O Concílio Vaticano II foi fortemente animado pelo desejo de levar os cristãos a compreender a grandeza da fé e a beleza do encontro com Cristo. Por esse motivo, era necessário, antes de mais nada, promover renovações tanto no Processo Catequético, quanto na Liturgia. Assim, os padres conciliares elegeram como ponto central a formação “litúrgica e catequética” dos fiéis, propiciando o crescimento no conhecimento do grande dom que Deus nos concedeu: A Eucaristia.
Toda a Igreja voltada para a vivência do Processo de Inspiração Catecumenal tenha o olhar para a Iniciação à Vida Cristã com as lentes da unidade e fraternidade. Não é somente pensar nossa relação e interação entre igrejas e comunidades eclesiais, mas também em olhar para nossa experiência de Deus, vivida e partilhada na comunidade de fé, vivenciando a excelência do mistério Pascal e renovando sempre sua própria conversão, deixando-se conduzir pelos apelos do Espírito Santo. O Mistério de Cristo no qual somos iniciados é um Mistério de unidade.
O Itinerário da Iniciação à vida Cristã Nos conduz para a vivência do Mistério da vida do Cristo. É constituído de várias etapas, que nos conduzem aos “tempos” de informação e amadurecimento da fé. Além desse tempo, há “etapas” ou “passos”, pelos quais os catecúmenos (os não batizados) necessitam caminhar. É como atravessar uma porta ou subir um degrau. Assim diz o RICA: Ritual de Iniciação Cristã dos adultos.
A Iniciação à vida cristã também é oferecida aos catequizandos, aqueles que já foram batizados e necessitam receber os demais sacramentos da Crisma e Eucaristia. Também aos que já receberam os sacramentos, mas necessitam de um aprofundamento da fé, ou seja, amadurecer na fé.
Antes de adentramos nos passos e construção dos Ritos do Catecumenato, vamos conversar um pouco sobre a importância da Bíblia e da liturgia em nossa vida de Cristãos. Hoje falaremos sobre a Bíblia.
Na catequese, procuramos critérios para o uso da Bíblia a serviço da educação de uma fé engajada. As circunstâncias locais hão de inspirar adaptações apropriadas a cada realidade. Dois objetivos gerais se impõem no uso da Bíblia pela catequese: formar comunidade de fé e alimentar a identidade cristã.
A Bíblia é fonte de Catequese porque tem em seu centro a história da salvação. É uma inspiração para encontrarmos o caminho certo de acordo com o plano de salvação de Deus. Para trabalhar com a Bíblia na Catequese é preciso saber usá-la dentro do contexto atual da vida, levando a um compromisso pessoal, comunitário e social.
Por ocasião do mês da Bíblia, o bispo de Querétaro, Dom Mario de Gasperín Gasperín, biblista reconhecido, escreveu um “Decálogo para ler a Bíblia com proveito”, que compartilhamos a seguir, por considerá-lo de interesse geral e nos ajuda a aproveitar bem o uso da mesma na catequese e realizar uma boa leitura.
Decálogo para ler a Bíblia com proveito
1. Nunca achar que somos os primeiros que leram a Santa Escritura. Muitos, muitíssimos, através dos séculos, a leram, meditaram, viveram e transmitiram. Os melhores intérpretes da Bíblia são os santos.
2. A Escritura é o livro da comunidade eclesial. Nossa leitura, ainda que seja em solidão, jamais poderá ser solitária. Para lê-la com proveito, é preciso inserir-se na grande corrente eclesial que é conduzida e guiada pelo Espírito Santo.
3. A Bíblia é “Alguém”. Por isso, é lida e celebrada ao mesmo tempo. A melhor leitura da Bíblia é a que se faz na Liturgia.
4. O centro da Sagrada Escritura é Cristo; por isso, tudo deve ser lido sob o olhar de Cristo e buscando n’Ele seu cumprimento. Cristo é a chave interpretativa da Sagrada Escritura.
5. Nunca esquecer de que na Bíblia encontramos fatos e frases, obras e palavras intimamente unidas umas às outras; a Palavra anuncia e ilumina os fatos, e os fatos realizam e confirmam a Palavra.
6. Uma maneira prática e proveitosa de ler a Escritura é começar com os Santos Evangelhos, continuar com os Atos dos Apóstolos e Cartas e ir misturando com algum livro do Antigo Testamento: Gênesis, Êxodo, Juízes, Samuel etc. Não querer ler o livro do Levítico de uma só vez, por exemplo. Os Salmos devem ser o livro de oração dos grupos bíblicos. Os profetas são a “alma” do Antigo Testamento: é preciso dedicar-lhes um estudo especial.
7. A Bíblia é conquistada como a cidade de Jericó: “dando voltas”. Por isso, é bom ler os lugares paralelos. É um método interessante e muito proveitoso. Um texto esclarece o outro, segundo o que diz Santo Agostinho: “O Antigo Testamento fica patente no Novo e o Novo está latente no Antigo”.
8. A Bíblia deve ser lida e meditada com o mesmo espírito com que foi escrita. O Espírito Santo é o seu principal autor e intérprete. É preciso invocá-lo sempre antes de começar a lê-la e, no final, agradecer-lhe.
9. A Santa Bíblia nunca deve ser utilizada para criticar e condenar os demais.
10. Todo texto bíblico tem um contexto histórico em que se originou e um contexto literário em que foi escrito. Um texto bíblico, fora do seu contexto histórico e literário, é um pretexto para manipular a Palavra de Deus. Isso é tomar o nome de Deus em vão.
A Bíblia na catequese é instrumento para aprender a caminhada do povo. A catequista deve conhecer a Bíblia, não tanto para ensinar a Bíblia (curso bíblico), mas para viver da Bíblia (história, fé, moral, acontecimentos) como instrumento catequético e para agir de acordo com a vontade de Deus. Ser mulheres e homens bíblicos.
A Bíblia não é ponto de chegada, mas ponto de partida. É cristalização da memória vivida, logo, é a mínima expressão da experiência. Ela é palavra de Deus em linguagem Humana; Nela temos o plano de salvação de Deus e a resposta da humanidade.
Diz o Papa Francisco em uma de suas homilias catequéticas: A Palavra de Deus percorre um caminho dentro de nós. Escutamo-la com os ouvidos e ela passa para o coração; não permanece nos ouvidos, mas deve chegar ao coração; e do coração às mãos, às boas obras. Eis o percurso da Palavra de Deus: dos ouvidos ao coração e às mãos. Aprendamos estas coisas.
Neuza Silveira de Souza- Secretariado Arquidiocesano
Bíblico-Catequético de Belo Horizonte