O fechamento, ainda que parcial, das instituições de memória vai além das questões relativas às intervenções físicas entre o acervo e o público. Ou seja, ainda que estas instituições tenham, em sua maioria, adotado outras formas para realizar suas atividades e se comunicar com o público, existem grandes dificuldades em predizer os efeitos da quarentena imposta pela crise sanitária causada pela covid-19[1].
De acordo com as pesquisas realizadas pela Unesco e pelo ICOM – Conselho Internacional de Museus, 90% das instituições museológicas e centros de memória tiveram suas atividades suspensas e aproximadamente 13% correm o risco de não retornarem. Isto é, além dos orçamentos limitados para a manutenção de seus acervos e equipe de trabalho, os centros de memória passam, agora, por outros desafios. Nesse sentido, afim de manter suas atividades em funcionamento, as grandes manobras de gestão dessas instituições estão voltadas para as novas formas de interação com o público, focando, principalmente em ações virtuais.
Acerca do funcionamento interno dessas instituições, no que tange à conservação de acervos, o ICOM coordenou o desenvolvimento de uma carta de recomendações[2] que auxilia na criação de rotinas e protocolos nas mais distintas áreas de conservação preventiva. É notória a preocupação do ICOM com os impactos da pandemia sobre o funcionamento das instituições museológicas, e por esse motivo está previsto, também, o lançamento de outro material de referência direcionado à área educativa.
Inaugurado em abril de 2010, o Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte opera, desde então, na proteção e preservação dos bens culturais da Igreja. Devido à pandemia do novo coronavírus, infelizmente, tivemos que suspender as atividades realizadas presencialmente. No entanto, as ações internas, ainda que em formato diminuto, estão sendo realizadas e desenvolvidas. Continuamos atuando na proteção dos bens culturais religiosos, inventariando e catalogando o acervo sacro, atuando na promoção de bens imateriais e preservando o patrimônio cultural religioso.
Umas das ações ligada às atividades do Memorial é a atuação do setor educativo da Capela Curial São Francisco de Assis. Criado para estimular a apropriação e reconhecimento identitário da comunidade belorizontina, o setor educativo da Capela da Pampulha, atua, diretamente, junto aos visitantes, proporcionando, além da fruição artística, diálogos constantes entre os sujeitos e o patrimônio cultural. E entre os meses de outubro de 2019 e fevereiro de 2020, foram 24.845 visitantes, dos mais diversos públicos, recebidos.
Atualmente, estamos acompanhando as discussões promovidas no âmbito cultural através das plataformas digitais, trabalhando na criação de uma cartilha informativa, que trará os temas mais requisitados pelo público sobre a Capela Curial São Francisco. O objetivo é que este material seja disponibilizado na web, e acessível gratuitamente. Essa ação surgiu de encontros formativos do educativo, entre os educadores, quando foram debatidos meios eficazes de divulgação e promoção do patrimônio enquanto lugar de memória. A ideia surgiu, exatamente, com o novo cenário da pandemia mundial e o esperado é que a cartilha digital proporcione a imersão dos personagens sociais, ainda que distantes fisicamente, junto ao patrimônio cultural.
A primeira edição da cartilha terá a própria Capela Curial como destaque, mas, o projeto pretende abranger todos os equipamentos culturais e arquitetônicos da Pampulha. Desse modo, descortina-se ideias que viabilizam ações mais integradoras, atualmente, necessárias para a experimentação contemporânea da cultura.
Rayane Soares Rosário – Museóloga do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte
Luciana da Silva Araújo – Historiadora do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte
Matheus Rafael Gonçalves – Estagiário de História
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[1] Como se trata de um assunto de escala pública nacional, a recomendação é que sejam acompanhadas de perto as informações do governo federal https://coronaviru s.saude.gov.br, e para informações locais, procure a referência no seu estado e município.
[2] O Comitê Brasileiro do ICOM – mais conhecido pela sigla ICOM Brasil – divulgou, no dia 14 de abril do presente ano, o documento RECOMENDAÇÕES DO ICOM BRASIL EM RELAÇÃO À COVID 19. O documento pode ser acessado no seguinte link: http://www.icom.org.br/wp-content/uploads/2020/04/RECOMENDA- COES_CONSERVACAO_15_ABRIL_FIN-AL-1.pdf