Tema que merece maior aprofundamento na linha do tipo de conteúdo que os assedia continuamente. Cria-se novo hábito de pensar e agir. A fantasia vê-se povoada de imagens provocantes. Os aparelhos de som e o tocar dos celulares ocupam o ouvido. Sobra pouca energia para outra atividade que o encaminhe para uma reflexão sobre a fé. Tal quadro parece pessimista. Mas sem considerá-lo, trabalha-se em vão. Dentro de cada uma das coordenadas indicadas cabe pensar novos meios de evangelizar.

Pe. João Batista Libanio, SJ
Professor da Faculdade Jesuíta de
Teologia e Filosofia (FAJE)



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